Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo dá-nos conta do amor e da solicitude de Deus pelas “ovelhas sem
pastor”. Este amor e esta solicitude traduzem-se, naturalmente, na oferta de
vida nova e plena que Deus faz a todos os homens e mulheres.
Na
primeira leitura, pela voz do profeta Jeremias, Javé condena os pastores
indignos que usam o “rebanho” para satisfazer os seus próprios projetos
pessoais; e, paralelamente, Deus anuncia que vai, Ele próprio, tomar conta do
seu “rebanho”, assegurando-lhe a fecundidade e a vida em abundância, a paz, a
tranquilidade e a salvação. Deus é o “Pastor” que se preocupa conosco, que está
atento a cada uma das suas “ovelhas”; Ele cuida das nossas necessidades e está
permanentemente disposto a intervir na nossa história para nos conduzir por
caminhos seguros e para nos oferecer a vida e a paz.
Todos
somos, de alguma forma, responsáveis pelos irmãos que caminham conosco.
Convida-nos a refletir sobre a forma como tratamos os irmãos, na família, na
Igreja, no emprego, em qualquer lado… Recorda-nos que os irmãos que caminham
conosco não estão ao serviço dos nossos interesses pessoais e que a nossa
função é ajudar todos a encontrar a vida e a felicidade.
O
nosso texto faz referência a “um rei” que Deus vai enviar ao encontro do seu
Povo e que governará com sabedoria e justiça. Jesus é a concretização desta
promessa. Ele veio propor ao “rebanho” de Deus a vida plena e verdadeira, uma
fonte de alegria, de esperança, de serenidade e de paz.
Na
segunda leitura, Paulo fala aos cristãos da cidade de Éfeso da solicitude de
Deus pelo seu Povo. Essa solicitude manifestou-se na entrega de Cristo, que deu
a todos os homens e mulheres, sem exceção, a possibilidade de integrarem a
família de Deus. Reunidos na família de Deus, os discípulos de Jesus são agora
irmãos, unidos pelo amor. Tudo o que é barreira, divisão, inimizade, ficou
definitivamente superado.
A
comunidade cristã é uma família de irmãos, que partilham a mesma fé e a mesma
proposta de vida. É um “corpo”, formado por uma grande diversidade de membros,
onde todos se sentem unidos em Cristo e entre si numa efetiva fraternidade. Nasce,
assim, um “corpo” que integra os mais diversos membros, pertencentes a todos os
quadrantes da família humana. Todos aqueles que aceitaram integrar a comunidade
de Jesus, sem diferenças de etnias, de raças, de cor da pele, de classes
sociais ou culturais, pertencem à mesma família, a família de Deus. Todos –
judeus e pagãos – são, agora, membros da comunidade trinitária do Pai (que
oferece a vida), do Filho (que vem ao encontro dos homens para lhes comunicar a
vida do Pai) e do Espírito (que mantém unidos os membros deste “corpo” entre si
e com Deus.
No
mundo de hoje o fenômeno da globalidade aproxima-nos dos outros que partilham
conosco esta casa comum que é o mundo e torna-nos mais tolerantes para com as
diferenças. Contudo, subsistem muros – alicerçados nas diferenças étnicas, raciais, políticas,
religiosas, sociais, afetivas – que impedem uma total experiência de fraternidade
universal. Na nossa vida pessoal e familiar, na nossa vida pessoal e na nossa
experiência de caminhada comunitária, aparecem frequentemente muros que nos
dividem, que impedem a comunicação, o encontro, a comunhão. Nós, os discípulos
desse Cristo que veio reconciliar “judeus e gregos” e fazer de todos “um só
povo”, temos o dever de dar testemunho da paz e da unidade e de lutar objetivamente
contra todas as barreiras que separam homens e mulheres.
O
Evangelho recorda-nos que a proposta salvadora e libertadora de Deus para homens
e mulheres, apresentada em Jesus, é agora continuada pelos discípulos. Os
discípulos de Jesus são – como Jesus o foi – as testemunhas do amor, da bondade
e da solicitude de Deus por esses homens e mulheres que caminham pelo mundo perdidos
e sem rumo, “como ovelhas sem pastor”. A missão dos discípulos tem, no entanto,
de ter sempre Jesus como referência… Com frequência, os discípulos enviados ao
mundo em missão devem vir ao encontro de Jesus, dialogar com Ele, escutar as
suas propostas, elaborar com Ele os projetos de missão, confrontar o anúncio
que apresentam com a Palavra de Jesus.
O
nosso texto começa com a narração do regresso dos discípulos que,
entusiasmados, contam a Jesus a forma como se tinha desenrolado a missão que
lhes fora confiada. Na sequência, Jesus convida-os a irem com Ele para um lugar
isolado e a descansarem um pouco. Os discípulos foram, com Jesus, para um lugar
deserto; mas as multidões adivinharam para onde Jesus e os discípulos se
dirigiam e chegaram primeiro. Ao desembarcar, Jesus viu as pessoas, teve
compaixão delas: “porque eram como ovelhas sem pastor” e pôs-se a ensiná-las.
