Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo, segundo Domingo da Páscoa, apresenta-nos essa comunidade Nova, que
nasce da cruz e da ressurreição de Jesus, a Igreja. A sua missão consiste em
revelar-nos a vida nova que brota da ressurreição.
Na
primeira leitura temos, na “fotografia” da comunidade cristã de Jerusalém, os
traços da comunidade ideal: é uma comunidade fraterna, preocupada em conhecer
Jesus e a sua proposta de salvação, que se reúne para louvar o seu Senhor na
oração e na Eucaristia, que vive na partilha, na doação e no serviço e que
testemunha, com gestos concretos, a salvação que Jesus veio propor ao mundo.
Assim,
a comunidade ideal é uma comunidade de irmãos, identificada com Cristo e da
vida de Cristo que anima cada pessoa, em torno do mesmo corpo, o Corpo de
Cristo; é uma comunidade assídua ao ensino dos apóstolos, empenhada em conhecer
e acolher a proposta de salvação que vem de Jesus, através do testemunho dos
apóstolos; é uma comunidade que celebra liturgicamente a sua fé, com dois
momentos celebrativos fundamentais: a “fração do pão” e as “orações”; é uma comunidade
que partilha os bens, tem abertura de coração para a partilha, para o dom, para
o amor; finalmente, é uma comunidade que dá testemunho, os gestos realizados
pelos apóstolos infundiam em todos aqueles que os testemunhavam a inegável
certeza da presença de Deus e dos seus dinamismos de salvação. Portanto, a primitiva comunidade cristã,
nascida do dom de Jesus e do Espírito é verdadeiramente uma comunidade de
homens e mulheres novos, que dá testemunho da salvação e que anuncia a vida
plena e definitiva. E o Livro dos Atos
apresenta-nos este belo projeto de vida, da primeira comunidade cristã, escutar
o ensino dos Apóstolos, viver em comunhão fraterna, partir o pão, participar
nas orações, partilhar com os irmãos em necessidade, pois, da celebração comunitária da fé, sai uma comunidade.
A
segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã que a identificação de
cada pessoa com Cristo, com a sua entrega por amor ao Pai e aos homens e
mulheres, conduzirá à ressurreição. Por isso, somos convidados a percorrer a
vida com esperança, apesar das dificuldades, dos sofrimentos e da hostilidade
do “mundo”, de olhos postos nesse horizonte onde se desenha a salvação
definitiva.
O
autor lembra-nos que pelo batismo, identificamos com Cristo, renascemos para
uma vida nova, de que a ressurreição de Cristo é modelo e sinal. Desta forma, conscientes
de que Deus oferece a salvação àqueles que se identificam com Jesus, vivemos na
alegria e na esperança, pois, aconteça o que acontecer, está reservada a vida
plena e definitiva. Somos ainda, convidados a tomar consciência de que o
sofrimento pode ser, também, um caminho, percurso existencial dos que creem, cumprido
simultaneamente na alegria e na dor, é sempre uma caminhada animada pela esperança
da salvação definitiva, a fim de chegarmos, com Ele, à ressurreição.
No
Evangelho sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da
comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que
ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as
perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade, em seu amor e no seu
testemunho, que encontramos as provas de que Jesus está vivo.
A
comunidade criada a partir da ação de Jesus está reunida no cenáculo, em
Jerusalém. Está desamparada e insegura, cercada por um ambiente hostil. O medo
vem do fato de não terem ainda feito a experiência de Cristo ressuscitado. A
indicação de que estamos no “primeiro dia da semana” faz, outra vez, referência
ao tempo novo, a esse tempo que se segue à morte/ressurreição de Jesus, ao
tempo da nova criação.
O
texto que nos é proposto divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira
parte, descreve-se uma “aparição” de Jesus aos discípulos. Depois de sugerir a
situação de insegurança e de fragilidade em que a comunidade estava, o
“anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”, João apresenta Jesus “no centro”
da comunidade. Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-se como ponto de
referência, fator de unidade, videira à volta da qual se enxertam os ramos. A
comunidade está reunida à volta d’Ele, pois Ele é o centro onde todos vão beber
essa vida que lhes permite vencer o “medo” e a hostilidade do mundo. A esta
comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil, Jesus transmite
duplamente a paz, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança,
vida plena. Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os
assustava, a morte, a opressão, a hostilidade do mundo; e que, doravante, os
discípulos não têm qualquer razão para ter medo.
Depois,
Jesus revela a sua “identidade”, nas mãos e no lado traspassado, estão os
sinais do seu amor e da sua entrega. É nesses sinais de amor e de doação que a
comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses
“sinais” indica a permanência do amor de Jesus, Ele será sempre o Messias que
ama e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.
Em seguida, Jesus “soprou” sobre os discípulos reunidos à sua volta, conforme
Gênesis; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará
deles homens novos. Agora, os discípulos possuem o Espírito, a vida de Deus,
para poderem, como Jesus, dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que
constitui e anima a comunidade de Jesus.
Na
segunda parte, apresenta-se uma catequese sobre a fé, em como é que se chega à
fé em Cristo ressuscitado. João revela-nos que podemos fazer a experiência da
fé em Cristo vivo e ressuscitado na comunidade dos que creem, que é o lugar
natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé representa aqueles
que vivem fechados em si próprios, está fora e que não faz caso do testemunho
da comunidade, nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em
lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter, apenas
para si próprio, uma demonstração particular de Deus.
Tomé
acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da
comunidade. Pois, no “dia do Senhor” volta a estar com a sua comunidade. É uma
menção clara ao Domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a
Eucaristia, é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a
Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus
ressuscitado.
A
comunidade cristã gira em torno de Jesus, constrói-se à volta de Jesus e é
d’Ele que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis,
incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de
gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva
e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito, e não seremos uma
comunidade de irmãos.
Assim,
a experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas, todos os
cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência. A comunidade
tem de ser o lugar onde fazemos verdadeiramente a experiência do encontro com
Jesus ressuscitado. É o diálogo comunitário, a Palavra partilhada, o pão
repartido e o amor, que une os irmãos em comunidade de vida. Nos gestos de
amor, partilha, serviço, encontro, fraternidade, encontramos Jesus vivo, a
transformar e a renovar o mundo. Assim seja! Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!