Irmãos
e irmãs,
O 4º Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, no qual Jesus é
apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra
de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.
A
primeira leitura afirma que Jesus é o único Salvador, já que “não existe
debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos”
(neste “Domingo do Bom Pastor” dizer que Jesus é o “único salvador” equivale a
dizer que Ele é o único pastor que nos conduz em direção à vida verdadeira).
Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros
caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação.
A
catequese que Lucas nos propõe neste trecho do livro dos Atos dos Apóstolos,
apresenta Jesus como o único Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro
nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos”. Lucas avisa-nos, desta
forma, para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos,
por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação. Por
vezes, o caminho de salvação que Jesus nos propõe, está em flagrante
contradição com os caminhos de “salvação” que nos são propostos pelos líderes
políticos, pelos líderes ideológicos, pelos líderes da moda e da opinião
pública; e nós temos que fazer escolhas coerentes com a nossa fé e com o nosso
compromisso cristão. Na hora de optarmos, não esqueçamos que a proposta de Jesus
tem o selo de garantia de Deus; não esqueçamos que o caminho proposto por Jesus
(e que, tantas vezes, à luz da lógica humana, parece um caminho de fracasso e
de derrota) é o caminho que nos conduz ao encontro da vida plena e definitiva,
ao encontro do Homem Novo. Assim, os discípulos receberam a missão de
apresentar, ao mundo e aos homens, Jesus Cristo, o único Salvador. É o Espírito
que os anima nessa missão e que lhes dá a coragem para enfrentar a oposição
dessas forças da opressão que recusam a proposta libertadora de Jesus.
Na
segunda leitura, o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar o
amor de Deus pela humanidade. É porque nos ama com um “amor admirável” que Deus
está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de
fragilidade. O objetivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos
“semelhantes” a Ele. O autor desta carta garante-nos: para alcançar a meta da
vida definitiva, é preciso escutar o chamamento de Deus, acolher o seu dom,
viver de acordo com essa vida nova que Deus nos oferece. É aí – e não noutras
propostas efêmeras, parciais, superficiais – que está o segredo da realização
plena do homem e da mulher.
O
Evangelho apresenta Cristo como “o Pastor modelo”, que ama de forma gratuita e
desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por elas. As
ovelhas sabem que podem confiar n’Ele de forma incondicional, pois Ele não
busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O que é decisivo para pertencer
ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para “escutar” as propostas que Ele faz
e segui-l’O no caminho do amor e da entrega.
O
nosso texto começa com uma afirmação lapidar, posta na boca de Jesus: “Eu sou o
Bom Pastor”. O adjetivo “bom” deve, neste contexto, entender-se no sentido de
“modelo”, de “ideal”: “Eu sou o modelo de pastor, o pastor ideal”. E Jesus explica,
logo em seguida, que o “pastor modelo” é aquele que é capaz de se entregar a si
mesmo para dar a vida às suas ovelhas.
Depois
da afirmação geral, Jesus põe em paralelo duas figuras de pastor: o “pastor
mercenário” e o “verdadeiro pastor”. Aquilo que distingue o “verdadeiro pastor”
do “pastor mercenário” é a diferente atitude diante do “lobo”. O “lobo”
representa, nesta “parábola”, tudo aquilo que põe em perigo a vida das ovelhas:
os interesses dos poderosos, a opressão, a injustiça, a violência, o ódio do
mundo.
O
“pastor mercenário” é o pastor contratado por dinheiro. O rebanho não é dele e
ele não ama as ovelhas que lhe foram confiadas. Limita-se a cumprir o seu
contrato, fugindo de tudo aquilo que o pode pôr em perigo a ele próprio e aos
seus interesses pessoais. Limita-se a cumprir determinadas obrigações, sem que
o seu coração esteja com o rebanho. Ele tem uma função de enquadrar o rebanho e
de o dirigir, mas a sua ação é sempre ditada por uma lógica de egoísmo e de
interesse. Por isso, quando sente que há perigo, abandona o rebanho à sua
sorte, a fim de salvaguardar os seus interesses egoístas e a sua posição.
O
verdadeiro pastor é aquele que presta o seu serviço por amor e não por
dinheiro. Ele não está apenas interessado em cumprir o contrato, mas em fazer
com que as ovelhas tenham vida e se sintam felizes. A sua prioridade é o bem
das ovelhas que lhe foram confiadas. Por isso, ele arrisca tudo em benefício do
rebanho e está, até, disposto a dar a própria vida por essas ovelhas que ama.
