Irmãos
e irmãs,
Este
6º Domingo da Páscoa convida-nos a contemplar o amor de Deus, manifestado na
pessoa, nos gestos e nas palavras de Jesus e dia a dia tornado presente na vida
dos homens por ação dos discípulos de Jesus.
A
primeira leitura afirma que essa salvação oferecida por Deus através de Jesus
Cristo, e levada ao mundo pelos discípulos, se destina a todos os homens e
mulheres, sem exceção. Para Deus, o que é decisivo não é a pertença a uma raça
ou a um determinado grupo social, mas sim a disponibilidade para acolher a
oferta que Ele faz.
O
nosso texto pretende deixar claro que a salvação oferecida por Deus através de
Jesus Cristo é um dom destinado a todos os homens e mulheres. A salvação só não
chega àqueles que se fecham no orgulho e na autossuficiência, recusando os dons
de Deus. O Batismo foi, para todos nós, o momento do nosso “sim” a Deus e à
salvação que Ele oferece; mas é preciso que, em cada instante, renovemos esse
primeiro “sim” e que vivamos numa permanente disponibilidade para acolher Deus,
as suas propostas, os seus dons.
A
segunda leitura apresenta uma das mais profundas e completas definições de
Deus: “Deus é amor”. A vinda de Jesus ao encontro dos homens e a sua morte na
cruz revelam a grandeza do amor de Deus pelos homens. Ser “filho de Deus” e
“conhecer a Deus” é deixar-se envolver por este dinamismo de amor e amar os
irmãos.
“Deus é amor”. O autor da Primeira Carta de
João não chegou a esta definição de Deus através de raciocínios acadêmicos e
abstratos, mas através da constatação do modo de atuar de Deus em relação aos
homens e mulheres. Sobretudo, ele “viu” o que aconteceu com Jesus e como Jesus
mostrou, em gestos concretos, esse incrível amor de Deus pela humanidade. Se
somos “filhos” desse Deus que é amor, “amemo-nos uns aos outros” com um amor
igual ao de Deus – amor incondicional, gratuito, desinteressado… A vida de Deus
que enche os corações dos crentes deve manifestar-se em gestos concretos de
solidariedade, de serviço, de dom, em benefício de todos os irmãos e irmãs.
No
Evangelho, Jesus define as coordenadas do “caminho” que os seus discípulos
devem percorrer, ao longo da sua marcha pela história… Eles são os “amigos” a
quem Jesus revelou o amor do Pai; a sua missão é testemunhar o amor de Deus no
meio dos homens. Através desse testemunho, concretiza-se o projeto salvador de
Deus e nasce o Homem Novo e a Nova Mulher.
No
texto que nos é proposto no Evangelho de hoje, Jesus procura apontar à sua
comunidade, de ontem, mas também de hoje e de sempre, o verdadeiro “caminho do
discípulo” – o caminho da união a Jesus e ao Pai. Jesus tinha usado, para
tratar este tema, a imagem dos ramos (discípulos) que hão-de dar fruto (missão)
pela sua união com a videira (Jesus), plantada pelo agricultor (Deus); agora,
Jesus fala dos discípulos como “os amigos” que Ele escolheu para colaborarem
com Ele na missão.
Neste
discurso de despedida de Jesus aos discípulos, João propõe-nos uma catequese
onde são apresentadas as principais coordenadas desse “caminho” que os
discípulos devem percorrer, após a partida de Jesus deste mundo. João
refere-se, de forma especial, à relação de Jesus com os discípulos e à missão
que os discípulos serão chamados a desempenhar no mundo.
A
relação do Pai com Jesus é o modelo da relação de Jesus com os discípulos. O
Pai amou Jesus e demonstrou-Lhe sempre o seu amor; e Jesus correspondeu ao amor
do Pai, cumprindo os seus mandamentos… Da mesma forma, Jesus amou os discípulos
e demonstrou-lhes sempre o seu amor; e os discípulos devem corresponder ao amor
de Jesus, cumprindo os seus mandamentos.
