sexta-feira, 30 de julho de 2010

Se fosse ensinar uma criança...


Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da jardinagem,
não começaria com as lições das pás,
enxadas e tesouras de podar.
Levaria a passear por parques e jardins,
mostraria flores e árvores,
falaria sobre suas maravilhosas simetrias e perfumes;
levaria a livraria para que ela visse,
nos livros de arte, jardins de outras partes do mundo.
Aí, seduzida pela beleza dos jardins,
ela me pediria para ensinar-lhe as lições das pás,
enxadas e tesouras de podar.

Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas
e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música.
Ai, encantada com a beleza da música,
ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério
daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas
são apenas ferramentas para a produção da beleza musical.

A experiência da beleza tem de vir antes.

Se fosse ensinar a uma criança a arte da leitura
não começaria com as letras e as sílabas.
Simplesmente leria as histórias mais fascinantes que a
fariam entrar no mundo encantado da fantasia.
Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos,
ela quereria que eu lhe ensinasse o segredo
que transforma letras e sílabas em histórias.
É assim. É muito simples.
(Almanaque Brasil de Cultura Popular, setembro 2004).

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