sábado, 5 de março de 2011

Alicerce da vida: Jesus, rocha firme

Queridos irmãos e irmãs,
Somos convidados neste Santo Domingo a continuar no caminho da vida, nos caminhos do Senhor. Com alegria, confiança e com a mesma certeza dos que constroem suas vidas sobre a Rocha que é o próprio Deus. Há um convite de construir a vida sobre o alicerce firme da Palavra de Deus. Quando a Palavra de Deus está no centro da vida e dá forma aos pensamentos, sentimentos e ações, homens e mulheres caminham, com segurança, ao encontro da realização plena, da vida definitiva.

Irmãos e irmãs,
O livro do Deuteronômio nos mostra que a conquista e a vida na terra dependerão da atitude que o povo tiver diante do projeto de Deus. Se o povo servir a outros deuses, realizando projetos, contrários ao projeto de Javé, receberá maldição por se afastar do projeto do Reino; Já o povo que vive na justiça e na prosperidade receberá benção pela fidelidade ao projeto de Javé expresso nas leis e mandamentos.
A Palavra de Deus deve ser aceita, envolvendo e penetrando nossa vida, marcando pensamentos, sentimentos e ações, abarcando a totalidade da vida do homem, pretendendo sugerir que viver de acordo com os mandamentos de Deus é assegurar a felicidade e a vida plena; e que optar pela auto-suficiência, é escolher a infelicidade. Garantindo assim que construir a vida à volta da Palavra de Deus é assegurar a felicidade e a vida definitiva. Que lugar ocupa a Palavra de Deus na minha vida? Consigo encontrar tempo para ler e saborear a Palavra e disponibilidade para acolher no meu coração? Se os homens aceitassem às propostas de Deus, o mundo não seria um lugar mais feliz?
Bênção ou maldição são consequências de nossas escolhas e ações. As bênçãos e as maldições, no entanto, não podem ser vistas como recompensa ou o castigo de Deus. É apenas uma forma de expressar as consequências do uso da liberdade… Ao escolher um determinado caminho, tornamo-nos responsáveis pelas consequências de nossos atos. Nesse sentido, não é loucura estar construindo a própria destruição? O que fazemos para dar eficácia à nossa profissão de fé em Jesus Cristo Senhor?

Caríssimos em Cristo Jesus,
Para Paulo, o pecado é uma realidade sempre presente no mundo, que penetra a totalidade da vida e da história do homem. Ninguém, portanto – judeu, grego, ou romano – tem o direito de se considerar superior e de olhar os outros com desprezo ou arrogância, Assim apresenta aos Romanos a certeza de que a força nova para superar a origem dos exageros e desvios é o projeto de Deus, testemunhado pelo cumprimento da Lei e vivenciado na missão dos Profetas, realizado e concretizado em Jesus Cristo. Pela sua misericórdia e fidelidade, Deus liberta do pecado toda humanidade.
E isso é dom gratuito, é graça recebida, que para se concretizar na vida dos homens e mulheres espera apenas a resposta da fé. Não depende do merecimento ou das obras, mas do amor de Deus. Dessa forma, ficam por terra as barreiras que dividiam os homens em bons e maus. Assim, a salvação resulta do dom gratuito de Deus, tornado presente em Cristo, a Palavra viva de Deus, que veio ao encontro dos homens para os subtrair ao caminho da escravidão, do pecado e da morte.
Paulo convida-nos então a contemplar o amor de um Deus que nunca desistiu da humanidade e que, apesar de homens e mulheres insistirem no egoísmo, no orgulho, na auto-suficiência, continua a vir ao seu encontro, a mostrar-lhes o seu amor, a fazer-lhes propostas de vida. Trata-se de um amor gratuito e incondicional, que se traduz em dons não merecidos; mas esses dons, uma vez acolhidos, conduzem-nos à felicidade plena.
Nossa vida cristã é testemunho de liberdade e vida para o mundo? Estamos vivendo relações de fé e gratuidade entre nós ou tudo ainda é fundado em leis, obrigações e deveres? Ser justificado gratuitamente por Deus requer a superação de todo e qualquer espírito legalista. Como viver o cristianismo não como obrigação, e sim como privilégio?
Quando rezamos o Pai-nosso nos envolvemos com a vontade do Pai. E a vontade dele é o Reino, que vai se manifestando à medida que se pratica um tipo de justiça superior à dos doutores da Lei e fariseus. Isso acontece em nossas comunidades?

