Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo convida-nos a descobrir esse Cristo vivo que acompanha-nos pelos
caminhos do mundo, que com a sua Palavra anima os corações magoados e desolados,
que se revela sempre que a comunidade dos discípulos se reúne para “partir o
pão”; apela, ainda, a que os discípulos sejam as testemunhas da ressurreição.
A
primeira leitura mostra, através da história de Jesus, como do amor que se faz
dom a Deus e aos irmãos, brota sempre ressurreição e vida nova; e convida a
comunidade de Jesus a testemunhar sempre essa realidade. O texto que nos é
proposto resume, pois, os dados fundamentais da catequese cristã primitiva, Jesus
passou pelo mundo realizando gestos que testemunhavam a dinâmica de Deus e a
sua proposta de salvação; a proposta de Jesus chocou com a recusa do mundo e Ele
foi morto na cruz; no entanto, Deus ressuscitou-O, mostrando que uma vida posta
ao serviço do projeto de Deus não pode terminar no fracasso, mas conduz à ressurreição,
à vida plena. Pedro é aqui o porta-voz dessa comunidade que testemunhou a
oferta de salvação que Jesus veio trazer e que recebeu de Jesus a missão de a
anunciar a salvação a todos (as). Temos aqui, portanto, o testemunho da comunidade
cristã sobre Jesus, o Messias, enviado ao mundo para cumprir o plano de Deus,
isto é, para libertar e para instaurar um Reino de justiça, de abundância, de
paz. A vitória de Jesus sobre a morte e a sua exaltação atestam que Ele é esse
Messias, enviado por Deus com uma proposta de salvação. Os cristãos são as
testemunhas disto diante de todo o mundo.
A
segunda leitura convida-nos a contemplar com olhos de ver o projeto salvador de
Deus, o amor de Deus expresso na cruz de Jesus e na sua ressurreição.
Constatando a grandeza do amor de Deus, aceitamos o seu apelo a uma vida nova. O
cristão é, pois, convidado a contemplar o plano de salvação que Deus quer
concretizar em favor da humanidade e que leva Jesus, o Filho de Deus, a morrer
na cruz. Constatando a grandeza do amor de Deus e a sua vontade salvífica, homens
e mulheres aceitam renascer para uma vida nova e santa, mesmo no meio das
dificuldades e perseguições. Dessa forma, nascerá um Povo novo, consagrado ao
serviço de Deus.
O
Evangelho que nos é proposto põe Cristo, vivo e ressuscitado, a caminhar ao
lado dos discípulos, a explicar-lhes as Escrituras, a encher-lhes o coração de
esperança e a sentar-Se com eles à mesa para “partir o pão”. É aí que os
discípulos O reconhecem.
A
cena coloca-nos, em primeiro lugar, diante de dois discípulos que vão a caminho
de Emaús. Um chama-se Cléofas; o outro não é identificado, como se Lucas
quisesse dizer que podia ser “qualquer um” dos que creem e que tomam
conhecimento da história. Os dois estão, nitidamente, tristes e desanimados,
pois, os seus sonhos de triunfo e de glória ao lado de Jesus ruíram pela base,
aos pés de uma cruz. Esse Messias poderoso, capaz de derrotar os opressores, de
restaurar o reino grandioso de David. Em lugar de triunfar, deixou-Se matar numa
cruz; e a sua morte é um fato consumado, pois, “é já o terceiro dia depois que
isto aconteceu”, o “terceiro dia” após a morte é considerado o dia da morte
definitiva, do não regresso do túmulo. Abandonam a comunidade, que doravante,
não parece fazer qualquer sentido e regressam à sua aldeia, dispostos a
esquecer o sonho, a pôr os pés na terra e a enfrentar, de novo, uma vida dura e
sem esperança. A discussão entre eles a propósito de “tudo o que tinha
acontecido” deve entender-se neste patamar, essa partilha solidária dos sonhos
desfeitos que torna menos doloroso o desencanto.
Na
sequência do relato introduz no quadro uma nova personagem, Jesus. Ele faz-se
companheiro de viagem destes discípulos em caminhada, interroga-os sobre “o que
se passou nestes dias” em Jerusalém, escuta as suas preocupações, torna-se o
confidente da sua frustração. Os dois homens contam a história do “mestre” cuja
proposta os seduziu; mas a versão que contam termina no túmulo, falta, na sua descrição, a fé no Senhor
ressuscitado, ainda que conheçam a tradição do túmulo vazio. Para responder às
inquietações dos dois discípulos e para lhes demonstrar que o projeto de Deus
não passava por quadros de triunfo humano, mas pelo amor até às últimas consequências
e pelo dom da vida, “começando por Moisés e passando pelos profetas,
explicou-lhes em todas as Escrituras o que lhe dizia respeito”.
