Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo, o quarto Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom
Pastor”, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o
tema central que a Palavra de Deus põe hoje à nossa reflexão.
A
primeira leitura mostra-nos de forma bastante completa, o percurso que Cristo,
“o Pastor”, desafia-nos a percorrer, é preciso converter-se, isto é, deixar os
esquemas de escravidão, ser batizado, aderir a Jesus e segui-l’O e receber o Espírito
Santo, acolher no coração a vida de Deus e deixar-se recriar, vivificar e
transformar por ela.
A
adesão a Jesus traduz-se num gesto: o “receber o batismo”. “Pedir o batismo” é
reconhecer que Jesus tem uma proposta de salvação e vida nova, optar por essa
vida nova que Jesus propõe e incorporar-se à comunidade dos que seguem Jesus.
Assim, receber o batismo significa receber o Espírito Santo; ao optar por
Cristo, aquele que crê acolhe no seu coração a vida de Deus e a sua existência
passa a ser animada por um dinamismo divino que, continuamente, implica o
acolher Jesus como o salvador e segui-l’O, no caminho do amor, da entrega, do
dom da vida.
A
segunda leitura apresenta-nos Cristo como “o Pastor” que guarda e conduz as
suas ovelhas. No contexto concreto em que a leitura nos coloca, seguir “o
Pastor” é responder à injustiça com o amor, ao mal com o bem.
No
centro da leitura que aqui nos é proposta está o exemplo de Cristo: Ele sofreu
sem ter feito mal nenhum; maltratado pelos inimigos, não respondeu com agressão
e vingança; pelo dom da sua vida, eliminou o pecado que afastava os homens de Deus
e uns dos outros; por isso, Ele é o Pastor que conduz e guarda os que creem. Do
exemplo de Cristo, o autor da carta tira as consequências para a vida dos
cristãos, como Cristo, somos chamados a responder às ofensas e injustiças com
bondade e mansidão. Isto é “uma graça aos olhos de Deus”, quer dizer, é uma
atitude agradável a Deus e é uma atitude que resulta da graça de Deus. É nessa
atitude de bondade e de mansidão que se manifesta a graça de Deus.
O
Evangelho apresenta Cristo como “o Bom Pastor”, cuja missão é libertar o
rebanho de Deus do domínio da escravidão e levá-lo ao encontro das pastagens
verdejantes onde há vida em plenitude, ao contrário dos falsos pastores, cujo
objetivo é só aproveitar-se do rebanho em benefício próprio. Jesus vai cumprir
com amor essa missão, no respeito absoluto pela identidade, individualidade e
liberdade das ovelhas. Então, a catequese que o Evangelho nos oferece sobre o
“Bom Pastor” sugere que a promessa de Deus, veiculada por Ezequiel, se cumpre
em Jesus. E o texto do Evangelho, que hoje nos é proposto, está dividido em
duas partes, ou em duas parábolas.
Na
primeira parábola, Jesus apresenta-se preferencialmente como “o Pastor”, cuja
ação se contrapõe a esses dirigentes judeus que se arrogam o direito de
pastorear o “rebanho” do Povo de Deus, mas sem serem “pastores”. Jesus não usa
meias palavras, os dirigentes judeus são ladrões e bandidos, que se servem das
suas prerrogativas para explorar o Povo e usam a violência para o manter sob a
sua escravidão. Aproximam-se do Povo de Deus de forma abusiva e ilegítima,
porque Deus não lhes confiou essa missão, “não entram pela porta”, foram eles
que a usurparam. O seu objetivo não é o bem das “ovelhas”, mas o seu próprio
interesse.
Ao
contrário, Jesus é “o Pastor” que entra pela porta, ele tem um mandato de Deus
e a sua missão foi-Lhe confiada pelo Pai. Em Ezequiel, o papel do “pastor”
correspondia, em primeiro lugar, a Deus e ao futuro enviado de Deus, o
“Messias” descendente de David. Ao apresentar-se como Aquele “que entra pela
porta”, com autoridade legítima, Jesus declara-Se, implicitamente, o “Messias”
enviado por Deus para conduzir o seu Povo e para o guiar para as pastagens onde
há vida em plenitude. Ele entra no redil das “ovelhas” para cuidar delas, não
para as explorar. A sua missão é libertá-las das trevas em que os dirigentes as
trazem e conduzi-las ao encontro da luz libertadora.
