domingo, 12 de maio de 2013

Ascensão de Jesus - consciência da missão


Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, a Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos sugere que, no final do caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, a comunhão com Deus. Sugere ainda que Jesus nos deixou o testemunho e que somos nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projeto libertador de Deus para os homens e para o mundo.

Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projeto do Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus - a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo "caminho" que Jesus percorreu. Quanto aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante; mas têm de ir para o meio dos homens continuar o projeto de Jesus.
Depois da apresentação inicial, vem o tema da despedida de Jesus. O autor começa por fazer referência aos "quarenta dias" que mediaram entre a ressurreição e a ascensão, durante os quais Jesus falou aos discípulos "a respeito do Reino de Deus". O número quarenta é, certamente, um número simbólico: é o número que define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.
As palavras de despedida de Jesus sublinham dois aspectos: a vinda do Espírito e o testemunho que os discípulos vão ser chamados a dar "até aos confins do mundo". O Espírito irá derramar-se sobre a comunidade crente e dará a força para testemunhar Jesus em todo o mundo, desde Jerusalém a Roma. A obra e o testemunho e a pregação da Igreja estão entroncados no próprio Jesus e são impulsionados pelo Espírito.

A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que foram chamados, a vida plena de comunhão com Deus. Devem caminhar ao encontro dessa "esperança" de mãos dadas com os irmãos - membros do mesmo "corpo" - e em comunhão com Cristo, a "cabeça" desse "corpo". Cristo reside no seu "corpo" que é a Igreja; e é nela que se torna hoje presente no meio dos homens.
Dizer que Cristo é a "cabeça" da Igreja significa, antes de mais, que os dois formam uma comunidade indissolúvel e que há entre os dois uma comunhão total de vida e de destino; significa também que Cristo é o centro à volta do qual o "corpo" se articula, a partir do qual e em direção ao qual o "corpo" cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse "corpo"; significa ainda que a Igreja/corpo está submetida à obediência a Cristo/cabeça: só de Cristo a Igreja depende e só a Ele deve obediência.
Dizer que a Igreja é a "plenitude" de Cristo significa dizer que nela reside a "plenitude", a "totalidade" de Cristo. Ela é o receptáculo, a habitação, onde Cristo Se torna presente no mundo; é através desse "corpo" onde reside, que Cristo continua todos os dias a realizar o seu projeto de salvação em favor dos homens. Presente nesse "corpo", Cristo enche o mundo e atrai a Si o universo inteiro, até que o próprio Cristo "seja tudo em todos".

