Irmãos
e irmãs,
As
leituras deste domingo complementam-se ao apresentar as duas coordenadas
fundamentais a partir das quais se deve construir a família cristã: o amor a
Deus e o amor aos outros, sobretudo a esses que estão mais perto de nós – os
pais e demais familiares.
A
primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os
filhos devem ter para com os pais. É uma forma de concretizar esse amor de que
fala a segunda leitura. O texto apresenta uma série de indicações práticas que
os filhos devem ter em conta nas relações com os pais.
Uma
palavra sobressai: o verbo “honrar”, onde aparece no sentido de “dar glória”.
“Dar glória” a uma pessoa é dar-lhe toda a sua importância; “dar glória aos
pais” é, assim, reconhecer a sua importância como instrumentos de Deus, fonte
de vida. Ora, reconhecer que os pais são a fonte, através da qual Deus nos dá a
vida, deve conduzir à gratidão. Implica ampará-los na sua velhice e não os
desprezar nem abandonar; implica assisti-los materialmente – sem inventar
qualquer desculpa – quando já não podem trabalhar; implica não fazer nada que
os desgoste; implica escutá-los, ter em conta as suas orientações e conselhos;
implica ser indulgente para com as limitações que a idade traz. Como recompensa
desta atitude de “honrar” os pais, há a promessa do perdão dos pecados, a
alegria, a vida longa e a atenção de Deus.
A
segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos de todos
os que vivem “em Cristo” e aceitaram ser Novo Homem e Nova Mulher. Esse amor
deve atingir, de forma mais especial, todos os que conosco partilham o espaço
familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de
bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
Em
termos mais concretos, viver como “homem novo” e “nova mulher” implica cultivar
um conjunto de virtudes que resultam da união do cristão com Cristo:
misericórdia, bondade, humildade, paciência, mansidão. Lugar especial ocupa o
perdão das ofensas do próximo, a exemplo do que Cristo sempre fez. Estas
virtudes são exigências e manifestações da caridade, que é o mais fundamental
dos mandamentos cristãos. Assim, viver “em Cristo” implica viver, como Ele, no
amor total, no serviço, na disponibilidade e no dom da vida. É desta forma que,
no espaço familiar, se manifesta o Homem Novo, o homem que vive segundo Cristo.
O
Evangelho sublinha, sobretudo, a dimensão do amor a Deus: o projeto de Deus tem
de ser a prioridade de qualquer cristão, a exigência fundamental, a que todas
as outras se devem submeter. A família cristã constrói-se no respeito absoluto
pelo projeto que Deus tem para cada pessoa.
Na
base do relato que nos é proposto, estão citações do Antigo Testamento… Mateus
recorre às antigas profecias para explicar quem é Jesus e qual a sua missão. Ao
mesmo tempo, mostra como Jesus cumpriu plenamente essas antigas profecias. Uma
parte significativa do nosso texto está construída sobre a frase: “do Egito
chamei o meu filho”.
Mateus
apresenta um conjunto de detalhes, a propósito deste episódio, que recordam os
inícios da vida de Moisés: o massacre das crianças de Belém pelo rei Herodes, a
ordem do faraó de atirar ao Nilo os bebês hebreus do sexo masculino; a fuga do menino
Jesus através do deserto; a fuga do jovem Moisés através do deserto para salvar
a vida; o regresso de Jesus do Egito quando já tinham morrido aqueles que
queriam matá-lo; o regresso de Moisés ao Egito quando já tinham morrido aqueles
que queriam matá-lo... Através destas referências, Jesus aparece como um novo
Moisés, que libertará o novo Povo de Deus e que dará a nova Lei a esse Povo.
