domingo, 3 de maio de 2015

Permanecei em Cristo, a Verdadeira Videira


Irmãos e irmãs,
Este 5º Domingo da Páscoa convida-nos a refletir sobre a nossa união a Cristo; e diz-nos que só unidos a Cristo temos acesso à vida verdadeira.

A primeira leitura diz-nos que o cristão é membro de um corpo, o Corpo de Cristo. A sua vocação é seguir Cristo, integrado numa família de irmãos que partilha a mesma fé, percorrendo em conjunto o caminho do amor. É no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece e é na comunidade, unida por laços de amor e de fraternidade, que a nossa vocação se realiza plenamente.
O encontro com Jesus ressuscitado no “caminho de Damasco” constituiu, para Paulo, um momento decisivo. A partir desse encontro, Paulo tornou-se o arauto entusiasta e imparável do projeto libertador de Jesus. A perseguição dos judeus, a oposição das autoridades, a indiferença dos não crentes, a incompreensão dos irmãos na fé, os perigos dos caminhos, as incomodidades das viagens, não conseguiram desencorajá-lo e desarmar o seu testemunho. O exemplo de Paulo recorda-nos que ser cristão é dar testemunho de Jesus e do Evangelho. A experiência que fazemos de Jesus e do seu projeto libertador não pode ser calada ou guardada apenas para nós; mas tem de se tornar um anúncio libertador que, através de nós, chega a todos os nossos irmãos e irmãs. Por isso, a vivência da fé é sempre uma experiência comunitária.

A segunda leitura define o ser cristão como “acreditar em Jesus” e “amar-nos uns aos outros como Ele nos amou”. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo, a “verdadeira videira”. Se praticarmos as obras do amor, temos a certeza de que estamos unidos a Cristo e que a vida de Cristo circula em nós.
Na perspectiva do autor do texto que nos é hoje proposto como segunda leitura, ser cristão é “acreditar em Jesus” e “amar-nos uns aos outros como Ele nos amou”. Quem adere a Jesus e à sua proposta de vida, não pode escolher um outro caminho; o caminho do cristão só pode ser o caminho do amor total, do dom da própria vida, do serviço simples e humilde aos irmãos ao jeito de Jesus. O amor aos irmãos é o distintivo dos seguidores de Jesus, é preciso um empenho sério na construção de uma comunidade cristã que dê cada vez mais testemunho do amor de Jesus…

