“- Muito bem - disse eu a eles. - Eu sei. Vocês não sabem. Mas o que eu sei e vocês não sabem?
- O senhor sabe porque é doutor. Nós, não.
- Exato, eu sou doutor. Vocês não. Mas, porque eu sou doutor e vocês não?
- Porque foi à escola, tem leitura, tem estudo e nós, não.
- Por que fui à escola?
- Porque seu pai pôde mandar o senhor à escola. O nosso, não.
- E por que os pais de vocês não puderam mandar vocês à escola?
- Porque eram camponeses como nós.
- E o que é ser camponês?
- É não ter educação, posses, trabalhar de sol a sol sem ter direitos, esperança de um dia melhor.
- E por que ao camponês falta tudo isso?
- Porque Deus quer. E quem é Deus? É o Pai de todos nós.
- E quem é pai aqui nesta reunião?
Quase todos de mãos para cima, disseram que o eram.
Olhando o grupo todo em silêncio, me fixei num deles e lhe perguntei: - Quantos filhos você tem?
- Três.
- Você seria capaz de sacrificar dois deles submetendo-os a sofrimentos para que o terceiro estudasse, com vida boa no Recife? Você seria capaz de amar assim?
- Não.
- Se você – disse eu - , homem de carne e osso, não é capaz de fazer uma injustiça desta, como é possível entender que Deus o faça? Será mesmo que Deus é o fazedor dessas coisas?
Um silêncio diferente, completamente diferente do anterior, um silêncio no qual algo começava a ser praticado. Em seguida:
Não. Não é Deus o fazedor disso tudo. É o patrão.”
(Pedagogia da Esperança, Paz e Terra, 1992)
Q texto lindo...não o conhecia, mas pude aprender tanto com ele.
ResponderExcluirComo o próprio Freire dissera: Não há saber mais ou saber menos, há saber diferentes.
Quanta sabedoria nesses camponeses ...
Mais uma belíssima postagem!