Irmãs
e irmãs,
Neste
Santo Domingo celebramos a manifestação de Jesus a todos os povos … Ele é uma
“luz” que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra.
Cumprindo o projeto libertador que o Pai nos queria oferecer, Jesus é a luz que
atrai a Si todos os povos da terra, essa “luz” encarnou na nossa história,
iluminou os nossos caminhos, conduziu-os ao encontro da salvação e
libertação, da vida definitiva.
A
primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Javé, que transfigurará
Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo. Essa nova
Jerusalém levantar-se-á quando chegar a luz salvadora de Deus, que dará à cidade
um novo rosto. Nesse dia, Jerusalém vai atrair os olhares de todos os que
esperam a salvação. Como consequência, a cidade será abundantemente repovoada, com
o regresso de muitos “filhos” e “filhas” que, até agora, assustados pelas
condições de pobreza e de instabilidade, ainda não se decidiram a regressar;
além disso, povos de toda a terra – atraídos pela promessa do encontro com a
salvação de Deus – convergirão para Jerusalém, inundando-a de riquezas, para o
serviço do Templo e cantando os louvores de Deus.
Assim,
o projeto de libertação que Jesus veio apresentar será a luz que vence as
trevas do pecado e da opressão e que dá ao mundo um rosto mais brilhante de
vida e de esperança. Reconhecemos em Jesus a “luz” libertadora de Deus? Estamos
dispostos a aceitar que essa “luz” nos liberte das trevas e do pecado? Será
que, através de nós, essa “luz” atinge o mundo e o coração dos nossos irmãos e
transforma tudo numa nova realidade?
A
segunda leitura apresenta o projeto salvador de Deus como uma realidade que vai
atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos
– a comunidade de Jesus. O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo
que o autor chama “o mistério”: trata-se do projeto salvador de Deus, definido
e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado
plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos “últimos tempos”, tornado
presente no mundo pela Igreja.
A
Paulo, apóstolo como os Doze, também foi revelado “o mistério”. É esse
“mistério” que Paulo aqui desvela aos crentes da Ásia Menor… Paulo insiste que,
em Cristo, chegou a salvação definitiva, Cristo é a revelação e a realização plena
deste projeto de salvação; e essa salvação não se destina exclusivamente aos
judeus, mas destina-se a todos os povos da terra, sem exceção. Paulo é, por
chamamento divino, o arauto desta novidade… Percebemos, assim, porque é que
Paulo se fez o grande arauto da “boa nova” de Jesus entre os pagãos… Agora,
judeus e gentios são membros de um mesmo e único “corpo”, o “corpo de Cristo”
ou Igreja, partilham o mesmo projeto salvador que os faz, em igualdade de
circunstâncias com os judeus, “filhos de Deus” e todos participam da promessa
feita por Deus a Abraão – promessa cuja realização Cristo levou a cabo. Destinatários,
todos, do mistério, somos “filhos de Deus” e irmãos uns dos outros. Essa
fraternidade implica o amor sem limites, a partilha, a solidariedade…
No
Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os
“magos” do oriente, representantes de todos os povos da terra… Atentos aos
sinais da chegada do Messias, procuram-n’O com esperança até O encontrar,
reconhecem n’Ele a “salvação de Deus” e aceitam-n’O como “o Senhor” e O adoram.
A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que
Deus oferece a todos os homens, sem exceção, torna-se agora uma oferta
universal. Isto é, não é apenas ao Povo Escolhido, ao Israel da Primeira
Aliança, que o Filho de Deus é enviado.
Notemos,
em primeiro lugar, a insistência de Mateus no fato de Jesus ter nascido em Belém
de Judá. Para entender esta insistência, temos de recordar que Belém era a
terra natal do rei David e que era a Belém que estava ligada a família de
David. Afirmar que Jesus nasceu em Belém é ligá-lo a esses anúncios proféticos
que falavam do Messias como o descendente de David que havia de nascer em Belém
e restaurar o reino ideal de seu pai. Com isso, Mateus quer aquietar aqueles
que pensavam que Jesus tinha nascido em Nazaré e que viam nisso um obstáculo
para O reconhecerem como o Messias libertador.
Em
segundo lugar, a referência a uma estrela “especial” que apareceu no céu por
esta altura e que conduziu os “magos” para Belém. Pois, segundo a crença
popular da época, o nascimento de um personagem importante era acompanhado da
aparição de uma nova estrela. Também a tradição judaica anunciava o Messias
como a estrela que surge de Jacob.
