Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo apresenta-nos, fundamentalmente, um convite à esperança.
Convida-nos a confiar nesse Deus libertador, Senhor da história, que tem um
projeto de vida definitiva para os homens e mulheres. Ele vai – dizem os nossos
textos – mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim.
A
primeira leitura anuncia aos que creem perseguidos e desanimados a chegada
iminente do tempo da intervenção libertadora de Deus para salvar o Povo fiel. É
esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a
Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua constância e fidelidade serão
recompensadas com a vida eterna.
Essa intervenção iminente de Deus não
atingirá, na perspectiva do nosso autor, somente aqueles que ainda caminham na
história; mas Deus irá, também, ressuscitar os que já morreram, a fim de lhes
dar o prêmio pela sua vida de fidelidade ou o castigo pelas maldades que
praticaram. Em concreto, o autor estará a falar daquilo que costumamos chamar
“o fim do mundo”? O que ele está a falar é de uma intervenção de Deus que porá
fim ao mundo da injustiça, da opressão, da prepotência, de morte e que iniciará
um mundo novo, de justiça, de felicidade, de paz, de vida verdadeira.
O
nosso texto garante a vida eterna àqueles que procuraram viver na fidelidade
aos valores de Deus. A certeza de que a vida não acaba na morte liberta-nos do
medo e dá-nos a coragem do compromisso. Podemos, serenamente, enfrentar neste
mundo as forças da opressão e da morte, porque sabemos que elas não conseguirão
derrotar-nos: no final da nossa caminhada por este mundo, está sempre a vida
eterna e verdadeira, que Deus reserva para os que estão “inscritos no livro da
vida”.
A
segunda leitura lembra que Jesus veio ao mundo para concretizar o projeto de
Deus no sentido de libertar-nos do pecado e de o inserir numa dinâmica de vida
eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Ele ensinou-nos a vencer o
egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. É esse
o caminho do mundo novo e da vida definitiva.
Cumprida
a sua missão na terra, Jesus “sentou-Se para sempre à direita de Deus”. Esta
imagem de triunfo e de glória mostra, não apenas como o caminho percorrido por
Cristo é um caminho que tem a aprovação de Deus mas, sobretudo, qual é a “meta”
final da caminhada do homem: a divinização, a comunhão com Deus, a pertença à
família de Deus. Se o caminho da fidelidade aos projetos de Deus e da entrega
por amor aos irmãos levou Jesus a sentar-Se à direita do Pai, também aqueles
que seguem Jesus chegarão à mesma meta e sentar-se-ão, por sua vez, à direita
de Deus.
O
autor da Carta aos Hebreus exorta os cristãos a viverem na fidelidade aos
compromissos que assumiram com Cristo no dia do seu Batismo. Quem, apesar das
dificuldades, percorre o mesmo caminho de Cristo, está destinado a sentar-se “à
direita de Deus” e a viver, para sempre, em comunhão com Deus.
No
Evangelho, Jesus garante-nos que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do
egoísmo e do pecado vai cair e que, em seu lugar, Deus vai fazer aparecer um
mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. Aos seus discípulos, Jesus pede
que estejam atentos aos sinais que anunciam essa nova realidade e disponíveis
para acolher os projetos, os apelos e os desafios de Deus.
Os
dois primeiros versículos do nosso texto referem-se – com imagens tiradas da
tradição profética e apocalíptica – à queda desse mundo velho que se opõe a
Deus e que persegue os que creem. Em Isaías, o obscurecimento do sol, da lua e
das estrelas anuncia o dia da intervenção justiceira de Javé para destruir o
império babilônico e para libertar o Povo de Deus exilado numa terra
estrangeira. Ora, é esta linguagem que Marcos vai utilizar para descrever a
falência dos impérios que lutam contra Deus e contra os seus santos. A mensagem
é evidente: está para acontecer uma viragem decisiva na história; a velha ordem
religiosa e política, os poderes que se opõem a Deus e que perseguem os santos,
irão ser derrubados, a fim de darem lugar a um mundo novo, construído de acordo
com os critérios e os valores de Deus. Marcos não se refere, aqui, àquilo que
nós costumamos chamar “o fim do mundo”; mas refere-se, genericamente, à vitória
de Deus sobre o mal que oprime e escraviza aqueles que optaram por Deus e pelas
suas propostas.
A
queda desse mundo velho aparece associada à vinda do Filho do Homem. O “Filho
do Homem, cheio de poder e de glória, que virá “reunir os seus eleitos”, não
pode ser outro senão Jesus. Com esta imagem, Marcos assegura aos que creem o
triunfo definitivo de Cristo sobre os poderes opressores e a libertação
daqueles que, apesar das perseguições, continuaram a percorrer com fidelidade
os caminhos de Deus.
