Irmãos e irmãs,
Neste
Santo Domingo, a Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos sugere
que, no final do caminho percorrido no amor e na doação, está a vida
definitiva, a comunhão com Deus. Sugere ainda que Jesus nos deixou o testemunho
e que somos nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projeto
libertador de Deus para os homens e para o mundo.
Na
primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de
ter apresentado ao mundo o projeto do Pai, entrou na vida definitiva da
comunhão com Deus - a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo
"caminho" que Jesus percorreu. Quanto aos discípulos: eles não podem
ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante; mas têm de ir para o meio
dos homens continuar o projeto de Jesus.
Depois
da apresentação inicial, vem o tema da despedida de Jesus. O autor começa por
fazer referência aos "quarenta dias" que mediaram entre a
ressurreição e a ascensão, durante os quais Jesus falou aos discípulos "a
respeito do Reino de Deus". O número quarenta é, certamente, um número
simbólico: é o número que define o tempo necessário para que um discípulo possa
aprender e repetir as lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo
simbólico de iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.
As
palavras de despedida de Jesus sublinham dois aspectos: a vinda do Espírito e o
testemunho que os discípulos vão ser chamados a dar "até aos confins do
mundo". O Espírito irá derramar-se sobre a comunidade crente e dará a
força para testemunhar Jesus em todo o mundo, desde Jerusalém a Roma. A obra e o
testemunho e a pregação da Igreja estão entroncados no próprio Jesus e são
impulsionados pelo Espírito.
A
segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que
foram chamados, a vida plena de comunhão com Deus. Devem caminhar ao encontro
dessa "esperança" de mãos dadas com os irmãos - membros do mesmo
"corpo" - e em comunhão com Cristo, a "cabeça" desse
"corpo". Cristo reside no seu "corpo" que é a Igreja; e é
nela que se torna hoje presente no meio dos homens.
Dizer
que Cristo é a "cabeça" da Igreja significa, antes de mais, que os
dois formam uma comunidade indissolúvel e que há entre os dois uma comunhão
total de vida e de destino; significa também que Cristo é o centro à volta do
qual o "corpo" se articula, a partir do qual e em direção ao qual o
"corpo" cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse
"corpo"; significa ainda que a Igreja/corpo está submetida à
obediência a Cristo/cabeça: só de Cristo a Igreja depende e só a Ele deve
obediência.
Dizer
que a Igreja é a "plenitude" de Cristo significa dizer que nela
reside a "plenitude", a "totalidade" de Cristo. Ela é o
receptáculo, a habitação, onde Cristo Se torna presente no mundo; é através
desse "corpo" onde reside, que Cristo continua todos os dias a
realizar o seu projeto de salvação em favor dos homens. Presente nesse
"corpo", Cristo enche o mundo e atrai a Si o universo inteiro, até
que o próprio Cristo "seja tudo em todos".
No
Evangelho, Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, ajuda-os a vencer o
comodismo e envia-os em missão, como testemunhas do projeto de salvação de
Deus. De junto do Pai, Jesus continuará a acompanhar os discípulos e, através
deles, a oferecer aos homens a vida nova e definitiva.
A
questão central abordada no nosso texto é a do papel dos discípulos no mundo,
após a partida de Jesus ao encontro do Pai. O texto consta de três cenas: Jesus
ressuscitado define a missão dos discípulos; Jesus parte ao encontro do Pai; os
discípulos partem ao encontro do mundo, a fim de concretizar a missão que Jesus
lhes confiou.
Na
primeira cena, Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, acorda-os da letargia
em que se tinham instalado e define a missão que, doravante, eles serão chamados
a desempenhar no mundo.
