sábado, 11 de junho de 2011

Pentecostes: Festa do fogo do amor




Irmãos e irmãs,
Neste Domingo Santo, Festa de Pentecostes, Jesus envia seus discípulos, assim como Ele mesmo foi enviado pelo Pai. Como os discípulos receberam o Espírito Santo, também nós somos convocados a esse envio, fortalecendo o ardor missionário em nossa Igreja e levando a paz de Jesus por todo o mundo.

Queridos irmãos e irmãs,
A leitura dos atos dos apóstolos quer mostrar o que está na base de qualquer comunidade cristã, o Espírito Santo, que faz lembrar, compreender e continuar o testemunho de Jesus. Pentecostes celebrado cinqüenta dias após a Páscoa, comemorava a Aliança e o dom da Lei. Em suas origens, o Pentecostes era uma festa agrícola judaica em que se ofereciam a Deus os melhores feixes da colheita. Era uma festa não só de alegria e de encontro das famílias, como também de partilha com os mais necessitados. Era celebrada durante sete semanas (cinqüenta dias) depois da Páscoa, encerrando as solenidades pascais. Por isso, também se chamava Festa das Semanas.
No novo Pentecostes, Deus entrega o seu Espírito, realizando a Nova Aliança, dessa vez com toda a humanidade simbolizada pelas doze nações. È o Espírito que cria a nova comunidade do Povo de Deus, que faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas diferenças e comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças e culturas no coração de cada discípulo.
O Espírito é apresentado como “a força de Deus”, através dos símbolos: o vento de tempestade e o fogo; representam a revelação de Deus, evocam a força irresistível de Deus, que vem ao encontro do homem, comunica com o homem e que, dando ao homem o Espírito, constitui a comunidade de Deus. O Espírito (força de Deus) é apresentado em forma de língua de fogo. A língua da comunidade da nova Aliança é o testemunho de Jesus, ou seja, o Evangelho, cujo centro é o Amor de Deus que reúne os homens, provocando unidade, relação, entendimento, construção de uma comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação. É o surgimento de uma humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência interior, fonte de liberdade, de comunhão, de amor. Assim, nossa ação pastoral merece ser questionada, analisando a coordenação pastoral: com que espírito agimos na comunidade cristã? Que sentido têm os encargos, os postos, os serviços? É o Espírito de Jesus quem anima toda a pastoral?
A comunidade messiânica é a comunidade onde a ação de Deus pelo Espírito modifica profundamente as relações humanas, levando à partilha, à relação, ao amor. Nossas comunidades manifestam o novo Povo de Deus nascido do Espírito? Representam Pentecostes ou Babel? A comunidade de Jesus é assim transformada pelo Espírito para criar a nova humanidade, a anti-Babel. Sem deixarem a sua cultura e as suas diferenças, todos os povos escutarão a proposta de Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade da salvação, onde se fala a mesma língua e onde todos poderão experimentar esse amor e essa comunhão que tornam povos tão diferentes, irmãos. O essencial passa a ser a experiência do amor que, no respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve unir todas as nações da terra.

Estimados irmãos e irmãs,
Paulo revela-nos que o Espírito é a fonte de onde brota a vida da comunidade cristã, todos os dons (carismas) provém do Espírito. É Ele que concede os dons que enriquecem a comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos, como dom gratuito. Cada pessoa na comunidade recebe um dom, ou melhor, é um dom para o bem de todos.
O verdadeiro “carisma” é o que leva a confessar que “Jesus é o Senhor”, não há oposição entre Cristo e o Espírito e que é útil para o bem da comunidade. É fundamental que os membros da comunidade tenham consciência de que, apesar da diversidade de dons espirituais, é o mesmo Espírito que atua em todos; que apesar da diversidade de atividades e funções, é o mesmo Senhor Jesus que está presente em todos; que apesar da diversidade de ações, é o mesmo Deus que age em todos. Não há, portanto, “cristãos de primeira” e “cristãos de segunda”. O que é importante é que os dons do Espírito resultem no bem de todos e sejam usados, não para melhorar a própria posição ou a própria satisfação, mas para o bem de toda a comunidade. Comunidade cristã comparada a imagem de um corpo com muitos membros. Esta é una, porque forma o corpo de Cristo, dado que todos receberam o mesmo batismo num só Espírito e beberam um único Espírito, aquele que alimenta e dá a vida ao Corpo de Cristo, que fomenta a coesão, dinamiza a fraternidade e comunhão.

