sábado, 14 de janeiro de 2012

Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade


Irmãos e irmãs,

Neste Santo Domingo, somos Ajudados por Heli e João Batista, testemunhos que nos apontam para a pessoa de Jesus, reconhecendo Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, fazendo a experiência da intimidade com ele e renovando o compromisso de dar testemunho em seu nome.

A primeira leitura apresenta-nos o chamamento de Samuel, que é sempre uma iniciativa de Deus, o qual vem ao encontro do homem e chama-o pelo nome. Ao homem é pedido, em meio as múltiplas vozes e apelos que todos os dias atraem nossas atenções, que se coloque numa atitude de total disponibilidade para escutar a voz e os desafios de Deus.

É Deus que, seguindo critérios que nos escapam absolutamente mas que para Ele fazem sentido, escolhe, chama, interpela, desafia o homem. Deus dirige-se a Samuel num momento de silêncio, tranquilidade, calma. Assim, percebe-se que a voz de Deus torna-se perceptível ao vocacionado no silêncio, quando coração e mente abandonam a preocupação e estão mais livres e disponíveis para escutarem o chamado do Pai.

Importante destacar neste trecho, o papel de Heli que compreende e ensina Samuel a abrir-se para o chamado de Javé. Mostrando-nos que os irmãos de caminhada têm um papel decisivo na percepção da vontade de Deus a nosso respeito e na nossa sensibilização para os apelos e para os desafios que Deus nos apresenta. Então, Samuel coloca-se para ouvir e acolher a voz de Deus, transformando em compromisso de vida, comprometendo-se ao desafio profético, sendo um sinal vivo de Deus, “voz de Deus” na vida de seu Povo.

Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos da comunidade de Corinto a viverem de forma coerente com o chamamento que Deus lhes fez. No crente que vive em comunhão com Cristo deve manifestar-se sempre a vida nova de Deus. Pois, pelo Batismo, o cristão torna-se membro de Cristo e forma com ele um único corpo, templo do Espírito, sendo conduzido no caminho por Ele. A partir desse momento, os pensamentos, as palavras, as atitudes do cristão devem ser os de Cristo e devem testemunhar, diante do mundo, o próprio Cristo, vida nova que Deus propõe ao mundo e oferece à humanidade. Vida nova que traduz-se em entrega mútua, compromisso, amor verdadeiro.

É através de comportamentos e atitudes que se manifesta a realidade da vida nova de Jesus que os cristãos podem prestar culto a Deus. O culto a Deus não passa pela prática de um conjunto de ritos externos, mas por um compromisso de vida que afeta a pessoa inteira e que diz respeito à relação com os outros irmãos ou irmãs e consigo próprio. Dessa forma, é importante também denunciar tudo o que fere ou diminui o corpo humano em sua dignidade fundamental, pobreza, miséria, doença, fome, analfabetismo... É preciso que a vida do cristão seja de entrega, serviço, doação, respeito, amor verdadeiro, coerentes com os valores do projeto de Jesus, glorificando a Deus em nosso corpo.

No Evangelho, São João descreve o encontro de Jesus com os seus primeiros discípulos. Quem é “discípulo” de Jesus? Quem pode integrar a comunidade de Jesus? Na perspectiva de João, o discípulo é aquele que é capaz de reconhecer no Cristo que passa o Messias libertador, que está disponível para seguir Jesus no caminho do amor e da entrega, que aceita o convite de Jesus para entrar na sua casa e para viver em comunhão com Ele, que é capaz de testemunhar Jesus, anunciando-O aos outros irmãos.

Neste quadro, situam-se João e dois de seus discípulos, cuja missão consiste em preparar os homens para acolher o Messias libertador; quando esse Messias passa, a missão de João termina e começa uma nova realidade. Sua missão é congregar à sua volta um grupo de adeptos, mas preparar o coração dos homens para acolher Jesus e a sua proposta libertadora. Então, vendo Jesus passar, João indica-O para seus discípulos dizendo: “eis o cordeiro de Deus”, símbolo da libertação oferecida por Deus ao seu povo, definindo Jesus como o enviado de Deus, que vem inaugurar a nova Páscoa e realizar a libertação definitiva dos homens. A missão de Jesus consiste, portanto, fazer com que a humanidade chegue à vida plena.

Após a declaração de João, os discípulos reconhecem em Jesus esse Messias com uma proposta de vida verdadeira e seguem Jesus. “Seguir Jesus” é caminhar com Jesus, percorrendo o mesmo caminho de amor e de entrega, adotar os mesmos objetivos de Jesus e colaborar com Ele na missão. É importante para Jesus que os discípulos tenham consciência dos objetivos da missão, daquilo que esperam de Jesus e do que Jesus pode oferecer. Eis o convite de Jesus: “vinde ver”, os discípulos se dispõem a aderir totalmente a Jesus, de aprender com Ele, de habitar com Ele, de estabelecer comunhão de vida com Ele, dispostos a seguir as suas instruções, a aprender com Ele um modo de vida; ficar perto de Jesus, a partilhar a sua vida, a viver sob a sua influência, ter experiência pessoal de comunhão e de encontro com Jesus. É uma adesão incondicional a Jesus e ao seu seguimento.

Os discípulos aceitando o convite fazem uma experiência de partilha da vida com Jesus. Nasce, assim, a comunidade do Messias, a comunidade da nova aliança. É a comunidade daqueles que encontram Jesus que passa, procuram a verdadeira vida e a verdadeira liberdade, identificam-se com o Mestre, aceitam seu caminho de amor e de entrega, estão dispostos a uma vida de total comunhão com Ele. Os discípulos tornam-se testemunhas, pois, quem encontra Jesus e participa de Sua comunhão, torna-se testemunha de sua mensagem e de sua proposta libertadora. Trata-se de uma experiência tão marcante que transborda a própria existência e se torna anúncio libertador para os irmãos. O encontro com Jesus conduz-nos sempre a uma atitude missionária, com disponibilidade para acolher os desafios de Deus e para seguir Jesus. E assim possamos afirmar: “Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade”. Assim seja! Amém.

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