Neste
texto, Marcos desenvolve a sua catequese sobre o discipulado. A catequese
apresentada por Marcos desenvolve-se à volta dos seguintes pontos:
-
Os apóstolos são os enviados de Jesus, chamados a continuar no mundo a missão
de Jesus. Essa missão consiste em anunciar o Reino. Para a concretizar, os
apóstolos convidam os homens e mulheres que escutam a mensagem a mudarem a sua
vida e a acolherem a proposta que Jesus lhes faz. Os gestos dos discípulos - “expulsaram
demônios, curaram doentes”, anunciam esse mundo novo de homens e mulheres
livres e esse projeto de vida verdadeira e plena que Deus quer oferecer a todos.
-
A referência à necessidade dos “apóstolos” descansarem, pois, nem sequer tinham
tempo para comer, pretende ser um aviso contra o ativismo exagerado, que
destrói as forças do corpo e do espírito e leva, tantas vezes, a perder o
sentido da missão.
-
Os “apóstolos” são convidados por Jesus a irem com Ele para um lugar isolado.
Já dissemos, acima, que não se nomeia esse lugar: na realidade, o que interessa
aqui não é o lugar geográfico, mas sim que esse “descanso” deve acontecer junto
de Jesus. É ao lado de Jesus, escutando-O, dialogando com Ele, gozando da sua
intimidade, que os discípulos recuperam as suas forças. Se os discípulos não
confrontarem, frequentemente, os seus esquemas e projetos pastorais com Jesus e
a sua Palavra, a missão redundará num fracasso.
-
Entretanto, as multidões tinham seguido Jesus e os discípulos a pé, com o barco
sempre à vista. Esta busca incansável e impaciente espelha, com algum
dramatismo, a ânsia de vida que as pessoas sentem… Jesus, cheio de compaixão,
compara a multidão a um rebanho sem pastor. Não é nos líderes religiosos ou
políticos da nação que elas encontram segurança e esperança; não é nos ritos da
religião tradicional que elas encontram paz e sentido para a vida… Mas é em
Jesus e na sua proposta que as multidões encontram vida verdadeira e plena.
A
missão dos discípulos não pode ser desligada de Jesus. Os discípulos devem, com
frequência, reunir-se à volta de Jesus, dialogar com Ele, escutar os seus
ensinamentos, confrontar permanentemente a pregação feita com a proposta de Jesus.
Por vezes, os discípulos verdadeiramente comovidos com a situação das “ovelhas
sem pastor”, mergulham num ativismo descontrolado e acabam por perder as
referências; deixam de ter tempo e disponibilidade para se encontrarem com
Jesus, para confrontarem as suas opções e motivações com o projeto de Jesus…
Por vezes, passam a “vender”, como verdade libertadora, soluções que são
parciais e que geram dependência e escravidão, e que não vêm de Jesus; outras
vezes, tornam-se funcionários eficientes, que resolvem problemas sociais
pontuais, mas sem oferecerem às “ovelhas sem pastor” uma libertação verdadeira
e global; outras, ainda, cansam-se e abandonam a atividade e o testemunho…
Jesus é que dá sentido à missão do discípulo e que permite ao discípulo, tantas
vezes fatigado e desanimado, voltar a descobrir o sentido das coisas e renovar
o se empenho.
A
comoção de Jesus diante das “ovelhas sem pastor” é sinal da sua preocupação e
do seu amor. Revela a sua sensibilidade e manifesta a sua solidariedade para
com todos os sofredores. A comoção de Jesus convida-nos a sermos sensíveis às
dores e necessidades dos nossos irmãos. Todo ser humano é nosso irmão e tem
direito a esperar de nós um gesto de bondade e de acolhimento. Não podemos
ficar no nosso canto, comodamente instalados, com a consciência em paz, porque
até já fomos à missa e rezamos as orações que a Igreja manda, a ver o nosso
irmão a sofrer. O nosso coração tem de doer, a nossa consciência tem de
questionar-nos, quando vimos um homem ou uma mulher, nem que seja um desconhecido,
nem que seja um estrangeiro, ser magoado, explorado, ofendido, marginalizado,
privado dos seus direitos e da sua dignidade. Um cristão é alguém que tem de
sentir como seus os sofrimentos do irmão.
Assim,
a proposta salvadora e libertadora de Deus, apresentada em Jesus, é agora
continuada pelos discípulos. Os discípulos de Jesus são – como Jesus o foi – as
testemunhas do amor, da bondade e da solicitude de Deus por esses homens e
mulheres que caminham pelo mundo perdidos e sem rumo, “como ovelhas sem
pastor”. As vítimas da economia global, os que são colocados à margem da
sociedade e da vida, os estrangeiros que buscam noutro país condições dignas de
vida e são empurrados de um lado para o outro, os doentes que não têm acesso a
um sistema de saúde eficiente, os idosos abandonados pela família, as crianças
que crescem nas ruas, aqueles que a vida magoou e que ainda não conseguiram
sarar as suas feridas, devem encontrar em
cada um de nós, discípulos de Jesus, o amor, a bondade e a solicitude de Deus. Que o Senhor da Messe e Pastor do Rebanho faça florescer cada vez mais
santas vocações, num mundo onde todos possam dar testemunho do Cristo
Ressuscitado, o pastor por excelência, Assim seja! Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!