domingo, 23 de outubro de 2011

Amar a Deus é amar o povo

Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, partilhamos e vivenciarmos o grande presente que Deus nos deixou: “amemo-nos uns aos outros, como Ele nos amou”. É no amor aos irmãos, especialmente aos mais necessitados, que encontraremos a face de Deus que clama pela nossa ação missionária, neste dia, das Missões.

A leitura do livro do Êxodo aponta-nos um trecho do Código da Aliança, revelando-nos a prática do mandamento do amor, ou seja, como o povo de Deus deve se relacionar depois que ele foi libertado da opressão egípcia. O relacionamento novo deve ser dominado pelo amor, principalmente com os menos favorecidos, como os estrangeiros, as viúvas, os órfãos, os pobres e endividados. A experiência sofrida pelo povo é a base do novo relacionamento e do respeito pelo próximo: “Não maltratem nem oprimam os estrangeiros, pois vocês foram estrangeiros no Egito”. Eles não devem repetir o esquema dos seus opressores. Se emprestarem ao pobre, não o explorem com juros altos. Se tomarem o manto do pobre como penhor, devolva antes do pôr-do-sol, pois eles não têm com que se cobrir.


Qualquer injustiça ou arbitrariedade praticada contra um irmão pobre ou marginalizado é um crime grave contra Deus, que nos afasta da comunhão com Deus e nos coloca fora da Aliança. A sensibilidade de Israel diz-lhe que Deus não aceita a perpetuação destas situações intoleráveis de injustiça, de arbitrariedade, de opressão, de desrespeito pelos direitos dos pobres. Se Israel pretende viver em comunhão com Deus e aproximar-se do Deus santo, tem de banir do meio da comunidade as injustiças e as arbitrariedades cometidas sobre os sobre os estrangeiros, os órfãos, as viúvas e os pobres. Essa é uma das condições para a manutenção da Aliança.


Numa sociedade de grandes desníveis sociais e de exploração dos grandes sobre os pequenos, os pobres não têm ninguém por eles, por isso o próprio Deus assume a proteção do desvalido: “Se ele gritar a mim, eu o escutarei, porque sou misericordioso”. Deus não aceita a perpetuação de situações intoleráveis de injustiça, opressão, desrespeito aos direitos e dignidade dos pobres. Javé é o defensor dos pobres.

Paulo apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã – comunidade dos tessalonicenses, que apesar da hostilidade e da perseguição, aprendeu a percorrer, com Cristo e com Paulo, o caminho do amor e do dom da vida; e esse percurso – cumprido na alegria e na dor – tornou-se semente de fé e de amor, que deu frutos em outras comunidades cristãs do mundo. Dessa experiência comum, nasceu uma imensa família de irmãos, unida à volta do Evangelho.

Assim, Paulo continua sua ação de graças, pois, diante da ação evangelizadora dos apóstolos, Paulo, Silvano, Timóteo e do Espírito Santo, os tessalonicenses responderam com o acolhimento e entusiasmo o Evangelho apesar de tantas tribulações, perseguições, incompreensões, maus tratos, conflitos. O nascimento desta comunidade cristã de acontece num ambiente de alegria e de júbilo. Com viva esperança a respeito da vinda gloriosa de Jesus, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos. Numa palavra, os tessalonicenses, fiéis na fé, esperança e caridade, se tornaram para o povo da região luz, fermento e sal. Dessa forma, fica claro que o Senhor, os apóstolos e toda a Igreja partilham o mesmo destino, percorrendo o mesmo caminho, iluminados pelo Santo Evangelho.

No Evangelho, Mateus apresenta-nos Jesus sendo questionado novamente, a pergunta é: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” Jesus responde, citando do amor a Deus de modo pleno e em todos os momentos da vida. Jesus fala que esse é o maior e o primeiro. Mas, completa, dizendo que o segundo é semelhante a esse: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Aqui Jesus, mais uma vez, situa outro elemento importante, pois, os fariseus, desconsideravam o povo pelo fato de não saber ler, e, portanto, não conhecer a Bíblia, desprezavam o povo e o considerava maldito e impuro, fadado à condenação. Eles achavam que era possível amar a Deus, e não amar o povo. Jesus vincula o amor a Deus com o amor ao próximo. Aliás, não cumpre a Lei quem despreza o povo, pois “toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos”. Jesus supera a pergunta e vai além, situando-se ao nível das opções profundas que devemos fazer… O importante, na perspectiva de Jesus, não é definir qual o mandamento mais importante, mas encontrar a raiz de todos os mandamentos.

Portanto, toda a revelação de Deus se resume no amor – amor a Deus e amor aos irmãos. Os dois mandamentos não podem separar-se: “amar a Deus” é cumprir a sua vontade e estabelecer com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, até ao dom total da vida. Tudo o resto é explicação, desenvolvimento, aplicação à vida prática dessas duas orientações fundamentais da vida cristã.


Para Jesus, “Amar a Deus” é estar atento aos projetos do Pai e procurar concretizar, na vida do dia a dia, os seus planos, cumprindo a vontade do Pai, numa vida entrega de amor aos irmãos, está intimamente associado ao “amor aos irmãos”. Não são dois mandamentos diversos, mas duas faces da mesma moeda. “Amar a Deus” é cumprir o seu projeto de amor, que se concretiza na solidariedade, na partilha, no serviço, no dom da vida aos irmãos. Trata-se, de um amor sem limites, sem medida, incondicional e deve atingir todo o irmão que encontrarmos nos caminhos da vida. Amar a Deus é amar o povo. A missão não acontece sem essa condição, pois, amar a Deus é amar o povo que sofre. O amor está no centro da experiência cristã, que deixa o seu coração ser submergido pelo amor. Assim seja! Amém.

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