Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo propõe-nos uma reflexão sobre os horizontes últimos do homem e
garante-nos a vida que não acaba para aqueles que vivem dignamente e
ressuscitarem em Cristo.
Na
primeira leitura, temos o testemunho de sete irmãos que deram a vida pela sua
fé, durante a perseguição movida contra os judeus. Aquilo que motivou os sete
irmãos mártires, que lhes deu força para enfrentar a tortura e a morte foi, precisamente,
a certeza de que Deus reserva a vida eterna àqueles que, neste mundo,
percorrem, com fidelidade, os seus caminhos.
O
que é que “faz correr” estes jovens? O que é que lhes dá a coragem para
enfrentar as exigências dos seus algozes? És a fé na ressurreição ou,
literalmente, na revivificação eterna de vida que os motiva. Os sete irmãos
tiveram a coragem de defender a sua fé até à morte, porque acreditavam que Deus
lhes devolveria outra vez a vida, uma vida semelhante àquela que lhes ia ser tirada.
O Deus criador tem o poder de ressuscitar os mártires para a vida eterna…
Na
segunda leitura temos um convite a manter o diálogo e a comunhão com Deus,
enquanto esperamos que chegue a segunda vinda de Cristo e a vida nova que Deus
nos reserva. Só com a oração será possível mantermos fiéis ao Evangelho e
ter a coragem de anunciar a todos os homens a Boa Nova da salvação. Assim, a
oração de uns pelos outros é uma forma preciosa de solidariedade cristã.
Mais
uma vez fica claro que, no processo de salvação, há dois planos: o dom de Deus
e o esforço de fidelidade da pessoa. É preciso, no entanto, deixar claro que,
sem a graça de Deus, o nosso esforço seria inútil. E os cristãos que já
receberam a Palavra transformadora e libertadora de Jesus devem solicitar a
ajuda divina para que a proposta de salvação que Cristo veio trazer, e que a
Igreja ficou encarregada de testemunhar, chegue a toda as pessoas.
No
Evangelho, Jesus garante que a ressurreição é a realidade que nos espera. No
entanto, não vale a pena estar a julgar e a imaginar essa realidade à luz das
categorias que marcam a nossa existência finita e limitada neste mundo; a nossa
existência de ressuscitados será uma existência plena, total, nova. A forma
como isso acontecerá é um mistério; mas a ressurreição é uma certeza absoluta
no horizonte do cristão.
A
questão principal do Evangelho gira em torno da ressurreição, um tema que não
significava nada para os saduceus. Percebendo que, quanto a essa questão, a
perspectiva de Jesus estava próxima da dos fariseus, os saduceus apresentaram
uma hipótese com o objetivo de ridicularizar a crença na ressurreição: uma
mulher casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a lei - segundo a
qual, o irmão de um defunto que morreu sem filhos devia casar com a viúva, a
fim de dar descendência ao falecido e impedir que os bens da família fossem
parar a mãos estranhas. Quando ressuscitarem, ela será mulher de qual dos
irmãos?
A
primeira parte da resposta de Jesus afirma que a ressurreição não é como
pensavam os fariseus do tempo, uma simples continuação da vida que vivemos
neste mundo - na linha de uma revivificação – ideia apresentada na primeira
leitura, mas uma vida nova e distinta, uma vida de plenitude que dificilmente
podemos entender a partir das nossas realidades cotidianas. A questão do
casamento não se porá, então, a expressão “são semelhantes aos anjos”; não é
uma expressão de depreciação do matrimônio, mas a afirmação de que, nessa vida
nova, a única preocupação será servir e louvar a Deus. O poder de Deus, que
chama a todos, da morte à vida, transforma e assume a totalidade do ser humano,
de forma que nascemos para uma vida totalmente nova e em que as nossas
potencialidades serão elevadas à plenitude. A nossa capacidade de compreensão
deste mistério é limitada, pois, estamos a contemplar as coisas e a
classificá-las à luz das nossas realidades terrenas; no entanto, a ressurreição
que nos espera ultrapassa totalmente a nossa realidade terrena.
A
segunda parte da resposta de Jesus é uma afirmação da certeza da ressurreição.
Como não podia apoiar-se nos textos recentes da Escritura, que sugeriam a fé na
ressurreição, pois, esses textos não tinham qualquer valor para os saduceus,
Jesus cita-lhes o episódio da sarça-ardente, Javé revelou-Se a Moisés como “o
Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”… Ora, se Deus Se apresenta dessa forma –
muitos anos depois de Abraão, Isaac e Jacob terem desaparecido deste mundo –
isso quer dizer que os patriarcas não estão mortos - um homem “morto” – ou seja,
um homem reduzido ao estado de uma sombra inconsciente e privada de vida,
segundo a ideia corrente – tinha perdido a proteção de Deus, pois, já não existia
como ser vivo e consciente. Na perspectiva de Jesus, portanto, os patriarcas
não estão reduzidos ao estado de sombras na obscuridade absoluta, mas vivem atualmente
em Deus. Portanto, se Abraão, Isaac e Jacob estão vivos, podemos falar em
ressurreição. Nosso Deus é o Deus dos vivos. Desta forma, na luta pela vida,
Deus tem a última palavra. Descobrir, com a comunidade, o novo rosto de Deus
que se manifesta a partir das lutas do povo por liberdade e vida – eis a nossa
missão, para em plenitude vivermos na casa do Pai.
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