Como
é que Jesus exercerá a sua missão de “pastor”? Em primeiro lugar, irá chamar as
“ovelhas”. “Chama-as pelo seu nome”, porque conhece cada uma e com cada uma
quer ter uma relação pessoal de amor, de proximidade, de comunhão: para Jesus,
não há “massas”, mas pessoas concretas, com a sua identidade própria, com a sua
riqueza, com a sua dignidade. Não obrigará ninguém a responder-Lhe; mas os que
responderem ao seu chamamento farão parte do seu “rebanho”. A esses, Jesus
conduzi-los-á “para fora”, Jesus não veio instalar-Se na antiga instituição
judaica, geradora de opressão e de escravidão; mas veio criar uma comunidade
humana nova, a comunidade do novo Povo de Deus. Depois, o “pastor” caminhará
“diante das ovelhas” e estas segui-l’O-ão. Ele indica-lhes o caminho, pois Ele
próprio é “o caminho” que leva à vida plena. As “ovelhas” seguem-n’O, “seguir”
traduz a atitude do discípulo, convidado a seguir Jesus no caminho do amor e do
dom da vida, a fazer d’Ele a sua referência fundamental, a aderir a Ele de todo
o coração. As “ovelhas” “escutam a sua voz”, porque sabem que só a voz de Jesus
as conduz, com segurança, ao encontro da vida definitiva.
Na
segunda parábola, Jesus apresenta-Se como “a porta”. Aqui, Ele já não é o
pastor legítimo que passa pela porta, mas “a porta”. A
imagem da porta pode aplicar-se aos líderes que pretendem ter acesso ao “rebanho”, ou
pode aplicar-se às próprias “ovelhas”. No que diz respeito aos líderes,
significa que ninguém pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver um mandato
de Jesus, se não tiver sido convidado por Jesus; e significa também que ninguém
pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver os mesmos sentimentos, a mesma
atitude de Jesus, que não é a de explorar as “ovelhas”, mas a de dar-lhes vida.
No
que diz respeito às “ovelhas”, significa que Jesus é o único lugar de acesso
para que as “ovelhas” possam encontrar as pastagens que dão vida. “Passar pela
porta” que é Jesus significa aderir a Ele, segui-l’O, acolher as suas
propostas. As “ovelhas” que passam pela porta que é Jesus, isto é, que aderem a
Ele, podem passar para a terra da liberdade, onde não mandam os dirigentes que
exploram e roubam, onde encontrarão “pastos”, vida em plenitude.
O
nosso texto termina com a reafirmação do contraste entre Jesus e os dirigentes,
os líderes religiosos judaicos utilizam o “rebanho” para satisfazer os seus
próprios interesses egoístas, despojam e exploram o povo; mas Jesus só procura
que o seu “rebanho” encontre vida em plenitude. Assim, ao propor-nos a figura
bíblica do “Bom Pastor”, o Evangelho convida-nos a refletir sobre o serviço da
autoridade… Propõe como modelo ou de “Pastor” uma figura que oferece a vida,
que serve, que respeita a liberdade das pessoas, que se dedica totalmente, que
ama gratuitamente.
Para
os cristãos, “o Pastor” por excelência é Cristo, Ele recebeu do Pai a missão de
conduzir o “rebanho” de Deus das trevas para a luz, da escravidão para a
liberdade, da morte para a vida. Para que distingamos a “voz” de Jesus de
outros apelos, de propostas enganadoras, de “cantos de sereia” que não conduzem
à vida plena, é preciso um permanente diálogo íntimo com “o Pastor”, um
confronto permanente com a sua Palavra e a participação ativa nos sacramentos
onde se nos comunica essa vida que “o Pastor” nos oferece. As “ovelhas” do
rebanho de Jesus têm de “escutar a voz” do “Pastor” e segui-l’O. Isso
significa, concretamente, tornar-se discípulo, aderir a Jesus, percorrer o
mesmo caminho que Ele percorreu, na entrega total aos projetos de Deus e na
doação total aos irmãos.
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