domingo, 9 de setembro de 2012

Abre-te a nova criação: Jesus



Este Santo Domingo revela-nos mais uma vez um Deus comprometido com a vida e a felicidade, continuamente acreditando em renovar, em transformar, em recriar, de modo a fazê-lo atingir a vida plena.

A primeira leitura mostra que o Povo de Deus exilado na Babilónia, mostra-se abatido e incapaz de sair, por si só, da sua triste situação. Não tem perspectivas de futuro e não vê qualquer razão para ter esperança. Então, o profeta dirige-se aos exilados e anuncia-lhes a iminência da libertação.
Javé está prestes a vir ao encontro do seu Povo para libertar e para conduzi-lo à sua terra. Pois, Deus não esquece de seu Povo. E o encontro com o Deus libertador e salvador transformará o Povo, dar-lhe-á de novo a liberdade, a alegria, a coragem para enfrentar o caminho, a vida em abundância. Será uma peregrinação festiva, uma procissão solene, feita na alegria e na festa. Será um novo êxodo, onde se repetirão as maravilhas operadas pelo Deus libertador.

Na segunda leitura, Tiago dirige-se àqueles que acolheram a proposta de Jesus e se comprometeram a segui-l’O no caminho do amor, da partilha, da doação. Convida-os a não discriminar ou marginalizar qualquer irmão e a acolher com especial bondade os pequenos e os pobres. Pois, são os que mais necessitam de ser libertados e salvos; são os mais disponíveis para acolher o dom do reino. Não é que o reino de Deus seja uma opção de classe e que os ricos e poderosos não possam ter acesso ao reino; mas os ricos, os poderosos, com o coração cheio de orgulho e de auto-suficiência, não estão disponíveis para acolher a novidade revolucionária e libertadora do reino… São os “pobres”, na sua simplicidade, humildade e despojamento, na sua ânsia de libertação, que estão preparados para acolher o dom de Deus que se torna presente em Jesus e nos seu projeto.
Portanto, quem aderiu a Jesus Cristo e procura, com coerência, segui-l’O, tem de assumir os mesmos valores; por isso, não pode marginalizar ninguém ou aceitar qualquer sistema que crie discriminação. Desta forma, a comunidade cristã não pode acolher e tratar de forma diferente o rico e o pobre, aquele que é conhecido e famoso e aquele que é humilde e passa despercebido; todos são iguais e dignos de consideração e de respeito, ainda que desempenhem funções diferentes e serviços diversos. Para os seguidores de Jesus, a acepção de pessoas por razões ligadas à riqueza, ao poder, à fama, à posição social, é um esquema perverso, absolutamente incompatível com a fé em Cristo.