A
mensagem proposta por Marcos é clara: espera-vos um caminho marcado pelo
sofrimento e pela perseguição; no entanto, não vos deixeis afundar no desespero
porque Jesus vem. Com a sua vinda gloriosa (de ontem, de hoje, de amanhã),
cessará a escravidão insuportável que vos impede de conhecer a vida em
plenitude e nascerá um mundo novo, de alegria e de felicidade plenas. O quadro
destina-se, portanto, não a amedrontar, mas a abrir os corações à esperança:
quando Jesus vier com a sua autoridade soberana, o mundo velho do egoísmo e da
escravidão cairá e surgirá o dia novo da salvação/libertação sem fim.
Na
segunda parte do nosso texto, Jesus responde à questão posta pelos discípulos:
“Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para
acabar”.
Para
Jesus, mais importante do que definir o tempo exato da queda do mundo velho é
ter confiança na chegada do mundo novo e estar atento aos sinais que o
anunciam. O aparecimento nas figueiras de novos ramos e de novas folhas
acontece, sem falhas, cada ano e anuncia ao agricultor a chegada do Verão e do
tempo das colheitas; da mesma forma, os que creem são convidados a esperar, com
confiança, a chegada do mundo novo e a perceber, nos sinais de desagregação do
mundo velho, o anúncio de que o tempo da sua libertação está a chegar. Certos
da vinda do Senhor, atentos aos sinais que O anunciam, os que creem podem
preparar o seu coração para O acolher, para aceitar os desafios que Ele traz,
para agarrar as oportunidades que Ele oferece.
As
sombras que marcam a história atual da humanidade tornam-se realidades
próximas, que nos inquietam e nos desesperam. Feridos e humilhados, duvidamos
de Deus, da sua bondade, do seu amor, da sua vontade de salvar a humanidade,
das suas promessas de vida em plenitude. A Palavra de Deus que hoje nos é
servida abre, contudo, à esperança. Reafirma, que Deus não abandona a
humanidade e está determinado a transformar o mundo velho do egoísmo e do
pecado, num mundo novo de vida e de felicidade para todos. A humanidade não
caminha para o holocausto, a destruição, o sem sentido, o nada; mas caminha ao
encontro da vida plena, encontro desse mundo novo em que o homem e a mulher,
com a ajuda de Deus, alcançará a plenitude das suas possibilidades.
Os
cristãos, convictos de que Deus tem um projeto de vida para o mundo, têm de ser
testemunhas da esperança. É Deus, o Senhor da história, que irá fazer nascer um
mundo novo; contudo, Ele conta com a nossa colaboração na concretização desse
projeto. Os cristãos não podem ficar de braços cruzados à espera que o mundo
novo caia do céu; mas são chamados a anunciar e a construir, com a sua vida,
com as suas palavras, com os seus gestos, esse mundo que está nos projetos de
Deus. Isso implica, testemunhar em gestos concretos, os valores do mundo novo –
a partilha, o serviço, o perdão, o amor, a fraternidade, a solidariedade, a
paz.
A
terra conheceu transformações profundas e conhecerá outras, certamente. Estes
cataclismos precederão a sua vinda com grande poder e com grande glória. Não se
trata de uma realidade que reenvia à destruição e à morte, mas à vida, no seu
aspecto de nascimento, de alegria, de luz.
Não
há uma data marcada para o advento dessa nova realidade. Da nossa parte,
precisamos de estar atentos à sua proximidade e reconhecê-l’O nos sinais da
história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a
libertação e lhes aponta o caminho do mundo novo. De uma coisa, no entanto, os
que creem podem estar certos: as palavras de Jesus são a garantia de que esse
mundo novo, de vida plena e felicidade sem fim, irá surgir. Trata-se, pois, de
redizer que Cristo, vitorioso da morte na manhã de Páscoa, onde se revela o
amor de seu Pais, é sempre vitorioso sobre todas as forças da morte. Assim, para reavivar a sua esperança, os que
creem são convidados a perscrutar os sinais que fazem ver que o Senhor voltará.
A esperança dos cristãos manifesta-se em cada Eucaristia, quando afirmam que
Cristo veio, vem e virá. Pois,
os sobressaltos da história são as primícias, dolorosas sem dúvida, de uma
transformação, de um nascimento que desembocará na luz da Vida, Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Assim seja! Amém.
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