João
refere-se aqui, evidentemente, ao cumprimento do projeto de salvação que Deus
tinha para os homens e mulheres e que confiou a Jesus. Jesus, com absoluta
fidelidade, cumpriu os “mandamentos” do Pai e apresentou-nos uma proposta de
salvação… Libertou-nos da opressão da Lei, lutou contra as estruturas que
escravizavam os homens e os mantinham prisioneiros das trevas; ensinou os
homens a viver no amor – no amor que se faz serviço, doação, entrega até às
últimas consequências. Apresentou-lhes, dessa forma, um caminho de liberdade e
de vida plena. Da ação de Jesus nasceu o Homem Novo e Nova Mulher, livre do
egoísmo e do pecado, capaz de estabelecer novas relações com Deus.
Os
discípulos são o fruto da obra de Jesus. Eles formam uma comunidade de homens e
mulheres livres, que acolheram e assimilaram a proposta salvadora que o Pai
lhes apresentou em Jesus. Eles nasceram do amor do Pai, amor que se fez
presente na ação, nos gestos, nas palavras de Jesus.
Agora
os discípulos, nascidos da ação de Jesus, estão vinculados a Jesus. Devem,
portanto, cumprir os “mandamentos” de Jesus como Jesus cumpriu os “mandamentos”
do Pai. Eles devem, como Jesus, ser testemunhas da salvação de Deus e levar a
libertação aos irmãos. Essa proposta que Jesus faz aos discípulos é uma
proposta que conduz à vida, à realização plena, à alegria.
A
proposta de salvação que Jesus resume-se no amor - “é este o meu mandamento:
que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei”. Jesus amou totalmente, até às
últimas consequências, até ao dom da vida. Como Jesus, através do amor,
manifestou aos homens a salvação de Deus, assim também devem fazer os
discípulos. Eles devem amar-se uns aos outros com um amor que é serviço simples
e humilde, doação total, entrega radical. Desse amor nasce a comunidade do
Reino, a comunidade do mundo novo, que testemunha, através do amor, a salvação
de Deus. Deus faz-Se presente no mundo e age para libertar-nos através desse
amor desinteressado, gratuito, total, que tem a marca de Jesus e que os
discípulos são chamados a testemunhar.
As
palavras de Jesus aos discípulos na “ceia de despedida” deixam claro, antes de
mais, que os discípulos não estão sozinhos e perdidos no mundo, mas que o
próprio Jesus estará sempre com eles, oferecendo-lhes em cada instante a sua
vida. Este é o primeiro grande ensinamento do nosso texto: a comunidade de
Jesus continuará, ao longo da sua marcha pela história, a receber vida de Jesus
e a ser acompanhada por Jesus. Nos momentos de crise, de desilusão, de
frustração, de perseguição, não podemos esquecer que Jesus continua ao nosso
lado, dando-nos coragem e esperança, lutando conosco para vencer as forças da
opressão e da morte.
Os
discípulos são os “amigos” de Jesus. Jesus escolheu-os, chamou-os, partilhou com
eles o conhecimento e o projeto do Pai, associou-os à sua missão; estabeleceu
com eles uma relação de confiança, de proximidade, de intimidade, de comunhão.
Este tipo de relação que Jesus quis estabelecer com os discípulos não exclui,
no entanto, que Ele continue a ser o centro e a referência, à volta da qual se
constrói a comunidade dos discípulos.
Os
“amigos” de Jesus devem amar como Ele amou. Jesus cumpriu os “mandamentos” do
Pai – isto é, o projeto de Deus para salvar e libertar os homens – fazendo da
sua vida um dom total de amor, sem limites nem condições; a cruz é a expressão
máxima dessa vida vivida exclusivamente para os outros. É esse o caminho que
Jesus propõe aos seus discípulos:“é este o meu mandamento: que vos ameis uns
aos outros como Eu vos amei”. É aqui que reside a “identidade” dos discípulos
de Jesus… Os cristãos são aqueles que testemunham diante do mundo, com palavras
e com gestos, que o mundo novo que Deus quer oferecer aos homens e mulheres, se
constrói através do amor, pois, “Como o Pai Me amou, também Eu vos amei”. Assim
seja! Amém.
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