Estimados irmãos e irmãs,
Estamos ainda no cenário do “sermão da montanha”. Jesus continua a oferecer à sua comunidade a Lei que deve guiar o novo Povo de Deus ao longo de sua história. Assim Mateus revela-nos que nem mesmo o ato de fé mais profundo da comunidade, que é o reconhecimento de Jesus como o Senhor, faz que alguém entre no Reino. Se o ato de fé pela palavra não for acompanhado de ações, é vazio e sem sentido. É importante ter presente que “fazer a vontade do Pai que está nos céus” não se confunde necessariamente com o cumprimento de determinados ritos meramente externos. O que tem sentido é a expressão da atitude interior de adesão a Deus e de cumprimento da sua vontade… Que sentido faz cumprir os ritos, se ignoramos os valores de Deus? Que valor tem a religião com seus belos ritos, se não levar a um compromisso efetivo com Deus e com os irmãos?
Há um convencimento de alguns que para ser cristão é somente é ter o nome no registro de batismo, ou fazer parte da confraria do Santíssimo Sacramento, ou estar ligado à comissão de festas em honra do padroeiro, ou aparecer na Igreja nos casamentos e funerais… Há até quem se assuma, como “cristão, não praticante”, como se o “ser cristão” fosse um ofício, ou fosse um passatempo que nos ocupa só nas horas vagas, ou fosse ter simpatia por um clube do qual nos recusamos a pagar as quotas…
Mateus deixa as coisas bem claras: “ser cristão” não é possuir uma identidade que atesta o nosso batismo; mas é seriamente viver de acordo com as propostas de Deus. E par mim o que é ser cristão? É uma característica que eu herdei por nascimento? Ou é um compromisso sério que eu um dia assumi em “fazer a vontade do Pai que está nos céus”?

Amados irmãos e irmãs,
Construir a casa sobre a rocha é viver e agir de acordo com a justiça do Reino, de acordo com os ensinamentos e propostas apresentados por Jesus no “sermão da montanha”. É aderir às propostas de Jesus e construir a vida sobre o espírito das bem aventuranças, escolhendo a partilha, a mansidão, o empenho pela justiça e pela paz, a misericórdia, a sinceridade, o compromisso pelo “Reino”.
Esse é o caminho seguro para encontrar um sentido para a própria existência. Alcançará a vida plena, se a sua vida estiver construída sobre a Palavra de Jesus.
Construir a casa sobre a areia é ficar na teoria, sem passar para a prática, é seguir o caminho da auto-suficiência, à margem das propostas apresentadas por Jesus no “sermão da montanha”. É rejeitar as propostas de Jesus, escolher a auto-suficiência e construir a própria vida sobre valores passageiros, o dinheiro, o poder, a fama, a glória, a mentira, a injustiça, a violência. Assim, a “casa” desmorona-se rapidamente e não dará qualquer garantia de eternidade, de vida plena e definitiva.
A Palavra de Jesus tem de ser, realmente, assumida, interiorizada, transformada em vida concreta pelo crente. A questão essencial é fazer da proposta de Jesus o alicerce firme sobre o qual construímos a nossa vida. É a proposta de Jesus que deve servir de base aos nossos pensamentos, palavras e gestos. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, será semelhante ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, trasbordaram os rios, e sopraram os ventos, e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, será semelhante ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; E desceu a chuva, transbordaram os rios, e sopraram os ventos, e deram contra aquela casa, e ela caiu, e foi grande a sua queda.
Há um clamor em torno da comunidade, a enraizar a sua vida na Palavra de Jesus e a traduzir em ações concretas essa adesão. Para ser cristão, não basta dizer palavras bonitas ao Senhor; mas é preciso esforçar-se por cumprir, em cada instante, a vontade de Deus e viver de acordo com os valores propostos por Jesus nas bem-aventuranças.
O verdadeiro profeta, o verdadeiro discípulo, é aquele que, para além das palavras que diz, faz a vontade do Pai que está nos céus. Jesus Cristo têm a tipologia da Pedra e da Rocha: “O meu rochedo é o Senhor / A minha rocha forte”. Nenhuma casa permanecerá de pé, se a mesma for construída sem a presença de Jesus Cristo, poder e glória que ilumina a caminhada e alimenta-nos com a Palavra e o pão eucarístico. Assim seja! Amém.

Um comentário:

  1. Olá, Joel
    Muito bom o seu texto!!!
    Estarei um Retiro Espiritual de Domingo à Terça... é tempo de reflexão!!!
    Abraços fraternos e seja muito feliz e abençoado!!!

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Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!