Este
Santo Domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projeto de
salvação para oferecer a todos, sem exceção; reconhecer o dom de Deus,
acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o
sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.
A
primeira leitura apresenta-nos a história de um leproso - o sírio Naamã. O
episódio revela que só Javé oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites
nem exceções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-Lo como o único
salvador e manifestar-Lhe gratidão. O que é decisivo é o acolher o dom de Deus
e aceitar deixar-se transformar por Ele e, em sua gratidão manifestar-se numa
adesão total a Javé.
Assim,
a intervenção salvadora de Javé não é uma ação meramente circunstancial, que
apenas resolve os problemas externos, mas é uma ação que atua a um nível
profundo e que transforma radicalmente a vida… Naamã não ficou só curado de uma
doença física que punha em risco a sua vida; mas a intervenção de Deus indica uma
transformação espiritual que fez do sírio Naamã um homem novo e o levou a
deixar os ídolos para servir o verdadeiro e único Deus… A expressão dessa
mudança radical é a afirmação de Naamã de que “não há outro Deus em toda a terra
senão o de Israel” e que nunca mais irá “oferecer holocausto ou sacrifício a
quaisquer outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel”.
A
segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem
acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor
e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
É
preciso que alguns entreguem a própria vida para que a proposta libertadora de
Jesus chegue a todos. Portanto, o cristão é chamado a identificar-se com Cristo
na entrega da vida e no serviço aos irmãos; essa entrega não termina no
fracasso e no sem sentido, mas – a exemplo de Cristo – na ressurreição, na vida
nova. O cristão não pode é recusar fazer da sua vida um dom de amor, se quiser
identificar-se com Cristo.
O
Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que
através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam
toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus
derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a
atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a
salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus
a sua gratidão.
O
episódio dos dez leprosos - que é exclusivo de Lucas -insere-se perfeitamente
na ótica teológica de um evangelho cujo objetivo fundamental é apresentar Jesus
como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação/libertação
a todos, particularmente aos oprimidos e marginalizados.
É
esse o ponto de partida: ele mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de
libertação para oferecer a todos. O número dez tem, certamente, um significado
simbólico: significa “totalidade”, pois, para o judaísmo considerava necessário
que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração
comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da
comunidade. A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa
salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do
“Povo eleito”, mas se destina a todos, sem exceção, mesmo àqueles que o
judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.
Contudo,
o acento do episódio de hoje é posto – mais do que no episódio da cura em si –
no fato de que, dos dez leprosos curados, só um tenha voltado para trás para
agradecer a Jesus e no fato de este ser um samaritano.
Só
um sentiu-se motivado a voltar atrás e agradecer a quem o havia curado.
Jogou-se aos pés de Jesus, dando gritos de louvor a Deus. E este era um
samaritano, membro de um povo, visto com desprezo. A gratidão brotou-lhe
espontânea do coração. Já os outros nove, judeus de origem, esqueceram-se de
agradecer. Assim, deram mostras de não ter dado o passo da fé, reconhecendo a
condição messiânica de Jesus. E perderam a chance de receber os benefícios da
salvação, acolhendo o dom de Deus e responder-Lhe com a gratidão e fé, entendida
como adesão a Jesus e à sua proposta de salvação. Que o Espírito de agradecimento, torne-nos
sensíveis aos benefícios que recebemos a cada dia, e dá-nos um coração que seja
sempre capaz de agradecer e com fé e alegria na caminhada, servir a Cristo, servindo aos irmãos. Assim seja! Amém.
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