É
na escuta e na partilha da Palavra que o plano salvador de Deus ganha sentido,
só através da Palavra de Deus, explicada, meditada e acolhida, os que creem
pode perceber que o amor até às últimas consequências e o dom da vida não são
um fracasso, mas geram vida nova e definitiva. A escuta da Palavra de Deus dá a
entender ao cristão a lógica de Deus e demonstra-lhe que a vida oferecida como
dom não é perdida, mas é semente de vida plena. Os discípulos percebem, então,
que “o messias tinha de sofrer tudo isso para entrar na glória”, a vida plena e
definitiva não está de acordo com os esquemas de Deus, nos êxitos humanos, nos
tronos, no poder; mas está no serviço simples e humilde aos irmãos, no dom da
vida por amor, na partilha total daquilo que somos e que temos com os irmãos
que caminham lado a lado conosco nos caminhos da vida.
Os
três, Jesus, Cléofas e o discípulo não identificado, chegam, finalmente, a
Emaús. Os discípulos continuam a não reconhecer Jesus, mas convidam-n’O a ficar
com eles. Ele aceita e sentam-se à mesa. Enquanto comiam, Jesus “tomou o pão,
recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho”. As palavras usadas por Lucas para
descrever os gestos de Jesus evocam a celebração eucarística da Igreja
primitiva. Dessa forma, Lucas recorda aos membros da sua comunidade que é
possível encontrar Jesus vivo e ressuscitado, esse Jesus que por amor enfrentou
a cruz, mas que continua a fazer-Se companheiro de caminhada nos caminhos da
história. Assim, na celebração eucarística dominical sempre que os irmãos se
reúnem em nome de Jesus para “partir o pão”, Jesus lá está, vivo e atuante, no
meio deles. A última cena da nossa história põe os discípulos a retomar o
caminho, a regressar a Jerusalém e a anunciar aos irmãos que Jesus está, efetivamente,
vivo.
Portanto,
Jesus está vivo e caminha ao nosso lado nos caminhos do mundo. Às vezes, não
conseguimos reconhecê-l’O, pois, os nossos corações estão cheios de
perspectivas erradas acerca do que Ele é, dos seus métodos e do que Ele
pretende; mas, apesar de tudo, Ele faz-Se nosso companheiro de viagem, caminha
conosco passo a passo, alimenta a nossa caminhada com a esperança que brota da
sua Palavra, faz-Se encontrar na partilha comunitária do pão, Eucaristia..
A
nossa narração apresenta o esquema litúrgico da celebração eucarística, a
liturgia da Palavra, a “explicação das Escrituras” que permite aos discípulos
entenderem a lógica do plano de Deus em relação a Jesus e o “partir do pão”, que
faz com que os discípulos entrem em comunhão com Jesus, recebam d’Ele vida e
que O reconheçam nesses gestos que são o “memorial” do dom da vida e da entrega.
Desta forma, depois de fazer a experiência do encontro com Cristo vivo e
ressuscitado na celebração eucarística, cada pessoa que crê é convidado a
voltar à estrada, a dirigir-se ao encontro dos irmãos e irmãs e a testemunhar
que Jesus está vivo e presente na história e na caminhada de homens e mulheres.
Na
nossa caminhada pela vida, fazemos, frequentemente, a experiência do
desencanto, do desalento, do desânimo. As crises, os fracassos, o
desmoronamento daquilo que julgávamos seguro e em que apostamos tudo, a
falência dos nossos sonhos deixam-nos frustrados, perdidos, sem perspectivas.
Então, parece que nada faz sentido e que Deus desapareceu do nosso horizonte.
No entanto, a catequese que Lucas propõe-nos hoje e garante-nos que Jesus, vivo
e ressuscitado, caminha ao nosso lado. Ele é esse companheiro de viagem que
encontra formas de vir ao nosso encontro, mesmo se nem sempre somos capazes de
O reconhecer e de encher o nosso coração de esperança. Assim, sempre que nos
sentamos à mesa com a comunidade e partilhamos o pão que Jesus nos oferece,
damo-nos conta de que o Ressuscitado continua vivo, caminhando ao nosso lado,
alimentando-nos ao longo da caminhada, ensinando-nos que a felicidade está no
dom, na partilha, no amor. “Fica conosco Senhor”, pois, sempre que nos juntamos com os irmãos à volta da
mesa de Deus, celebrando na alegria e na festa o amor, a partilha e o serviço,
encontramos o Ressuscitado a encher a nossa vida de sentido, de plenitude, de
vida autêntica. É na celebração comunitária da
Eucaristia que fazemos a experiência do encontro com Jesus vivo e ressuscitado.
Assim seja! Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!