No Evangelho, Marcos revela-nos Jesus, cumprindo o mandato que o Pai Lhe confiou, abre os ouvidos e solta a língua de um surdo-mudo… No gesto de Jesus, revela-se esse Deus que não Se conforma quando o homem se fecha no egoísmo e na auto-suficiência, rejeitando o amor, a partilha, a comunhão. O encontro com Cristo leva o homem a sair do seu isolamento e a estabelecer laços familiares com Deus e com todos os irmãos.
Marcos descreve com detalhes, como Jesus curou o doente e lhe deu a possibilidade de comunicar. Desvela para nós a missão de Jesus e sobre o papel que Ele desenvolve no sentido de fazer nascer um Novo Homem e uma Nova Mulher. Se a linguagem é um meio privilegiado de comunicar, de estabelecer relação, o surdo-mudo é um homem que tem dificuldade em estabelecer laços, em partilhar, em dialogar, em comunicar.
Toadavia, num universo religioso que considera as enfermidades físicas como consequência do pecado, o surdo-mudo representa um “impuro”, um pecador, à margem da salvação, incapaz de estabelecer uma relação verdadeira com Deus, de escutar a Palavra de Deus e de viver de forma coerente com os desafios de Deus. Para Marcos, este surdo-mudo representa também todos aqueles que vivem fechados no seu mundo, na sua pobre auto-suficiência, de ouvidos fechados às propostas de Deus e de coração fechado à relação com os outros.  
Portanto, o encontro com Jesus transforma radicalmente a vida desse surdo-mudo. Jesus abre-lhe os ouvidos e solta-lhe a língua, tornando-o capaz de comunicar, de escutar, de falar, de partilhar, de entrar em comunhão. Para este surdo-mudo, Marcos apresenta a missão de Jesus, que veio para abrir os ouvidos e os corações dos homens, quer à Palavra e às propostas de Deus, quer à relação e ao diálogo com os outros. Jesus é efetivamente o Deus que veio ao encontro da humanidade, a fim de libertar das cadeias do egoísmo, do comodismo, da auto-suficiência, dos preconceitos religiosos que impedem a relação, o diálogo, a comunhão com Deus e com os outros.
No relato, aparentemente, não é o surdo-mudo que tem a iniciativa de se encontrar com Jesus: “trouxeram-Lhe um surdo que mal podia falar”; “suplicaram-Lhe que lhe impusesse as mãos sobre ele”. O surdo-mudo, acomodado a essa vida sem relação, não sente grande necessidade de abrir as janelas do seu coração ao encontro e comunhão com Deus e com os irmãos. É preciso que alguém o traga, que o apresente a Jesus, que o empurre para essa vida nova de amor e de comunhão. É esse o papel da comunidade cristã… Os que já descobriram Jesus, que se deixaram transformar pela sua Palavra, que aceitaram segui-l’O, devem dar testemunho dessa experiência e desafiar outros irmãos para o encontro libertador com Jesus.
Jesus com o surdo-mudo realiza gestos significativos: mete-lhe os dedos nos ouvidos, faz saliva e toca-lhe com ela a língua. Tocar com o dedo significava transmitir poder; a saliva transmitia, pensava-se, a própria força ou energia vital - equivale ao sopro de Deus que transformou o barro inerte do primeiro homem num ser dotado de vida divina. Assim, Jesus transmitiu ao surdo-mudo a sua própria energia vital, dotando-o da capacidade de ser um Homem Novo, aberto à comunhão e relação com Deus e com os outros. E o gesto de Jesus de levantar os olhos ao céu deve ser entendido como um gesto de invocação de Deus. Para Jesus, os grandes momentos de decisão e de testemunho são sempre antecedidos de um diálogo com o Pai. Dessa forma, torna-se evidente a ligação estreita entre Jesus e o Pai, entre a ação que Jesus cumpre no meio dos homens e os projetos do Pai, de salvação e vida nova para a humanidade.
Ainda, conforme Marcos, Jesus teria pronunciado a palavra “effathá” - “abre-te”, quando abriu os ouvidos e desatou a língua do surdo-mudo. Não se trata de uma palavra ou fórmula mágica, com poder curativo… É um convite para quem está fechado no seu mundo pessoal, a abrir o coração à vida nova da relação com Deus e com os irmãos. É um convite ao surdo-mudo a sair do seu fechamento, do seu comodismo, para fazer da sua vida uma história de comunhão com Deus e de partilha com os irmãos.
A transformação do surdo-mudo em Novo Homem não é um processo em que só Jesus age e onde o homem assume uma atitude de passividade; mas é um ação-reflexão que exige o compromisso ativo e livre do homem. Jesus faz as propostas, lança desafios, oferece o seu Espírito que transforma e renova o coração de homens e mulheres; mas temos que acolher a proposta, optar por Jesus e abrir o coração aos desafios de Deus. Neste sentido, a ação de Jesus no sentido de abrir o coração de homens e mulheres à comunhão com Deus e ao amor dos irmãos é uma nova criação. Dessa ação nasce um Novo Homem e uma Nova Mulher, uma nova humanidade. Essa nova humanidade é a “admirável” criação de Deus, o homem e mulher na plenitude das suas potencialidades, criado para a vida eterna e verdadeira – sementes e flores de vida nova - que recebe o convite: abre-te a nova criação - Jesus. Assim seja! Amém.
                                                              

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!