Irmãos e irmãs,
Este
Santo Domingo recorda-nos que Deus atua no mundo através dos homens e mulheres
que Ele chama e envia como testemunhas do seu projeto de salvação. Esses
“enviados” devem ter como grande prioridade a fidelidade ao projeto de Deus e
não a defesa dos seus próprios interesses ou privilégios.
A
Primeira Leitura deste domingo nos ensina a missão do profeta. A gente não se
faz profeta: Deus é que chama, mesmo a quem aparentemente não está preparado:
por exemplo, Amós, que era pastor e agricultor. A iniciativa de ser profeta não
foi sua… Deus é que veio ao seu encontro, interrompeu a normalidade da sua vida
e convocou-o para a missão. Amós é profeta porque Deus irrompeu na sua vida com
uma força irresistível, tomou conta dele e enviou-o a Israel.
A
resposta de Amós deixa claro que o profeta é um homem livre, que não atua por
interesses humanos, próprios ou alheios, mas por mandato de Deus. Atuando com
total liberdade, face aos interesses do mundo e dos poderes instituídos, o
profeta não se deixa manipular pelos poderosos nem amordaçar pelos seus
próprios interesses pessoais. O profeta não está, portanto, preocupado com os
interesses do rei ou com os interesses do sacerdote Amasias, ou com a
perpetuação de uma ordem social injusta e opressora. Ele foi convocado para ser
a voz de Deus e só lhe interessa cumprir a missão que Deus lhe confiou, com
verdade e coerência – os projetos e os sonhos de Deus para o mundo.
A
Segunda Leitura da Carta de Paulo aos Efésios nos revela que Deus nos chamou à
santidade e à unidade em Cristo. Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira
e total para cada homem e para cada mulher – um projeto que desde sempre esteve
na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus
Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem
subterfúgios.
A
Carta nos apresenta o mistério da salvação, ela inicia com um hino de louvor,
que resume todo o agir de Deus no conceito de “bênção”. A ação de graças
dirige-se a Deus, pois, Ele é a fonte última de todas as graças concedidas aos
homens. Deus através de Cristo derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos
pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos
o seu projeto de salvação. Da ação redentora de Cristo nasceu, pois, um Novo
Homem e Nova Mulher, capazes de um novo tipo de relacionamento, marcado pelo
amor e pelo dom da vida, com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a
criação. Dessa forma, em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros
da salvação, marcados pelo “selo” do Espírito. Esse “selo” é a marca que atesta
a nossa integração na família divina e a garantia de que um dia participaremos
na vida eterna, plena e verdadeira, conforme o projeto de Deus preparado desde
toda a eternidade em nosso favor.
No
Evangelho, Jesus envia os discípulos em missão. Essa missão – que está no
prolongamento da própria missão de Jesus – consiste em anunciar o Reino e em
lutar objetivamente contra tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de
ser feliz. Antes da partida dos discípulos, Jesus dá-lhes algumas instruções
acerca da forma de realizar a missão. Convida-os especialmente à pobreza, à
simplicidade, ao despojamento dos bens materiais.
Marcos
deixa claro que a iniciativa do chamamento dos discípulos é de Jesus: Ele
“chamou-os”... Não há qualquer explicação sobre os critérios que levaram a essa
escolha: falar de vocação e de escolha é falar de um mistério insondável, que
depende de Deus e que o homem nem sempre consegue compreender e explicar.
Depois, Marcos aponta o número dos discípulos que são enviados “doze”. Trata-se
de um número simbólico, que lembra as doze tribos que formavam o antigo Povo de
Deus. Estes “doze” discípulos representam simbolicamente a totalidade do Povo
de Deus, do novo Povo de Deus. É a totalidade do Povo de Deus que é enviada em
missão.
Os
“doze” são enviados “dois a dois”, pois, a evangelização tem sempre uma
dimensão comunitária. Os discípulos nunca devem trabalhar só, à margem do resto
da comunidade; não devem anunciar as suas ideias, mas a fé da Igreja. Quem
anuncia o Evangelho, anuncia-o em nome da comunidade; e o seu anúncio deve estar
em sintonia com a fé da comunidade.
O
Pai nos chama e nos confia uma missão a ser desempenhada ao estilo de Jesus,
que veio para curar, consolar, libertar, destruindo tudo o que oprime e
escraviza e abrindo possibilidades de vida feliz e abundante. Participando da
celebração, Ele nos consagra como enviados, entregando-nos seu Espírito, e nos
fortalece para que nunca percamos o entusiasmo e a alegria em nossa missão.
