Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo convida-nos a reconhecer, com humildade, a nossa pequenez e
finitude, a comprometer-nos com o “Reino” sem cálculos nem exigências, a acolher
com gratidão os dons de Deus e a entregar-nos confiantes nas suas mãos.
Na
primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no
mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado… Deus, em resposta,
confirma a sua intenção de atuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a
opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de
acordo com o seu projeto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o
“tempo de Deus”.
Assim,
a mensagem é de esperança, pois, a resposta de Deus deixa claro que Ele não
fica indiferente diante do mal que desfeia o mundo, diante da injustiça e da
opressão. Javé encontrará o momento ideal para intervir, para vencer o
imperialismo, o orgulho, a injustiça e a opressão.
A
segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com
Jesus Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta os animadores
cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades
que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.
São
recordadas a Timóteo três das qualidades fundamentais que devem estar sempre
presentes no apóstolo: a fortaleza frente às dificuldades, o amor que o
impulsionará para uma entrega total a Cristo e aos homens e a prudência, ou
moderação necessária para a animação e orientação da comunidade. O animador da
comunidade tem o dever de ensinar a doutrina verdadeira e de defender a
comunidade de tudo aquilo que a afasta da verdade do Evangelho de Jesus,
fielmente transmitido pelo testemunho apostólico. Assim, é necessário, a cada
instante, redescobrir o sentido das opções fundamentais que, um dia, o
discípulo fez.
O
Evangelho convida aos discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse
projeto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer … A essa adesão chama-se
“fé”; e dela depende a instauração do “Reino” no mundo. Os discípulos,
comprometidos com a construção do “Reino” devem, no entanto, ter consciência de
que não agem por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais
Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e
gratuidade, como “servos que apenas fizeram o que deviam fazer”.
A
primeira parte do nosso texto é, portanto, constituída por um “dito” sobre a fé.
Depois das exigências que Jesus apresentou, quanto ao caminho que os discípulos
devem percorrer para alcançar o “Reino”, a resposta lógica destes só pode ser:
“aumenta-nos a fé”. O que é que a fé tem a ver com a exigência do “Reino”?
No
Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é,
primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstratas sobre
Deus; mas é a adesão a Jesus, à sua proposta, ao seu projeto – ou seja, ao
projeto do “Reino”. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa
adesão não é um caminho cómodo e fácil, pois, supõe um compromisso radical, a
vitória sobre a própria fragilidade, a coragem de abandonar o comodismo e o
egoísmo para seguir um caminho de exigência… Pedir a Jesus que lhes aumente a
fé significa, portanto, pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo
“Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta; significa pedir que lhes dê a
decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio
apresentar.
Jesus
aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A
imagem utilizada por Jesus - a ordem dada à “amoreira” para se arrancar da
terra e ir plantar-se a ela própria no mar - mostra que, com a “fé” tudo é possível: quando
se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica uma
transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma
transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter
na mão a chave para mudar a história, mesmo que essa transformação pareça
impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz
de autênticos “milagres”… Quantas vezes
a tenacidade e a coragem dos discípulos de Jesus transformam a morte em vida, o
desespero em esperança, a escravidão em liberdade!
Na
segunda parte do texto, Lucas descreve a atitude que devemos assumir diante de
Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos para
alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro
remédio senão salvá-lo… A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva,
dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em
fazer contas para ver se o homem tinha ou não direito à salvação…
Jesus
coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo – desse
discípulo que adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras do Reino” e que
constrói o “Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez
tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a
atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que
apenas fez o que lhe competia.
O que Jesus nos pede
no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do
Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar
coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão,
resta sentir-nos servo humilde de Deus, agradecer-Lhe pelos seus dons,
entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos. Desta forma, ao assumir a fé
- do tamanho de um grão de mostarda – fazemos a adesão a um projeto de vida e
de reino, comprometemo-nos com a construção plena do reino de amor, justiça e
igualdade. Portanto, assumimos uma fé que nos move sempre ao encontro do outro.
Assim seja! Amém
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!