domingo, 28 de outubro de 2012

Jesus - cura de nossas cegueiras



Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo revela-nos a preocupação de Deus que alcancemos a vida verdadeira e aponta o caminho que é preciso seguir para atingir essa meta. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, homens e mulheres chegam à vida plena, aderindo a Jesus e acolhendo a proposta de salvação que Ele nos veio apresentar.

A primeira leitura afirma que, mesmo nos momentos mais dramáticos da caminhada histórica de Israel, quando o Povo parecia privado definitivamente de luz e de liberdade, Deus estava lá, preocupando-se em libertar o seu Povo e em conduzi-lo pela mão, com amor de pai, ao encontro da liberdade e da vida plena.
O cego e o coxo são figuras tradicionais ligadas ao tema do Êxodo, onde relembram a situação de necessidade e de carência em que os exilados jazem e, ao mesmo tempo, evocam a ação extraordinária de Deus no sentido de libertar o seu Povo dessa carência e dessa necessidade. Na imagem da mulher grávida e na da mulher que deu à luz, o profeta representa a dor e o sofrimento, mas também a fecundidade, a alegria, a esperança num futuro novo e cheio de vida. Javé vai oferecer ao seu Povo vida abundante e fecunda: "conduzi-Los-ei às torrentes de água".

A segunda leitura apresenta Jesus como o sumo-sacerdote que o Pai chamou e enviou ao mundo a fim de conduzir os homens à comunhão com Deus. Com esta apresentação, o autor deste texto sugere, antes de mais, o amor de Deus pelo seu Povo; e, em segundo lugar, pede aos crentes que "acreditem" em Jesus - isto é, que escutem atentamente as propostas que Ele veio fazer, que as acolham no coração e que as transformem em gestos concretos de vida.
No universo religioso judaico, o sumo-sacerdote ocupava o lugar primeiro na hierarquia do clero do Templo e, de alguma forma, presidia à instituição sacerdotal. Era ele o único a entrar, uma vez no ano, no lugar mais sagrado do Templo, no solene "Dia das Expiações", com o sangue de um animal imolado, para aspergir o "propiciatório" e conseguir o perdão de Deus para os pecados do Povo. Dessa forma, o sumo-sacerdote tornava-se o intermediário por excelência da relação entre os homens e Deus.
Na perspectiva do autor da Carta aos Hebreus, Jesus é o sumo-sacerdote por excelência, porque Ele foi chamado e destinado por Deus a esta missão; o fato de ser Filho de Deus dá ao seu sacerdócio uma categoria, uma dignidade e uma qualidade suprema, uma vez que o coloca em contato pessoal e íntimo com o Pai, dando dessa forma uma expressão mais completa a essa mediação que Ele é chamado a realizar entre Deus e a humanidade. De fato, Ele veio ao nosso encontro, mostrou-nos o amor do Pai, convidou-nos a eliminar o egoísmo e o pecado que nos afastavam da comunhão com Deus, chamou-nos a integrar a família de Deus e ensinou-nos o que fazer para sermos filhos de Deus.

No Evangelho, Marcos propõe-nos o caminho de Deus para libertar-nos das trevas e para fazê-lo nascer para a luz. Como Bartimeu, o cego, somos convidados a acolher a proposta que Jesus lhes veio trazer, a deixar decididamente a vida velha e a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Dessa forma, garante-nos Marcos, poderemos passar da escravidão à liberdade, da morte à vida.
É natural que Jesus tenha encontrado, quando saía de Jericó, um cego que mendigava junto da estrada... No entanto, à volta desse acontecimento, Marcos construiu uma catequese para nós. Quem é, na catequese de Marcos, este "cego" que Jesus encontra ao longo do caminho, quando se dirige para Jerusalém? Ele representa todos esses a quem a teologia oficial considerava pecadores, malditos, impuros, marginais, longe de Deus e da sua proposta de salvação.
O cego da nossa história está sentado à beira do caminho, provavelmente a pedir esmola. O estar sentado significa acomodação, instalação, conformismo. Ele está privado da luz e da liberdade e está conformado com a sua triste situação, sabendo que, por si só, é incapaz de sair dela. O pedir esmola indica a situação de escravidão e de dependência em que o homem se encontra.
Contudo, a passagem de Jesus de Nazaré dá ao cego a consciência da sua situação de miséria e de escravidão. Então, Bartimeu percebe o sem sentido da sua situação e sente a vontade de uma outra experiência. A passagem de Jesus na vida de alguém é sempre um momento de tomada de consciência, de questionamento, de desafio, que leva a pôr em causa a vida velha e a sentir o imperativo de ir mais além ... No entanto, Bartimeu está consciente da sua debilidade e sente que, sem a ajuda de Jesus, continuará envolvido pelas trevas da dependência, da escravidão ... Por isso, pede: "Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim". Portanto, Bartimeu vê em Jesus esse Messias libertador, que havia de vir não só para salvar Israel dos opressores, mas também para dar vida em plenitude a cada membro do Povo de Deus.
Antes de referir a intervenção de Jesus, Marcos dá conta da reação dos que estão à volta de Jesus: repreendiam o cego e queriam fazê-lo calar. Quando alguém encontra Jesus e resolve deixar a vida antiga para aderir ao Reino que Jesus veio propor, encontra sempre resistências. Estes que repreendem e mandam calar o cego representam, portanto, todos aqueles que colocam obstáculos a quem quer deixar a sua situação de miséria e de escravidão para aderir à proposta libertadora que Cristo faz. No entanto, a oposição não só não desarma o cego, como o leva a gritar ainda mais forte: "filho de David, tem misericórdia de mim"... A incompreensão ou a oposição dos homens nunca fazem desistir aquele que viu Jesus passar e que viu n'Ele uma proposta de vida e de liberdade.
Jesus parou e mandou chamar o cego. O chamamento é sempre, nestes casos, a tornar-se discípulo, a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Em resposta, o cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. O deixar fora a capa significa, portanto, o deixar tudo o que se possui para ir ao encontro de Jesus. É um corte radical com o passado, com a vida velha, com a anterior situação, com tudo aquilo em que se apostou anteriormente, a fim de começar uma vida nova ao lado de Jesus.
Jesus perguntou ao cego: "que queres que te faça?". Jesus responde a Bartimeu: "vai, a tua fé te salvou". A fé não é a simples adesão a determinadas verdades abstratas, é a adesão a Jesus e à sua proposta de salvação. Por isso, Marcos termina a sua história dizendo que o cego recuperou a vista e seguiu Jesus - isto é, fez-se discípulo de Jesus. Ao aderir a Jesus e à sua proposta de salvação, ao aceitar seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida, Bartimeu encontrou a salvação: deixou a vida da escuridão, da escravidão, da dependência em que estava e nasceu para essa vida verdadeira e eterna que, através de Jesus, Deus oferece a homens e mulheres. Bartimeu transforma-se e torna-se o protótipo do verdadeiro discípulo ... Destinatário privilegiado da proposta de salvação que Jesus traz, ele proclama sem hesitações a sua fé, invoca a ajuda e a misericórdia de Jesus, acolhe sem hesitações o chamamento que lhe é feito, liberta-se da vida velha e, com alegria, decisão e entusiasmo, aceita, sem condições, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. É com o Bartimeu que os discípulos de Jesus são convidados a identificar-se, para sermos guiados por Cristo - Jesus "filho de Davi", a luz de nossa fé, curando de nossas cegueiras. Assim seja! Amém.

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