No Evangelho, Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, ajuda-os a vencer o comodismo e envia-os em missão, como testemunhas do projeto de salvação de Deus. De junto do Pai, Jesus continuará a acompanhar os discípulos e, através deles, a oferecer aos homens a vida nova e definitiva.
A questão central abordada no nosso texto é a do papel dos discípulos no mundo, após a partida de Jesus ao encontro do Pai. O texto consta de três cenas: Jesus ressuscitado define a missão dos discípulos; Jesus parte ao encontro do Pai; os discípulos partem ao encontro do mundo, a fim de concretizar a missão que Jesus lhes confiou.
Na primeira cena, Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, acorda-os da letargia em que se tinham instalado e define a missão que, doravante, eles serão chamados a desempenhar no mundo.
A primeira nota do envio e do mandato que Jesus dá aos discípulos é a da universalidade da missão dos discípulos destina-se a "todo o mundo" e não deverá deter-se diante de barreiras rácicas, geográficas ou culturais. A proposta de salvação que Jesus fez e que os discípulos devem testemunhar destina-se a toda a terra. Depois, Jesus define o conteúdo do anúncio: o "Evangelho". O que é o "Evangelho"? No Antigo Testamento, a palavra "evangelho" está ligada à "boa notícia" da chegada da salvação para o Povo de Deus. Depois, na boca de Jesus, a palavra "Evangelho" designa o anúncio de que o "Reino de Deus" chegou à vida dos homens, trazendo-lhes a paz, a libertação, a felicidade. Para os catequistas das primeiras comunidades cristãs, o "Evangelho" é o anúncio de um acontecimento único, capital, fundamental: em Jesus Cristo, Deus veio ao encontro dos homens, manifestou-lhes o seu amor, inseriu-os na sua família, convidou-os a integrar a comunidade do Reino, ofereceu-lhes a vida definitiva. Tal é o único e exclusivo "evangelho", a "boa notícia" que muda o curso da história e que transforma o sentido e os horizontes da existência humana.
O anúncio do "Evangelho" obriga os homens a uma opção. Quem aderir à proposta que Jesus faz, chegará à vida plena e definitiva, "quem acreditar e for batizado será salvo"; mas quem recusar essa proposta, ficará à margem da salvação, "quem não acreditar será condenado".
O anúncio do Evangelho que os discípulos são chamados a fazer vai atingir não só os homens, mas "toda a criatura". Assim, a proposta de salvação que Deus apresenta destina-se a transformar o coração das pessoas, eliminando o egoísmo e a maldade. Ao transformar o coração, o "Evangelho" apresentado por Jesus e anunciado pelos discípulos vai propor uma nova relação da humanidade com todas as outras criaturas - uma relação não mais marcada pelo egoísmo e pela exploração, mas pelo respeito e pelo amor. Dessa forma, nascerá uma novo homem, uma nova mulher e uma nova natureza.
A presença da salvação de Deus no mundo tornar-se-á uma realidade através dos gestos dos discípulos de Jesus; comprometidos com Jesus, os discípulos vencerão a injustiça e a opressão. "expulsarão os demónios em meu nome", serão arautos da paz e do entendimento dos homens, "falarão novas línguas", levarão a esperança e a vida nova a todos os que sofrem e que são prisioneiros da doença e do sofrimento, "quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados"; e, em todos os momentos, Jesus estará com eles, ajudando-os a vencer as contrariedades e as oposições.
Na segunda cena, Jesus sobe ao céu e senta-Se à direita de Deus. A elevação de Jesus ao céu – ascensão - é uma forma de sugerir que, após o cumprimento da sua missão no meio de nós, Jesus foi ao encontro do Pai e reentrou na comunhão do Pai.
A entronização de Jesus "à direita de Deus" mostra, por sua vez, a veracidade da proposta de Jesus. Na concepção dos povos antigos, aquele que se sentava à direita de Deus era um personagem distinto, que o rei queria honrar de forma especial Jesus, porque cumpriu com total fidelidade o projeto de Deus, é honrado pelo Pai e sentado à sua direita. A proposta que Jesus apresentou, que os discípulos acolheram e que vão ser chamados a testemunhar no mundo, não é uma aventura sem sentido e sem saída, mas é o projeto de salvação que Deus quer oferecer a todos nós.
Na terceira cena, descreve-se resumidamente a ação missionária dos discípulos: eles partiram, quer dizer, deixaram para trás as seguranças e afetos humanos por causa da missão, a pregar, quer dizer, a anunciar com palavras e com gestos concretos essa vida nova que Deus ofereceu a homens e mulheres através de Jesus, por toda a parte, propondo a todos, sem exceção, a proposta salvadora de Deus. E os discípulos não estão sozinhos ao longo durante a missão; Jesus, vivo e ressuscitado, está com eles, coopera com eles e manifesta-Se ao mundo nas palavras e nos gestos dos discípulos.
A festa da Ascensão de Jesus é, sobretudo, o momento em que os discípulos tomam consciência da sua missão e do seu papel no mundo. A Igreja, a comunidade dos discípulos, reunida à volta de Jesus, animada pelo Espírito é, essencialmente, uma comunidade missionária, cuja missão é testemunhar no mundo a proposta de salvação e de libertação que Jesus veio trazer aos homens.

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