sábado, 18 de agosto de 2012

Clara de Assis: a coragem de uma mulher apaixonada



Todo ano, no dia 11 de agosto, a Igreja Católica celebra a memória de Santa Clara. Quem era essa mulher?
Há 800 anos, na noite do dia seguinte à festa de Domingos de Ramos, Clara de Assis, toda adornada, fugiu de casa para unir-se ao grupo de Francisco de Assis, na capelinha da Porciúncula, que ainda hoje existe. As Clarissas do mundo inteiro e toda a Família Franciscana celebram este acontecimento, que deu origem à fundação da Ordem de Santa Clara, hoje espalhada pelo mundo inteiro.
Clara, junto com Francisco, (nunca devemos separá-los, pois, de acordo com a bela legenda da época, haviam prometido, em seu puro amor, que “nunca mais se separariam”) representa uma das figuras mais luminosas da Cristandade. Por causa dela, há milhões de Claras e Maria Claras no mundo inteiro. Ela, de família nobre de Assis, dos Favarone, e ele, filho de um rico e afluente mercador de tecidos, dos Bernardone.
Com 16 anos de idade, quis conhecer o então já famoso Francisco, que tinha cerca de 30 anos. Bona, amiga íntima de Clara, conta, sob juramento, nas atas de canonização, que, entre 1210 e 1212, Clara “foi muitas vezes conversar com Francisco, secretamente, para não ser vista pelos  parentes e para evitar maledicências”. Destes dois anos de encontro nasceu grande fascínio um pelo outro. Como comenta um de seus melhores pesquisadores, o suíço Anton Rotzetter em seu livro "Clara de Assis: a primeira mulher franciscana" (Vozes 1994): “neles irrompeu o Eros no seu sentido mais próprio e profundo, pois, sem o Eros, nada existe que tenha valor, nem ciência, nem arte, nem religião; Eros que é a fascinação que impele o ser humano para o outro e que o liberta da prisão de si mesmo” (p. 63). Esse Eros fez com que ambos se amassem e se cuidassem mutuamente, mas numa transfiguração espiritual que impediu que se fechassem sobre si mesmos. Francisco afetuosamente a chamava de “minha plantinha”. Três paixões cultivaram juntos, ao longo de toda vida: a paixão pelo Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a paixão um pelo outro. Mas nesta ordem. Combinaram então a fuga de Clara, para unir-se ao seu grupo que queria viver o evangelho puro e simples.
A cena não tem nada a perder, em criatividade, ousadia e beleza, das melhores cenas de amor dos grandes romances ou filmes. Como poderia uma jovem rica e bela fugir de casa para se unir a um grupo parecido com os “hippies” de hoje? Pois assim é que devemos representar o movimento inicial de Francisco. Era um grupo de jovens ricos, que viviam em festas e serenatas, e que resolveram fazer uma opção de total despojamento e rigorosa pobreza, seguindo os passos de Jesus pobre. Não queriam fazer caridade para pobres, mas viver com eles e como eles. E o fizeram num espírito de grande jovialidade, sem sequer criticar a opulenta Igreja dos Papas.
Na noite do dia de 19 de março de 1212, Clara, escondida, fugiu de casa e chegou à Porciúncula. Entre luzes bruxoleantes, Francisco e os companheiros a receberam festivamente. E, em sinal de sua incorporação ao grupo, Francisco lhe cortou os belos cabelos louros. Em seguida, Clara foi vestida com as roupas dos pobres, não tingidas, mais um saco que um vestido. Depois da alegria e das muitas orações, Clara foi levada para dormir no convento das Beneditinas, a 4 km de Assis.
Dezesseis dias depois, sua irmã mais nova, Ines, também fugiu e se uniu a Clara. A família Favarone tentou, até com violência, retirar as filhas. Mas Clara se agarrou às toalhas do altar, mostrou a cabeça raspada e impediu que a levassem. O mesmo destemor mostrou quando o Papa Inocêncio III não quis aprovar o voto de pobreza absoluta. Lutou tanto até que o Papa enfim consentisse. Assim nasceu a Ordem das Clarissas.
O corpo de Clara, intacto depois de 800 anos, comprova, uma vez mais, que o amor é mais forte que a morte.

Leonardo Boff - Teólogo/Filósofo - em escritos em rede

Santa Clara! Peregrina do mundo, bendizendo o sol, bendizendo a lua.  
Voando com os pássaros, com os pássaros do céu voando… 
Clara, mistério de Deus, 
mostrai-nos sempre o amor de Francisco e de Jesus Cristo!”


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