Irmãos e irmãs,
A
festa de todos os Santos é momento oportuno para uma revisão de caminhada da
comunidade. Olhando para os que nos precederam, santos e mártires, a comunidade
é convidada a se questionar sobre seus caminho de santidade. As
bem-aventuranças nos desvelam os caminhos que levam ao Pai.
A
primeira leitura mostra-nos que as primeiras perseguições tinham feito
destruições cruéis nas comunidades cristãs, ainda tão jovens. Iriam estas
comunidades, acabadas de fundar, desaparecer? As visões do profeta cristão
trazem uma mensagem de esperança nesta provação. A revelação proclamada é a da
vitória do Cordeiro. Contudo, o próprio Cordeiro foi imolado. Mas é o Cordeiro
da Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o caminho de morte em
caminho de vida para todos aqueles que o seguem, em particular pelo martírio, e
eles são numerosos; participam doravante ao seu triunfo, numa festa eterna.
Assim, a santidade se busca no empenho diário e na graça de Deus, que insiste
constantemente para que nos aproximemos mais e mais do serviço aos irmãos.
A
segunda leitura traz uma mensagem de esperança. Ora, em Jesus, vemos já qual o
futuro a nos conduz a pertença à família divina: seremos semelhantes a Ele.
Assim, seremos sempre semelhantes a ele, a medida de nossa santidade terrena.
Somos chamados filhos de Deus e de fato o somos. Nossa filiação se traduz na
prática da justiça se traduz na vivência das bem-aventuranças. Santidade não é
uma culminância de vida, mas uma conquista no dia a dia, nos fatos
corriqueiros, na busca dos acertos em família e na sociedade.
No
Evangelho, as Bem-aventuranças revelam a realidade misteriosa da vida em Deus,
iniciada no Batismo. Aos olhos do mundo, o que os servidores de Deus sofrem
são, efetivamente, formas de morte: ser pobre, suportar as provas - os que
choram - ou as privações - ter fome e sede de justiça, ser perseguido, ser
partidário da paz, da reconciliação e da misericórdia, num mundo de violência e
de lucro… tudo isso aparece como não rentável, voltado ao fracasso, à morte.
Mas
que pensa Cristo? Ele, pelo contrário, proclama felizes todos os seus amigos
que o mundo despreza e considera como mortos, consola-os, alimenta-os, chama-os
filhos de Deus, introduzi-los no Reino e na Terra Prometida.
As
bem-aventuranças também chamadas “sermão da montanha”, programa pleno do Reino
dos Céus, proclamado por João Batista e pelo próprio Jesus. Agora é Jesus que,
anuncia as bem-aventuranças, que enche de esperança e felicidade quem ouve
Jesus. Nas bem-aventuranças encontramos valores universais, que podem ser
entendidos e acolhidos por todos, como oferta de um estado de felicidade a ser
vivido por aqueles que comungam com a vontade de Deus. Elas orientam para
práticas a serem assumidas por aqueles que buscam a vida.
As
quatro primeiras bem-aventuranças referem-se aos pobres, aqueles que choram,
sofrem a opressão e exploração do sistema social, esperam pela justiça,
anunciando a intervenção libertadora de Deus. As outras bem-aventuranças
apontam para aqueles que se empenham em uma prática transformadora do mundo.
São os misericordiosos que se solidarizam com os sofredores, com o coração
desapegado das riquezas e livres para servir aos mais necessitados. Promovem a
vida e a paz, comprometendo-se com a luta pela implantação da justiça
característica do Reino dos Céus, no seguimento de Jesus. As bem-aventuranças
situam-se entre a pobreza e a justiça. Pobreza como forma concreta de
libertar-se da submissão aos interesses dos ricos e poderosos, colocando sua
vida a serviço da Vida. E o apelo à justiça é o fundamento das demais
bem-aventuranças, pelas quais podemos transformar o mundo, tornando-o rico em
fraternidade, justiça e paz. Ser pobre em espírito é trilhar o caminho da
justiça.
A
Solenidade de Todos os Santos abre-nos assim o espírito e o coração às
consequências da Ressurreição. O que se passou em Jesus realizou-se também nos
seus bem amados, os nossos antepassados na fé, e diz-nos igualmente respeito:
sob as folhas mortas, sob a pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para
se revelar no Grande Dia, quando chegar o fim dos tempos. Para Jesus, foi o
terceiro dia; para os seus amigos, isso será mais tarde. Nesta Solenidade de
Todos os Santos, a Igreja corre um véu, para nos permitir que olhemos para
dentro do paraíso. Ele está prometido a quem viver a vida presente como bom
filho de Deus.
A
festa de todos os santos é a festa da família dos filhos e filhas de Deus,
momento propício para uma revisão da caminhada de comunidade. Muitos que nos
precederam, santos e mártires, já estão na casa do Pai. E Ele nos espera de
braços abertos. O nosso batismo nos deu o caminho da Santidade, que se faz com
a centralidade do seguimento de Jesus, que todos devemos buscar para sermos
santos e santas, pois, esta é a nossa vocação. Não é fácil para nós, como não
foi fácil para São Francisco, Santa Clara, Santa Terezinha, Santo Antônio, São
José e todos os outros Santos. Firmeza e fé na caminhada, este é o caminho da
santidade, vivendo em nosso cotidiano a nossa vocação para a Santidade.
Fruto
da conversão realizada pelo Evangelho é a santidade de muitos homens e mulheres
do nosso tempo; não só daqueles que foram proclamados oficialmente santos pela
Igreja, mas também dos que, com simplicidade e no dia a dia da existência,
deram testemunho da sua fidelidade a Cristo. Como não pensar aos inumeráveis
filhos e filhas da Igreja que, ao longo da história, viveram uma santidade
generosa e autêntica no mais recôndito da vida familiar, profissional e social?
Todos eles, como “pedras vivas” aderentes a Cristo “pedra angular”. Os santos
são a prova viva da realização desta promessa, e ajudam a crer que isto é possível
mesmo nos momentos mais difíceis da história. Assim, devemos alcançar a
santidade, fazendo a vontade de Deus. Santidade é estar com Deus, e sendo mais
santos, o mundo torna-se melhor para todos. Jesus, com a pedagogia das
bem-aventuranças, respeita nossa liberdade de escolha, porém, aponta-nos as
bem-aventuranças, como caminho para a santidade, chamado de Deus! Assim seja! Amém.
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