Temos,
ainda, as figuras dos “magos”. Esses “magos” representam, na catequese de
Mateus, esses povos estrangeiros de que falava a primeira leitura, que se põem
a caminho de Jerusalém com as suas riquezas, ouro e incenso, para encontrar a
luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade santa. Jesus é, na opinião de
Mateus e da catequese da Igreja primitiva, essa “luz”. E os “magos” são
apresentados como os “homens dos sinais”, que sabem ver na “estrela” o sinal da
chegada da libertação. Os “magos” representam pessoas de todo o mundo que vão
ao encontro de Cristo, que acolhem a proposta libertadora que Ele traz e que se
prostram diante d’Ele. É a imagem da Igreja – essa família de irmãos,
constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O
reconhecem como o seu Senhor... Somos pessoas atentas aos “sinais” – isto é,
somos capazes de ler os acontecimentos da nossa história e da nossa vida à luz
de Deus? Procuramos perceber nos “sinais” que aparecem no nosso caminho a
vontade de Deus?
Impressiona
também, no relato de Mateus, a “desinstalação” dos “magos”: viram a “estrela”,
deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram procurar Jesus. Somos capazes da mesma
atitude de desinstalação, ou estamos demasiado presos as coisas do mundo? Somos
capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz através dos
irmãos?
Além
de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas
atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o Povo de Israel
rejeita Jesus, enquanto que os “magos” do oriente, que são pagãos, O adoram;
Herodes e Jerusalém “ficam perturbados” diante da notícia do nascimento do
menino e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria
e reconhecem em Jesus o seu salvador.
Mateus
anuncia, desta forma, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo; mas vai ser
acolhido pelos pagãos, que entrarão a fazer parte do novo Povo de Deus. O
itinerário seguido pelos “magos” reflete a caminhada que os pagãos percorreram
para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais - estrela, percebem que Jesus é
a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para o encontrar,
perguntam aos judeus – que conhecem as Escrituras – o que fazer, encontram
Jesus e adoram-n’O como “o Senhor”.
Ao
celebrar a Epifania do Senhor, termo grego que traduzimos como “manifestação”,
a Igreja exalta a dimensão universal da salvação. Ninguém está excluído. Todo
nacionalismo ou qualquer sonho de superioridade étnica ou cultural é
prontamente abandonado, pois, o batismo cristão lança por terra as diferenças
humanas.
Com
a solenidade da Epifania do Senhor, encerramos o ciclo do Advento-Natal. No
Ocidente, a partir de uma forte devoção desenvolvida na Idade Média, a Epifania
passou a ser a “festa dos reis magos”, motivando a origem da festa popular denominada
de “folia de reis”. Os magos são atraídos e conduzidos por sua estrela. A
solenidade da epifania, associada à visita dos magos do Oriente ao
recém-nascido, Jesus de Nazaré, é a festa da universalidade da salvação de
Deus. Desde todo o sempre, o Deus criador de todas as coisas quis atrair a si
todas as pessoas. Com o nascimento daquele que é “o Sol de Justiça”, plenitude
e razão de toda a criação, Deus reúne em torno do seu Filho único todos os
povos. Em Jesus, o Senhor desperta nos povos o desejo de Deus. Olhando para a
estrela, chega-se a Deus feito homem. A inclinação diante do menino é o ato de
reconhecimento e submissão ao rei, não somente dos judeus, mas de toda a terra.
Os presentes oferecidos são a confissão da fé de todos os povos na divindade,
na realeza e no sacerdócio do Verbo que assumiu a nossa humanidade.
Desta
forma, nos passos dos Magos… Como os Magos, ponhamo-nos a caminho. Tenhamos
confiança. Como eles, ergamos os olhos. A luz vem de Deus, deixemo-nos
iluminar. Como eles, procuremos, não tenhamos demasiadas certezas. Tenhamos
somente convicções, descubramos os sinais de uma presença. Como eles,
ofereçamos presentes: oração, respeito, devoção. Procuremos agradar a Deus e
aos irmãos. Como eles, aceitemos começar um novo caminho. Deixemo-nos
interpelar por Deus e pelo seu Evangelho, pelos homens e mulheres deste tempo.
Assim seja! Amém.
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