Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo orienta-nos sobre o sentido da história da salvação e diz-nos que a meta
final para onde Deus nos conduz é o novo céu e a nova terra da felicidade
plena, da vida definitiva.
Na
primeira leitura, um “mensageiro de Deus” anuncia a uma comunidade desanimada, que
Javé não abandonou o seu Povo. O Deus libertador vai intervir no mundo, vai
derrotar o que oprime e rouba a vida e vai fazer com que nasça esse “sol da
justiça” que traz a salvação. O nosso texto refere-se ao “dia do julgamento” –
isto é, ao dia em que Javé vai intervir na história, no sentido de destruir o
mal, a injustiça, a opressão, o pecado e fazer triunfar o bem, a justiça, a
verdade.
Diante
do fogo do Senhor que purifica e renova, “serão como palha os soberbos e
malfeitores” e o Senhor “não lhes deixará nem raiz nem ramos”; em
contrapartida, para os que se mantêm nos caminhos da aliança e dos mandamentos,
“nascerá o sol da justiça, trazendo nos seus raios a salvação”. Para os
cristãos, esta profecia compreende-se à luz da intervenção libertadora de
Jesus: Ele é o “sol de justiça” que brilha no mundo e que insere os homens na
dinâmica de um mundo novo – a dinâmica do “Reino”.
A
segunda leitura reforça a ideia de que, enquanto esperamos a vida definitiva,
não temos o direito de nos instalarmos no comodismo, alheando-nos das grandes
questões do mundo e evitando dar o nosso contributo na construção do Reino. O
autor rejeita totalmente esta concepção e a atitude daqueles que – com a
desculpa da iminência da vinda do Senhor – vivem ocupados com futilidades e não
fazem nada de útil. Assim, propõe que todos ponham ao serviço dos irmãos os
próprios dons e contribuam para a construção, para o equilíbrio e para a
harmonia comunitárias e, por consequência para a realização do Reino.
O
Evangelho oferece-nos uma reflexão sobre o percurso que a Igreja é chamada a
percorrer, até à segunda vinda de Jesus. A missão dos discípulos em caminhada
na história é comprometer-se na transformação do mundo, de forma a que a velha
realidade desapareça e nasça o Reino. Esse “caminho” será percorrido no meio de
dificuldades e perseguições; mas os discípulos terão sempre a ajuda e a força
de Deus.
Desta
forma, Lucas nos traz três momentos da história da salvação: a destruição de
Jerusalém, o tempo da missão da Igreja e a vinda do Filho do Homem, que porá
fim ao “tempo da Igreja” e trará a plenitude do “Reino de Deus”.
O
texto começa com o anúncio da destruição de Jerusalém. Na perspectiva
profética, Jerusalém é o lugar onde deve irromper a salvação de Deus e para
onde convergirão todos os povos empenhados em ter acesso a essa salvação. No
entanto, Jerusalém recusou a oferta de salvação que Jesus veio trazer. A
destruição da cidade e do Templo significa que Jerusalém deixou de ser o lugar
exclusivo e definitivo da salvação. A Boa Nova de Jesus vai, portanto, deixar
Jerusalém e partir ao encontro de todos os povos. Começa, assim, uma outra fase
da história da salvação: começa o “tempo da Igreja” – o tempo em que a
comunidade dos discípulos, caminhando na história, testemunhará a salvação a
todos os povos da terra.
Vem,
depois, uma reflexão sobre o “tempo da Igreja”, que culminará com a segunda
vinda de Jesus. Como será esse tempo? Como vivê-lo?
Em
primeiro lugar, Jesus sugere que, após a destruição de Jerusalém, surgirão
falsos messias e visionários que anunciarão o fim. Jesus avisa: “não sigais atrás
deles”; e esclarece: “não será logo o fim”. A destruição de Jerusalém pelas
tropas de Tito deve ter parecido aos cristãos o prenúncio da segunda vinda de
Jesus e alguns pregadores populares deviam alimentar essas ilusões… Mas Lucas está
disposto em eliminar essa febre escatológica que crescia em certos sectores
cristãos: em lugar de viverem obcecados com o fim, os cristãos devem
preocupar-se em viver uma vida cristã cada vez mais comprometida com a
transformação “deste” mundo.
Em
segundo lugar, Jesus diz aos cristãos o que acontecerá nesse “tempo de espera”:
paulatinamente, irá surgindo um mundo novo. Para dizer isto cita: “há de
erguer-se povo contra povo e reino contra reino”; “haverá grandes terramotos e,
em diversos lugares, fome e epidemias; haverá fenômenos espantosos e grandes
sinais no céu”. Então, haverá a queda do mundo velho – o mundo do pecado, do
egoísmo, da exploração – e do surgimento de um mundo novo.
A
questão é, portanto, no tempo situado entre a queda de Jerusalém e a segunda
vinda de Jesus, o “Reino de Deus” ir-se-á manifestando; o mundo velho
desaparecerá e nascerá um mundo novo e, os discípulos não devem esperá-lo de
braços cruzados, à espera que Deus faça tudo, mas devem empenhar-se na sua
construção. É claro que a libertação plena e definitiva só acontecerá com a
segunda vinda de Jesus.
Em
terceiro lugar, Jesus avisa aos cristãos de sobreaviso para as dificuldades e
perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo fora, até
à Sua segunda vinda. Jesus lembra-lhes, contudo, que não estarão sós, pois,
Deus estará sempre presente; será com a força de Deus que eles enfrentarão os
adversários e que resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de
Deus que eles poderão, até, resistir à dor de ser atraiçoados pelos próprios
familiares e amigos. Os cristãos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas
eles terão sempre a ajuda e a força de Deus.
Desta
forma, é na experiência de uma Igreja que caminha e luta na história para
tornar realidade o “Reino” e que, nessa luta, conhece os sofrimentos, as
dificuldades, a perseguição e o martírio; que Deus está presente e não abandona
os seus filhos, portanto, a missão da Igreja na história, dos cristãos, até à
segunda vinda de Jesus é: dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Este
quadro que deve ser o horizonte que os nossos olhos contemplam em cada dia da
nossa caminhada neste mundo, fazendo nascer em nós a esperança; e da esperança,
brota a coragem e o testemunho para enfrentar a adversidade e para lutar pelo advento do
Reino. Assim seja! Amém.
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