domingo, 6 de maio de 2012

"Agricultor" glorificado


Neste Santo Domingo, o Cristo se revela como videira e revela o Pai como agricultor. Há um convite para refletirmos sobre a nossa união a Cristo, um apelo para permanecermos em seu amor, pois, só unidos a Cristo temos acesso à vida verdadeira.

A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos é dedicada a um acontecimento muito importante na história do cristianismo: a vocação/conversão de Paulo. Este fato é o ponto de partida para o caminho e abertura do cristianismo. Depois da sua conversão, Paulo ficou três anos em Damasco, colaborando com a comunidade cristã dessa cidade. Após esse tempo, a oposição dos judeus forçou Paulo a abandonar a cidade. Depois, Paulo dirigiu-se para Jerusalém.
O texto que nos é proposto é refere-se à estadia de Paulo em Jerusalém, depois de ter abandonado Damasco, o testemunho de Barnabé é fundamental para sua aceitação dentro do grupo dos apóstolos. A vocação de Paulo é seguir Cristo, integrado numa família de irmãos que partilha a mesma fé, percorrendo em conjunto o caminho do amor. Assim, é no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece e é na comunidade, unida por laços de amor e de fraternidade, que a nossa vocação se realiza plenamente. Os cristãos se reúnem para celebrar a fé. Qual é a expressão dessa fé?“ Sem amor não há cristianismo, nem religião, nem fé’.

A segunda leitura define o ser cristão como “acreditar em Jesus” e “amar-nos uns aos outros como Ele nos amou”. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo, a “verdadeira videira”. Se praticarmos as obras do amor, temos a certeza de que estamos unidos a Cristo e que a vida de Cristo circula em nós.
Os hereges afirmavam que o essencial da fé residia na vida de comunhão com Deus; mas, ocupados a olhar para o céu, negligenciavam o amor ao próximo. A sua experiência religiosa era uma experiência voltada para o céu, mas alienada das realidades do mundo. Ora, de acordo com a Primeira Carta de João, o amor ao próximo é uma exigência central da experiência cristã. A essência de Deus é amor; e ninguém pode dizer que está em comunhão com Ele se não se deixou contagiar e embeber pelo amor. Jesus demonstrou isso mesmo ao amar os homens até ao extremo de dar a vida por eles, na cruz; e exigiu que os seus discípulos O seguissem no caminho do amor e do dom da vida aos irmãos. Em última análise, é o amor aos irmãos que decide o acesso à vida: só quem ama alcança a vida verdadeira e eterna. A realização plena de cada pessoa depende da sua capacidade de amar os irmãos.

No Evangelho, João apresenta Jesus como “a verdadeira videira” que dá os frutos bons que Deus espera. Convida os discípulos a permanecerem unidos a Cristo, pois é d’Ele que eles recebem a vida plena. Se permanecerem em Cristo, os discípulos serão verdadeiras testemunhas no meio dos homens da vida e do amor de Deus.

Para definir a situação dos discípulos face a Jesus e ao mundo, Jesus usa a metáfora da videira, dos ramos e dos frutos. Na mensagem profética, a “videira” e a “vinha” eram símbolos do Povo de Deus. Israel era apresentado como uma “videira” que Javé arrancou do Egito, que transplantou para a Terra Prometida e da qual cuidou sempre com amor. Porém, a antiga “videira” revelou-se como uma verdadeira desilusão. Israel nunca produziu os frutos que Deus esperava. Agora, Jesus apresenta-Se como a verdadeira “videira” plantada por Deus. É Jesus que irá produzir os frutos que Deus espera. E, de Jesus, a verdadeira “videira”, irá nascer um novo Povo de Deus. Deus continua a ser o agricultor que escolhe as cepas, que as planta e que cuida da sua vinha. Diante desta situação, qual o lugar e o papel dos discípulos de Jesus?

Ora, os discípulos são os “ramos” que estão unidos à “videira”, Jesus, que dela recebem vida. Estes “ramos”, no entanto, não têm vida própria e não podem produzir frutos por si próprios; necessitam de Jesus. Por isso, são convidados a permanecer em Jesus. É um convite a que o discípulo mantenha a sua adesão a Jesus, sua identificação e comunhão com Ele. Pois, se o discípulo mantiver a sua adesão; Jesus, por sua vez, permanece no discípulo – isto é, continuará fielmente a oferecer ao discípulo a sua vida. Está unido a Jesus e permanece n’Ele quem acolhe no coração essa proposta de vida e se compromete com uma existência feita entrega a Deus e aos irmãos, até à doação completa da vida por amor.

Para os discípulos-ramos, interromper a relação com Jesus significa cortar a relação com a fonte de vida. Pois, quem recusa-se a acolher essa vida que Jesus propõe e prefere conduzir a sua existência por caminhos de auto-suficiência, de fechamento, é um ramo seco que não responde à vida que recebe da “videira”. Não produz frutos de amor, mas frutos de morte. Este “ramo” que não produzir frutos condizentes com a vida que lhe é comunicada ficará à margem da comunidade de Jesus, da comunidade da salvação. É um “ramo” que não faz parte dessa “videira”. Desta forma, ação de Deus está no sentido de chamar o “ramo” a um processo de conversão contínua que o leve a recusar caminhos de fechamento, para abrir-se ao amor, a fim de que ele dê mais fruto.Jesus deixa claro que este processo de conversão é feitao pela Palavra de Deus: “vós ja estais limpos pela Palavra que eu vos tenho pregado.” A Palavra de Deus nos orienta-nos numa vivência cristã e nos levará a sermos ramos frutíferos.

A comunidade de Jesus, os “ramos”, não pode condenar-se, sua missão é dar frutos. Por isso, o “agricultor”, Deus, atua no sentido de que o “ramo”, o discípulo, se identifique cada vez mais com a “videira”, Jesus Cristo, e produza frutos de amor, de doação, de serviço, de libertação dos irmãos. É precioso contemplar este Jesus que não deixa de se encantar com seu Pai. Ele declara: eu sou a videira; e prossegue no mesmo pensamento: ...e “meu Pai é o agricultor”. Jesus está sempre com o Pai, e nós estejamos sempre com Jesus! Quando ele fala de si, já está falando do Pai que age nele e ele no Pai. O nosso vínculo com Jesus se baseia na própria experiência dele com o Pai. Certa vez disse: “Eu e o Pai somos um”. Neste sentido, o “Agricultor” é glorificado e vive a Páscoa em sua plenitude. “Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos.” Que assim, como Maria, mãe, discípula, assumamos, o trabalho missionário com a videira, Jesus. Assim seja! Amém.

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