Por
outro lado, Mateus põe também em paralelo o caminho de Jesus e o caminho do
Povo de Israel. A fuga de José com Maria e o menino recorda a ida para o Egito
da família de Jacob, que emigrou para o Egito por desígnio de Deus; como
aconteceu com Israel, também Jesus sairá daí, chamado por Deus, a fim de
iniciar o novo e definitivo êxodo. Finalmente, o regresso de Jesus repete o caminho percorrido por Israel nos
seus inícios… É uma forma de ensinar que, com Jesus, tem início um novo Povo de
Deus e que Jesus será o libertador, ou o novo Moisés, que conduzirá esse Povo
da terra da escravidão para a terra da liberdade.
Ao
usar esta expressão: “Esse menino será nazareno”, Mateus quer mostrar que, ao
instalar-se em Nazaré, apesar de ter nascido em Belém, Jesus estava a cumprir
as Escrituras e os desígnios de Deus.
Fica,
portanto, aqui definida a catequese que revela quem é Jesus e qual a sua
missão… A presença constante de Deus conduzindo a história, enviando o seu
mensageiro, comunicando com José através dos sonhos, revela que este menino vem
de Deus e que tem uma missão de Deus. Qual é essa missão? É dar início a um
novo Povo de Deus e, como Moisés, conduzir esse Povo da terra da escravidão
para a terra da liberdade.
Neste
dia em que celebramos a Sagrada Família, convém também determo-nos um pouco
sobre esta família de Nazaré. É uma família unida e solidária, que não hesita
em afrontar os perigos do deserto e as incomodidades do exílio numa terra
estrangeira, quando um dos membros corre riscos. Na família de Nazaré manifesta-se,
desta forma, esse amor até ao extremo que supera todos os egoísmos e que se faz
dom ao outro. Por outro lado, é uma família que escuta a Palavra de Deus, que
está atenta aos sinais de Deus e que procura cumprir à risca os projetos de
Deus, que leva a cabo o projeto salvador de Deus – desempenha um papel muito
belo, permanentemente atento às indicações de Deus, que sabe discernir o que
Deus quer, que acata na obediência a vontade de Deus, que tudo arrisca e
sacrifica em defesa da vida daquele menino que Deus lhe confiou.
A
Sagrada Família é também uma família onde se escuta a Palavra de Deus e onde se
aprende a ler os sinais de Deus… É na escuta da Palavra que esta família
consegue encontrar as soluções para vencer as contrariedades e para ajudar os
membros a vencer os riscos que correm; é na escuta de Deus que esta família
consegue descobrir os caminhos a percorrer, a fim de assegurar a cada um dos
seus membros a vida e o futuro. A nossa família é uma família onde se escuta a
Palavra de Deus, onde se procuram ler os sinais de Deus, onde se procura
perceber o que Deus diz? Encontramos tempo para reunir a família à volta da
Palavra de Deus e para partilhar, em família, a Palavra de Deus? A nossa família
é uma família que reza?
Neste
tempo de Natal convém não esquecermos o tema central à volta do qual se
constrói o Evangelho que hoje nos é proposto: Jesus é o Deus que vem ao nosso
encontro, a fim de cumprir o projeto de salvação que o Pai tem para os homens…
A sua missão passa por constituir um novo Povo de Deus, dar-lhe uma Lei - a Lei
do “Reino” e conduzi-lo para a terra da liberdade, para a vida definitiva.
Estamos dispostos a acolher Jesus como o nosso libertador e a embarcar com Ele
nessa caminhada da terra da escravidão para a terra da liberdade?
Qual
é o segredo desta família chamada “santa”? Primeiro, a confiança. Maria tem
confiança depois de ter posto a questão: “como será isso?” José tem confiança e
recebe Maria. Jesus tem confiança ao consagrar-se às coisas do seu Pai. E,
depois, a fidelidade. “Maria guardava todas estas coisas no seu coração e
meditava-as”. José levanta-se quando o Senhor lhe pede e ensina a Jesus o
ofício de carpinteiro. Jesus fará da vontade do Pai o seu alimento. Não há
qualquer outro segredo da santidade: tornamo-nos santos no quotidiano da vida!
Assim seja! Amém.
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