Amados irmãos e irmãs,
No Evangelho, João situa um quadro que mostra uma comunidade desamparada, que perdeu as suas referências e a sua identidade. O medo impede o anúncio e o testemunho.
Então, aparece Jesus, liberta do medo mostrando que o amor doado até a morte é sinal de vitória e alegria. E na experiência do encontro com Jesus ressuscitado, os discípulos redescobrem o seu caminho, a comunidade se reconstrói e toma consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe de forma consistente se está centrada em Jesus ressuscitado.
Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes a paz, dom messiânico, transmitindo serenidade, tranqüilidade e confiança que permitirão aos discípulos superar o medo e a insegurança. Depois, convoca seus seguidores para a missão no meio do mundo, infunde neles o Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem, trazendo vida nova e fazendo nascer o Homem Novo. Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude, como Jesus, para fazerem da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar, com gestos e com palavras, o amor de Jesus.
Ainda neste diálogo de amor com os discípulos, Jesus mostra-lhes o objetivo da missão: continuar a atividade dele, chamados a testemunhar no mundo essa vida que o Pai quer oferecer a todos os homens. A comunidade, animada pelo Espírito, será a mediadora desta oferta de salvação.

Irmãos em irmãs no Espírito,
Somos abertos à nova criação do Espírito, ou vivemos medrosos e de “portas fechadas”? Provocamos o “julgamento de Deus” numa sociedade que rejeita sistematicamente o projeto de Deus, ou não nos distinguimos em nada da sociedade injusta em que vivemos?
A experiência de Pentecostes não se limita a um evento, é uma experiência contínua, em uma comunidade em oração. O Espírito Santo sopra onde quer, sobre quem quer, em favor do Reino de Deus. O dom do Espírito Santo tem um objetivo missionário e profético – de fazer com que toda a humanidade possa ouvir e compreender a nova linguagem, que une todos os povos e culturas, o amor, a solidariedade em torno do projeto de Jesus, do Reino de Deus.
Antes do Pentecostes, tínhamos apenas um grupo fechado dentro de quatro paredes, incapaz de superar o medo e de arriscar, sem a iniciativa nem a coragem do testemunho; depois do Pentecostes, temos uma comunidade unida, que ultrapassa as suas limitações humanas e se assume como comunidade de amor e de liberdade, celebrando a nossa vocação missionária, não a de falar em línguas, mas de falar a língua única do amor e do compromisso com o Reino, para que a mensagem do Evangelho penetre todos os povos e culturas. Jesus nos deu o Espírito Santo, agora depende de nós usarmos essa força que temos na construção do mundo que Deus quer, pois, "O Espírito é o único que pode ajudar às pessoas e as comunidades a libertarem-se dos velhos e novos determinismos, guiando-os com a lei do espírito que dá a vida em Cristo Jesus" (João Paulo II). Portanto, toda a vida do cristão terá que desenvolver-se sob a influência do Espírito. Quando Ele nos volta a apresentar a Palavra de Cristo, resplandece em nosso interior a luz da verdade, como tinha prometido Jesus: "o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse”(Jo 14,26). Que a celebração de Pentecostes nos anime para que busquemos a criação de um mundo onde realmente possa reinar a paz do Reino de Deus, fruto de justiça, solidariedade e fraternidade e proclamemos sempre: “Espírito Santo, vinde, Falar em mim! Espírito Santo, vinde, orar em mim! Vinde curar, vinde libertar, Nossos corações de toda opressão. Vinde transformar, vem incendiar. Traz fogo do céu nesse lugar. Incendeia minha alma! Incendeia minha alma! Incendeia minha alma, Senhor!”. Vem Espírito Santo, reúne os corações dos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor, que em Pentecostes, festa do Amor, em oração renovada, abrasando nossos corações de sua presença radiante e gloriosa, difunde o anúcio de comunhão e santidade a todos os povos. Assim seja! Amém.

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