A
primeira nota do envio e do mandato que Jesus dá aos discípulos é a da
universalidade da missão dos discípulos destina-se a "todo o mundo" e
não deverá deter-se diante de barreiras rácicas, geográficas ou culturais. A
proposta de salvação que Jesus fez e que os discípulos devem testemunhar
destina-se a toda a terra. Depois, Jesus define o conteúdo do anúncio: o
"Evangelho". O que é o "Evangelho"? No Antigo Testamento, a
palavra "evangelho" está ligada à "boa notícia" da chegada
da salvação para o Povo de Deus. Depois, na boca de Jesus, a palavra
"Evangelho" designa o anúncio de que o "Reino de Deus"
chegou à vida dos homens, trazendo-lhes a paz, a libertação, a felicidade. Para
os catequistas das primeiras comunidades cristãs, o "Evangelho" é o
anúncio de um acontecimento único, capital, fundamental: em Jesus Cristo, Deus
veio ao encontro dos homens, manifestou-lhes o seu amor, inseriu-os na sua
família, convidou-os a integrar a comunidade do Reino, ofereceu-lhes a vida
definitiva. Tal é o único e exclusivo "evangelho", a "boa
notícia" que muda o curso da história e que transforma o sentido e os
horizontes da existência humana.
O
anúncio do "Evangelho" obriga os homens a uma opção. Quem aderir à
proposta que Jesus faz, chegará à vida plena e definitiva, "quem acreditar
e for batizado será salvo"; mas quem recusar essa proposta, ficará à
margem da salvação, "quem não acreditar será condenado".
O
anúncio do Evangelho que os discípulos são chamados a fazer vai atingir não só
os homens, mas "toda a criatura". Assim, a proposta de salvação que
Deus apresenta destina-se a transformar o coração das pessoas, eliminando o
egoísmo e a maldade. Ao transformar o coração, o "Evangelho"
apresentado por Jesus e anunciado pelos discípulos vai propor uma nova relação
da humanidade com todas as outras criaturas - uma relação não mais marcada pelo
egoísmo e pela exploração, mas pelo respeito e pelo amor. Dessa forma, nascerá
uma novo homem, uma nova mulher e uma nova natureza.
A
presença da salvação de Deus no mundo tornar-se-á uma realidade através dos gestos
dos discípulos de Jesus; comprometidos com Jesus, os discípulos vencerão a
injustiça e a opressão. "expulsarão os demónios em meu nome", serão
arautos da paz e do entendimento dos homens, "falarão novas línguas",
levarão a esperança e a vida nova a todos os que sofrem e que são prisioneiros
da doença e do sofrimento, "quando impuserem as mãos sobre os doentes,
eles ficarão curados"; e, em todos os momentos, Jesus estará com eles,
ajudando-os a vencer as contrariedades e as oposições.
Na
segunda cena, Jesus sobe ao céu e senta-Se à direita de Deus. A elevação de
Jesus ao céu – ascensão - é uma forma de sugerir que, após o cumprimento da sua
missão no meio de nós, Jesus foi ao encontro do Pai e reentrou na comunhão do
Pai.
A
entronização de Jesus "à direita de Deus" mostra, por sua vez, a
veracidade da proposta de Jesus. Na concepção dos povos antigos, aquele que se
sentava à direita de Deus era um personagem distinto, que o rei queria honrar
de forma especial Jesus, porque cumpriu com total fidelidade o projeto de Deus,
é honrado pelo Pai e sentado à sua direita. A proposta que Jesus apresentou,
que os discípulos acolheram e que vão ser chamados a testemunhar no mundo, não
é uma aventura sem sentido e sem saída, mas é o projeto de salvação que Deus
quer oferecer a todos nós.
Na
terceira cena, descreve-se resumidamente a ação missionária dos discípulos:
eles partiram, quer dizer, deixaram para trás as seguranças e afetos humanos
por causa da missão, a pregar, quer dizer, a anunciar com palavras e com gestos
concretos essa vida nova que Deus ofereceu a homens e mulheres através de
Jesus, por toda a parte, propondo a todos, sem exceção, a proposta salvadora de
Deus. E os discípulos não estão sozinhos ao longo durante a missão; Jesus, vivo
e ressuscitado, está com eles, coopera com eles e manifesta-Se ao mundo nas
palavras e nos gestos dos discípulos.
A
festa da Ascensão de Jesus é, sobretudo, o momento em que os discípulos tomam
consciência da sua missão e do seu papel no mundo. A Igreja, a comunidade dos
discípulos, reunida à volta de Jesus, animada pelo Espírito é, essencialmente,
uma comunidade missionária, cuja missão é testemunhar no mundo a proposta de
salvação e de libertação que Jesus veio trazer aos homens.
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