O Evangelho apresenta Jesus como “a verdadeira videira” que dá os frutos bons que Deus espera. Convida os discípulos a permanecerem unidos a Cristo, pois é d’Ele que eles recebem a vida plena. Se permanecerem em Cristo, os discípulos serão verdadeiras testemunhas no meio dos homens da vida e do amor de Deus. Para definir a situação dos discípulos face a Jesus e face ao mundo, Jesus usa a sugestiva metáfora da videira, dos ramos e dos frutos…
No Antigo Testamento e de forma especial na mensagem profética, a “videira” e a “vinha” eram símbolos do Povo de Deus.  Agora, Jesus apresenta-Se como a verdadeira “videira” plantada por Deus. É Jesus que irá produzir os frutos que Deus espera. E, de Jesus, a verdadeira “videira”, irá nascer um novo Povo de Deus. Hoje, como ontem, Deus continua a ser o agricultor que escolhe as cepas, que as planta e que cuida da sua vinha.
Qual é o lugar e o papel dos discípulos de Jesus, neste contexto? Os discípulos são os “ramos” que estão unidos à “videira” – Jesus - e que dela recebem vida. Estes “ramos”, no entanto, não têm vida própria e não podem produzir frutos por si próprios; necessitam da seiva que lhes é comunicada por Jesus. Por isso, são convidados a permanecer em Jesus. O verbo permanecer é a palavra-chave do nosso texto. Expressa a confirmação ou renovação de uma atitude já anteriormente assumida. Supõe que o discípulo tenha já aderido anteriormente a Jesus e que essa adesão adquira agora estatuto de solidez, de estabilidade, de constância, de continuidade. É um convite a que o discípulo mantenha a sua adesão a Jesus, a sua identificação com Ele, a sua comunhão com ele… Se o discípulo mantiver a sua adesão, Jesus, por sua vez, permanece no discípulo – isto é, continuará fielmente a oferecer ao discípulo a sua vida.
O que é, para o discípulo, estar unido a Jesus? Jesus avisou: “Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” … A “carne” de Jesus é a sua vida; o “sangue” de Jesus é a sua entrega por amor até à morte; assim, “comer a carne e beber o sangue” de Jesus é assimilar a existência de Jesus, feita serviço e entrega por amor, até ao dom total de si mesmo. Está unido a Jesus e permanece n’Ele quem acolhe no coração essa proposta de vida e se compromete com uma existência feita entrega a Deus e aos irmãos, até à doação completa da vida por amor; é algo que depende da decisão livre e consciente do discípulo – uma decisão que tem de ser, aliás, continuamente renovada.
Para os discípulos - “os ramos”, interromper a relação com Jesus significa cortar a relação com a fonte de vida e condenar-se à esterilidade. Quem se recusa a acolher essa vida que Jesus propõe e prefere conduzir a sua existência por caminhos de egoísmo, de autossuficiência, de fechamento, é um ramo seco que não responde à vida que recebe da “videira”. Não produz frutos de amor, mas frutos de morte.
Ora, a comunidade de Jesus - os “ramos” - não pode condenar-se à esterilidade. A sua missão é dar frutos. Por isso, o “agricultor” - Deus - atua no sentido de que o “ramo” - o discípulo - se identifique cada vez mais com a “videira” - Jesus Cristo - e produza frutos de amor, de doação, de serviço, de libertação dos irmãos. A ação de Deus vai no sentido de “limpar” o “ramo” a fim de que ele dê mais fruto. “Limpar” significa chamá-lo a um processo de conversão contínua que o leve a recusar caminhos de egoísmo e de fechamento, para se abrir ao amor. Dito de outra forma: a limpeza dos “ramos” faz-se através de uma adesão cada vez mais fiel a Jesus e à sua proposta de amor. Os discípulos de Jesus estão “limpos”, pois, aderiram a Jesus, são a cada instante confrontados com a sua proposta de vida e respondem positivamente ao desafio que lhes é feito. Se, apesar do esforço de Deus e do seu contínuo chamamento à conversão, o “ramo” se obstina em não produzir frutos condizentes com a vida que lhe é comunicada, ficará à margem da comunidade de Jesus, da comunidade da salvação. É um “ramo” que não pertence a essa “videira”.
Jesus é “a verdadeira videira”, de onde brotam os frutos da justiça, do amor, da verdade e da paz; é n’Ele e nas suas propostas que homens e mulheres podem encontrar a vida verdadeira. Hoje, Jesus, “a verdadeira videira”, continua a oferecer ao mundo e aos homens e mulheres os seus frutos; e fá-lo através dos seus discípulos. A missão da comunidade de Jesus, que hoje caminha pela história, é produzir esses mesmos frutos de justiça, de amor, de verdade e de paz que Jesus produziu. Jesus não criou um gueto fechado onde os seus discípulos podem viver tranquilamente; mas criou uma comunidade viva e dinâmica, que tem como missão testemunhar em gestos concretos o amor e a salvação de Deus. Se os nossos gestos não derramam amor sobre os irmãos que caminham ao nosso lado, se não lutamos pela justiça, pelos direitos e pela dignidade dos outros homens e mulheres, se não construímos a paz e não somos arautos da reconciliação, se não defendemos a verdade, estamos a trair Jesus e a missão que Ele nos confiou. No entanto, o discípulo só pode produzir bons frutos se permanecer unido a Jesus. No dia do nosso Batismo, optamos por Jesus e assumimos o compromisso de O seguir no caminho do amor e da entrega; quando celebramos a Eucaristia, acolhemos e assimilamos a vida de Jesus – vida partilhada com os homens, feita entrega e doação total por amor, até à morte. O cristão tem em Jesus a sua referência, identifica-se com Ele, vive em comunhão com Ele, segue-O a cada instante no amor a Deus e na entrega aos irmãos. O cristão vive de Cristo, vive com Cristo e vive para Cristo.
Assim, a comunidade cristã é o lugar privilegiado para o encontro com Cristo, “a verdadeira videira” da qual somos os “ramos”. É no âmbito da comunidade que celebramos e experimentamos – no Batismo, na Eucaristia, na Reconciliação – a vida nova que brota de Cristo. A comunidade cristã é o Corpo de Cristo; não é possível continuar unido a Cristo e a receber vida de Cristo, em ruptura com os nossos irmãos na fé. Permanecendo em Cristo, como discípulos, se constrói e cresce a Vinha do Senhor, o Corpo de Cristo, que é a Igreja. Desta forma, a vida de Jesus tem de transparecer nos nossos gestos e, a partir de nós, atingir os irmãos e irmãs. Assim seja! Amém.

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