domingo, 11 de março de 2012

Novo Templo de Deus: Jesus

Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, subimos com Jesus ao templo de Jerusalém, testemunhamos sua profecia sobre uma prática religiosa ligada à justiça e recebemos dele o anúncio de sua ressurreição. Celebramos a páscoa de Jesus Cristo que acontece na vida de todas as pessoas e grupos que ligam fé e vida, culto e justiça e desejam ansiosamente a realização plena do, conduzindo os homens ao encontro da vida nova.

Na primeira leitura do Livro do Êxodo, Deus oferece-nos um conjunto de indicações que devem referenciar a nossa caminhada pela vida. São indicações que dizem respeito às duas dimensões fundamentais da nossa existência: a nossa relação com Deus e a nossa relação com os irmãos. Os dez mandamentos abrangem dois elementos fundamentais da existência humana: a relação do homem com Deus e a relação que cada homem estabelece com o seu próximo.
A questão essencial que sobressai nos mandamentos é que Javé deve ser a referência fundamental da vida do Povo, o centro à volta do qual se constrói toda a existência de Israel. Nada nem ninguém deve ocupar, no coração do Povo, o lugar que só a Deus pertence. É preciso reconhecer que só em Deus está a vida e a salvação, é necessário reconhecer a absoluta transcendência de Javé, que não pode ser reproduzida em qualquer criatura feita pelo homem. Os mandamentos procuram inculcar o respeito absoluto pelo próximo – a sua vida, os seus direitos na comunidade, os seus bens. Recomendam que cada membro da comunidade reconheça a sua dependência dos outros e aceite a sua vinculação a uma família e a uma cultura
Javé, o Deus libertador, está interessado na libertação definitiva da escravidão e se torne um Povo livre e feliz. Os “mandamentos” são, precisamente, um contributo de Deus para isso. Ao colocar estes “sinais” no percurso do seu Povo, Deus está a propor ao Povo um caminho de liberdade e de vida plena. Os mandamentos nascem do amor de Javé e procuram indicar ao Povo o caminho para ser feliz. A resposta do Povo a essa preocupação de Deus será aceitar as indicações e viver de acordo com esses preceitos. É essa Aliança que Javé quer fazer com o seu Povo.

Na segunda leitura, Paulo sugere-nos uma conversão à lógica de Deus. É preciso que descubramos que a salvação, a vida plena, a felicidade sem fim, não está numa lógica de poder, de autoridade, de riqueza, de importância, mas está na lógica da cruz – isto é, no amor total, no dom da vida até às últimas conseqüências, no serviço simples e humilde aos irmãos.
A essência da mensagem cristã está na “cruz” – isto é, na lógica ilógica de um Deus que veio ao encontro da humanidade, que fez da sua vida um dom de amor e que aceitou a morte para ensinar a humanidade que a verdadeira vida é aquela que se coloca integralmente ao serviço dos irmãos. Na cruz de Jesus manifestou-se, de forma plena, o poder salvador de Deus. Assim, o caminho cristão não é uma busca de sabedoria humana, mas uma adesão a Cristo crucificado – o Cristo do amor e do dom da vida. Nele manifesta-se de forma humanamente desconcertante, mas plena e definitiva, a força salvadora de Deus.

No Evangelho, Jesus apresenta-Se como o “Novo Templo” onde Deus Se revela aos homens e lhes oferece o seu amor. Convida-nos a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar. Quando Jesus pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, deita por terra os trocos dos banqueiros e derruba as mesas dos cambistas, está a revelar-Se como “o messias” e a anunciar que chegaram os novos tempos, os tempos messiânicos. Jesus não veio pôr remendos em instituições que, além de não preservarem e promoverem a vida, exploram o povo em nome de Deus.
O culto prestado a Deus no Templo de Jerusalém era, antes de mais, algo sem sentido: ao transformar a casa de Deus num mercado, os líderes judaicos tinham suprimido a presença de Deus. Além disso, o culto celebrado no Templo era algo de nefasto: em nome de Deus esse culto criava exploração, miséria, injustiça e, por isso, em lugar de potenciar a relação do homem com Deus, afastava o homem de Deus. Jesus, o Filho, com a autoridade que Lhe vem do Pai, diz um claro “basta” a uma mentira com a qual Deus não pode continuar a pactuar: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio”. Os líderes judaicos ficam indignados. Com que legitimidade é que Ele se arroga o direito de abolir o culto oficial prestado a Javé?
A resposta de Jesus, a princípio é estranha: “destruí este Templo e Eu o reconstruirei em três dias”. João deixa claro que Jesus não Se referia ao Templo de pedra onde Israel celebrava os seus ritos litúrgicos, mas a um outro “Templo” que é o próprio Jesus, que em três dias, estará outra vez no meio do povo. Jesus evidentemente fez alusão à sua ressurreição. A ressurreição garante que Jesus vem de Deus e que a sua atuação tem a garantia do Pai. O Templo representava, no universo religioso judaico, a residência de Deus, o lugar onde Deus Se revelava e onde Se tornava presente no meio do seu Povo. Jesus é, agora, o lugar onde Deus reside, onde Se encontra com os homens e onde Se manifesta ao mundo. É através de Jesus que o Pai oferece aos homens o seu amor e a sua vida. Aquilo que a antiga Lei já não conseguia fazer – estabelecer relação entre Deus e os homens – é Jesus que, a partir de agora, o faz.
Jesus é o novo templo, lugar da manifestação da glória. Por isso, quando João narra que Jesus purificou o templo de Jerusalém, destaca que expulsou até os animais do sacrifício; em outras palavras, pôs fim ao culto do templo; e o corpo do Cristo ressuscitado e glorioso se revela ser o novo templo, que em três dias será erguido. Jesus renovou a primeira Aliança no dom de sua própria vida. Este dom é agora o centro da nossa religião, de nossa busca de Deus. Uma vida que não em direção à cruz, não chega a Deus.
Quaresma é tempo de renovação batismal. Os Dez Mandamentos mais que “preceitos” são critérios de conduta, de comportamento de vida. São parâmetros da construção da vida dos filhos de Deus. Assim, caminhamos todos para um "templo definitivo", que se identifica com o mundo inteiro, quando esse se converte em casa do Pai,
onde toda a humanidade se reconhece irmãos. O templo verdadeiro em quem Deus manifesta a sua glória em favor de todos os homens.
Surgirá um novo templo, não construído de pedras e por mãos humanas, mas o "lugar da Presença" viva de Deus: Jesus Cristo. Neste sentido, nosso coração deve ser um sinal de Deus para os irmãos, nossas comunidades devem dar testemunho da vida de Deus, a Igreja deve ser a "Casa de Deus" onde as pessoas encontram a proposta de Salvação que Deus oferece a todos, o "Culto" que Deus aprecia deve ser uma vida vivida na escuta de suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de entrega e serviço aos irmãos. Jesus nos convida a sermos templo no qual está presente Deus e nele se oferece um verdadeiro culto em espírito e verdade. Assim seja! Amém.

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