Irmãos
e irmãs.
A
Solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar a mistério que se
esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”; mas é um convite a contemplar o
Deus que é amor, que é comunidade e que criou homens e mulheres para os fazer
comungar nesse mistério de amor.
A
primeira leitura sugere-nos a contemplação do Deus criador. A sua bondade e o
seu amor estão inscritos e manifestam-se na beleza e na harmonia das obras criadas,
Jesus Cristo é “sabedoria” de Deus e o grande revelador do amor do Pai.
A
“sabedoria” tem origem em Deus, ela é a primeira das obras de Deus. Assim, a “sabedoria”
tem origem em Javé, está em íntima relação com Deus e se destina a homens e
mulheres, em sua relação e contato com Deus. Através dessa realidade criada que
a “sabedoria” viu nascer, ela mexe com a nossa inteligência, leva-nos a Deus,
atrai- nos para Deus. A “sabedoria”, presente desde sempre na criação, revela-nos
a grandeza e o amor do Deus criador.
A
segunda leitura convida-nos a contemplar o Deus que nos ama e que, por isso,
nos “justifica”, de forma gratuita e incondicional. É através do Filho que os
dons de Deus/Pai se derramam sobre nós e nos oferecem a vida em plenitude.
Aos
homens e mulheres é pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma
graça que não depende dos seus méritos e que se entregue completamente nas mãos
de Deus; objeto da graça de Deus é uma nova criatura: ressuscitado (a) para a
vida nova, que vive do Espírito, que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo.
O
Evangelho convoca-nos, outra vez, para contemplar o amor do Pai, que se
manifesta na doação e na entrega do Filho e que continua a acompanhar a nossa
caminhada histórica através do Espírito. A meta final desta “história de amor”
é a nossa inserção plena na comunhão com o Deus/amor, com o Deus/família, com o
Deus/comunidade. Portanto, o tema fundamental desta leitura tem a ver com a
ajuda do Espírito aos discípulos em caminhada pelo mundo.
Jesus
começa por dizer aos discípulos que há muitas outras coisas que eles não podem
compreender de momento. Será o “Espírito da verdade” que guiará os discípulos
para a verdade, que comunicará tudo o que ouvir a Jesus e que interpretará o
que está para vir. Isto significa que Jesus não revelou tudo o que havia para
revelar ou que a sua proposta de salvação/libertação ficou incompleta?
De
forma nenhuma. As palavras de Jesus acerca da ação do Espírito referem-se ao
tempo da existência cristã no mundo, ao tempo que vai desde a morte de Jesus
até à “parusia”. Como será possível aos discípulos, no tempo da Igreja,
continuar a captar, na fé, a Palavra de Jesus e a guiar a vida por ela? A
resposta de Jesus é: “pelo Espírito da verdade, que fará com que a minha
proposta continue a ecoar todos os dias na vida da comunidade e no coração de
cada pessoa; além disso, o Espírito ensinar-vos-á a entender a nova ordem que
se segue à cruz e à ressurreição e a discernir, a partir das circunstâncias
concretas diante das quais a vida vos vai colocar, como proceder para continuar
fiel às minhas propostas”. O Espírito não apresentará uma doutrina nova, mas
fará com que a Palavra de Jesus seja sempre a referência da comunidade em
caminhada pelo mundo e que essa comunidade saiba aplicar a cada circunstância
nova que a vida apresentar, a proposta de Jesus.
Aonde
irá o Espírito buscar essa verdade que vai transmitir continuamente aos
discípulos? A resposta é: ao próprio Jesus - “receberá do que é meu e vo-lo anunciará”.
Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia com os discípulos,
comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. Tal é a função do Espírito: realizar
a comunhão entre Jesus e os discípulos em marcha pela história. A última expressão
deste texto sublinha a comunhão existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão
atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus
e tornado realidade na vida da Igreja, por ação do Espírito.
Na
alegria da Santíssima Trindade, O Pai é pura Paternidade, o filho é pura
Filiação e o Espírito Santo, puro nexo de Amor. São relações que em virtude de
seu impulso vital, saem um ao encontro do outro em perfeita comunhão, onde a
totalidade da Pessoa está aberta à outra distintamente. Este é o paradigma
supremo da sinceridade e liberdade espiritual a que devem ter as relações
interpessoais humanas, num perfeito modelo transcendente, só assim,
compreensível ao entendimento humano. É desta forma que devemos conhecer a
mensagem a Santíssima Trindade, mesmo sem alcançar os segredos do seu mistério.
Desta maneira, devemos nos comprometer a adquirir certas atitudes nas nossas
relações humanas. A Igreja nos convida a “glorificar a Santíssima Trindade”,
como manifestação da celebração. Não há melhor forma de fazê-lo, senão
revisitando as relações com nossos irmãos, para melhorá-las e assim viver a
unidade querida por Jesus: “Que todos sejam um”. Assim seja! Amém.
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