Nele as ovelhas podem confiar, pois sabem que ele não defende interesses
pessoais mas os interesses do seu rebanho.
Ora,
Jesus é o modelo do verdadeiro pastor. Ele conhece cada uma das suas ovelhas,
tem com cada uma relação pessoal e única, ama cada uma, conhece os seus
sofrimentos, dramas, sonhos e esperanças. Esta relação que Jesus, o verdadeiro
pastor, tem com as suas ovelhas é tão especial, que Ele até a compara à relação
de amor e de intimidade que tem com o próprio Deus, seu Pai. É este amor,
pessoal e íntimo, que leva Jesus a pôr a própria vida ao serviço das suas
ovelhas, e até a oferecer a própria vida para que todas elas tenham vida e vida
em abundância. Quando as ovelhas estão em perigo, Ele não as abandona, mas é
capaz de dar a vida por elas. Nenhum risco, dificuldade ou sofrimento O faz
desanimar. A sua atitude de defesa intransigente do rebanho é ditada por um
amor sem limites, que vai até ao dom da vida.
Depois
de definir desta forma a sua missão e a sua atitude para com o rebanho, Jesus
explica quem são as suas ovelhas e quem pode fazer parte do seu rebanho. Ao
dizer “tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as
reunir”, Jesus deixa claro que a sua missão não se encerra nas fronteiras
limitadas do Povo judeu, mas é uma missão universal, que se destina a dar vida
a todos os povos da terra. A comunidade de Jesus não está encerrada numa
determinada instituição nacional ou cultural. O que é decisivo, para integrar a
comunidade de Jesus, é acolher a sua proposta, aderir ao projeto que Ele
apresenta, segui-l’O. Nascerá, então, uma comunidade única, cuja referência é
Jesus e que caminhará com Jesus ao encontro da vida eterna e verdadeira - “elas
ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor”.
Finalmente,
Jesus explica que a sua missão se insere no projeto do Pai para dar vida aos
homens e mulheres. Jesus assume esse projeto do Pai e dedica toda a sua vida
terrena a cumprir essa missão que o Pai lhe confiou. O que O move não é o seu
interesse pessoal, mas o cumprimento da vontade do Pai. Ao cumprir o projeto de
amor do Pai em nosso favor, Ele está a realizar a sua condição de Filho. Ao dar
a sua vida, Jesus está consciente de que não perde nada. Quem utiliza a vida ao
serviço do projeto de Deus, não perde a vida, mas está a construir para si e
para o mundo a vida eterna e verdadeira. O seu dom não termina em fracasso, mas
em glorificação. Para quem ama, não há morte, pois o amor gera vida verdadeira
e definitiva. A entrega de Jesus não é um acidente ou uma inevitável
fatalidade, mas um gesto livre de alguém que ama o Pai e ama os homens e
escolhe o amor até às últimas consequências. O dom de Jesus é um dom livre,
gratuito e generoso. Na decisão de Jesus em oferecer livremente a vida por
amor, manifesta-se o seu amor pelo Pai e pela humanidade.
O
Evangelho deste domingo diz-nos que, para o cristão, o “Pastor” por excelência
é Cristo. É n’Ele que devemos confiar, é à volta d’Ele que nós devemos juntar,
são as suas indicações e propostas que devemos seguir. O que é decisivo para
entrar a fazer parte do rebanho de Deus é “escutar a voz” de Cristo, aceitar as
suas indicações, tornar-se seu discípulo… Isso significa, concretamente, seguir
Jesus, aderir ao projeto de salvação que Ele veio apresentar, percorrer o mesmo
caminho que Ele percorreu, na entrega total aos projetos de Deus e na doação
total aos irmãos. “Eu sou o Bom Pastor”.
O pastor só tem sentido se ligado a um rebanho. Ele “conhece as suas ovelhas e
as suas ovelhas conhecem-no”. Elas “contam verdadeiramente para ele”. Ele ama
as ovelhas e cuida delas. Vigia-as. Condu-las a boas pastagens, dando-lhes o
bom alimento da Palavra de Deus. Ele vai ao ponto de dar a sua vida pelas suas
ovelhas. Nunca se deve cessar de pedir ao Senhor que suscite sempre bons
pastores para a sua Igreja! Escutar a voz do Bom Pastor! Assim seja! Amém.
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