O dia de manhã terá o seu dia

Queridos irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo é permeado de confiança. Neste tempo favorável, não podemos inquietar com coisas vãs, somos chamados a colocar nossa confiança no Senhor, que faz-nos caminhar firme em busca de vida nova..

Irmãos e irmãs,
Isaias mostra a comparação entre a humanidade e um filho, questionando que assim como a mãe não esquece do fruto de seu ventre, Deus Pai não esquece de seu Povo. No Evangelho, Jesus pretende colocar no centro o que é verdadeiramente essencial: a cuidadosa ação de Deus para com cada um dos seus filhos e filhas, cuidado que vai bem além daquele cuidado zeloso que, por instinto maternal, tem para com seus filhos, qualquer mãe que não seja desnaturada. O trecho é cheio de confiança. Não é uma confiança estéril, romântica. É confiança, acreditando no Deus fiel que não decepciona, que brota do compromisso com o Reino e suas conseqüências fazem-se presente na construção de relações mais justas e fraternas.

Caríssimos irmãos e irmãs,
Paulo conclama aos agentes de pastoral, servidores de Cristo, para que trabalhem para que o projeto de Deus seja conhecido e vivenciado. O que deles se espera é que sejam fiéis. Não compete a ninguém julgar a respeito disso, função reservada ao Senhor Jesus, pois, o julgamento humano, que se baseia em códigos e opiniões socialmente estabelecidos, é sempre parcial e injusto, já que se apóia em aparências e reflete os conflitos de interesse dos grupos sociais. Só Deus pode fazer verdadeira justiça, pois, só ele conhece a totalidade e profundidade do homem, para além das aparências e interesses.
Os cristãos, nos diversos campos de saberes e atuação, são servidores e administradores do Reino, à semelhança de Paulo, e como tais, respondem e correspondem com fidelidade aos mistérios de Deus.

Estimados irmãos e irmãs,
No Evangelho segundo Mateus, Jesus revela-nos que o necessário para a vida virá junto com a justiça do Reino, como fruto natural da árvore boa. Neste tempo, a comida, a bebida e a roupa não serão um afã estressante nem para o pobre que não as tinha, nem para os ricos que encurtam a vida por querer tê-las sempre mais. Haverá o suficiente e o necessário para todos. A aquisição de bens necessários para viver se torna ansiedade contínua e pesada, se não for precedida pela busca da justiça do Reino, isto é, a promoção de relações de partilha e fraternidade. É a primazia do Reino e sua justiça, que fermentará um arranjo social novo, caracterizado pela partilha e igualdade entre todos.
Jesus assume a escolha do Messias pobre e humilde, que é repleto de confiança somente na força da palavra de Deus. E abre a mesma perspectiva para os discípulos de ontem, de hoje e de sempre: "Ninguém pode servir a dois senhores... Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. O dinheiro simboliza todas as armadilhas que, com a falsa promessa da auto-suficiência, submetem-nos, homem e mulher, a formas de escravidão sempre novas. É a confusão entre o essencial, o secundário e a acidental, que destrói a verdadeira vida no coração da pessoa, e transforma seu empenho, sua caminhada, por um objetivo que pode se revelar incorreto, em desperdício de vida.

Amados irmãos e irmãs,
A dita sociedade moderna cobra de maneira muito forte a autonomia, a iniciativa e a responsabilidade do indivíduo, em relação ao seu presente e a seu futuro, assim como a sorte das futuras gerações. Somos filhos e filhas da subjetividade e suas raízes se encontram na dignidade da pessoa, criada à imagem de Deus. Esse zelo responsável foi entregue ao cuidado da criação e do caminho da família humana para que alcançasse sua vida plena. Porém, não caminhamos nesta direção, o cuidado sobre o criado se transformou num projeto destruidor, e o cuidado uns para com os outros se transformou em competição entre os homens e mulheres e até mesmo com o Criador. É a vivência do pecado que faz-nos perder a capacidade de enxergar, abrir nossos olhos. Jesus cura-nos abrindo o caminho para o horizonte original.
Jesus orienta aos discípulos na mesma direção de atenção ao que é essencial: o dom da vida recebida pelo Pai, o cuidado zeloso e com generosidade com que o Pai partilha com a humanidade, como os pássaros e as flores do campo. “Vós não valeis mais do que os pássaros?.... Não fará ele muito mais por vós, gente de pouca fé?”. Eles ficam expostos a toda imprevisibilidade do tempo e das estações, e o Pai não deixa lhes faltar nada, pelo contrário, os reveste de beleza e esplendor com toda gratuidade.

Irmãos e irmãs,
Contemplemos a beleza, a harmonia e a ordem que se descobre como maravilha na natureza, diante da criatividade do Criador e de sua fidelidade no cuidado. É preciso ter a capacidade de maravilhar diante da criação em sua beleza, da história humana e nas qualidades de cada um de nós. Assim assumiremos a consistência do nosso tempo, do nosso nome, que fundamenta o nosso empenho, a serviço do reino de Deus e da sua justiça, em prol dos nossos irmãos e irmãs, humanidade que se renova na caminhada.
O convite de Jesus para, “não vos preocupeis com a vossa vida”, não é para deixar cair o compromisso responsável que cada um tem que assumir frente às justas exigências da existência. “Portanto não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações. Para cada dia bastam seus próprios problemas”, não ensina a despreocupar-se e a se subtrair às próprias responsabilidades da vida, seja em relação a si próprio, seja em relação aos outros, mas convida a restabelecer a correta escala das prioridades e das preocupações. São os que não cultivam o amor, e não colhem a vida, é que se preocupam com tudo isso. Assim: “Quanto mais eu vejo aos olhos da fé, mais eu sinto o corpo de jesus. E há em mim, em meu coração. A alegria de unir-me a Deus... É encontrar o seu eterno amor. E ao trocar olhares com Deus Sinto em mim a vida renascer”.
Meus amados, vosso Pai, vosso Deus, sabe muito bem do que necessitas. Portanto, buscai em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça e tudo mais vós será acrescentado. Não te preocupeis com o dia de amanhã, pois, o dia de amanhã terá o seu dia, viva em Deus e com Deus todo o teu dia de hoje... Assim seja! Amém.