Somos
convidados a indagar-nos: como nos posicionamos diante do chamamento que Deus
nos faz? Nosso compromisso é a resposta. O mais importante é que todos nós
sejamos fiéis ao projeto do Reino de Deus, fiéis ao Evangelho, comprometidos
com a missão. Carregando a Cruz de Cristo, chegaremos todos à glória da
ressurreição final.
Em
seguida, Marcos define a missão que Jesus lhes confiou: lutar contra tudo
aquilo que destrói a vida e a felicidade
- a missão dos discípulos é lutar contra o “pecado”. É da ação libertadora dos
discípulos, que nasce um mundo novo, de homens livres – o mundo do “Reino”.
Logo
depois, vêm às instruções para a missão. Fé e vida, dialética importante em
nossa caminhada de cristãos. Colocar em nosso cotidiano, em prática, tudo
aquilo que vivemos e entendemos. Na perspectiva de Jesus, os discípulos devem
partir para a missão, num despojamento total de todos os bens e seguranças
humanas; não devem levar nem pão, nem alforge, nem moedas, nem duas túnicas. Os
discípulos devem ser totalmente livres e não estar amarrados a bens materiais;
caso contrário, a preocupação com os bens materiais pode tirar-lhes a liberdade
e a disponibilidade para a missão. Por outro lado, essa atitude de pobreza e de
despojamento ajudará também os discípulos a perceber que a eficácia da missão
não depende da abundância dos bens materiais, mas sim da ação de Deus. A
sobriedade e o despojamento são sinais de que o discípulo confia em Deus e
contribuem para dar credibilidade ao testemunho.
Precisamos
ser instrumentos da misericórdia e da graça de Deus. O apóstolo é aquele que
serve. Ele é o primeiro servidor, aquele que “serve com alegria”. O serviço passa
pelo diálogo, pela escuta, pela comunicação necessária ao entendimento e da
partilha. É evangelizar a partir da premissa de comunicação da paz e do amor. O
apóstolo e o discípulo devem esquecer de si mesmo e preocupar-se com as coisas
de Deus.
Para
ser um verdadeiro discípulo, não devemos servir aos nossos projetos pessoais,
mas devemos fazer com que o Cristo apareça e ilumine a nossa missão de
evangelizadores. Evangelizamos para quem? Evangelizamos por quem? Evangelizamos
quem?
Outro
aspecto das orientações de Jesus refere-se ao comportamento dos discípulos
diante da hospitalidade que lhes for oferecida. Quando forem acolhidos numa
casa, devem aí permanecer algum tempo, seguramente para formar uma comunidade e
não devem saltar de um lugar para o outro, ao sabor das amizades, dos
interesses próprios ou alheios ou das suas próprias conveniências pessoais.
Quando não forem recebidos num lugar, devem “sacudir o pó dos pés” ao abandonar
esse lugar: trata-se de um gesto que os judeus praticavam quando regressavam do
território pagão e que simboliza a renúncia à impureza. Aqui, significa o
repúdio pelo fechamento às propostas libertadoras de Deus.
Finalmente,
Marcos descreve a realização da missão dos discípulos: pregavam a conversão, isto
é, uma mudança radical de mentalidade, de valores, de atitudes, um voltar-se
para Jesus Cristo e um acolher ao seu projeto, expulsavam demónios, curavam os
doentes. Trata-se de continuar a missão de Jesus: libertar o homem de tudo
aquilo que o oprime e lhe rouba a vida, para fazer aparecer um mundo de homens
livres e salvos - “Reino de Deus”. O anúncio que é confiado aos discípulos é o
anúncio que Jesus fazia - o “Reino”; os gestos que os discípulos são convidados
a fazer para anunciar o “Reino” são os mesmos que Jesus fez. Ao apresentar a
missão dos discípulos em paralelo e em absoluta continuidade com a missão de
Jesus, Jesus convida a Igreja - os discípulos - a continuar na história a obra
libertadora que Ele começou em favor da humanidade. Os
apóstolos ontem, e nós hoje, somos convidados, a sermos santos e com ardor
missionário, ser Igreja inteiramente evangelizadora, misericordiosa e
participativa, onde todos se sintam compartilhandos no envio, no estudo, na
vivência da palavra de Deus, dando e sendo testemunho vivo da missão
do Senhor Ressuscitado, valorizando sempre a vocação profética anunciando o
Evangelho da Salvação, dando continuidade ao Projeto de Jesus em seus passos, de vida e salvação, com projeto de
seguimento, partilha, e comunidade. Assim seja! Amém.
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