Irmãos e irmãs,
Este
Santo Domingo propõe-nos o tema da “salvação”. Diz-nos que o acesso ao “Reino”
– à vida plena, à felicidade total, à “salvação” – é um dom que Deus oferece a
todos os homens e mulheres, sem exceção; mas, para lá chegar, é preciso
renunciar a uma vida baseada nesses valores que nos tornam orgulhosos,
egoístas, prepotentes, autossuficientes, e seguir Jesus no seu caminho de amor,
de entrega, de dom da vida.
Na
primeira leitura, o profeta propõe-nos a visão da comunidade escatológica: será
uma comunidade universal, à qual terão acesso todos os povos da terra, sem exceção.
Os próprios pagãos serão chamados a testemunhar a Boa Nova de Deus e serão
convidados para o serviço de Deus, sem qualquer discriminação baseada na raça,
na etnia ou na origem. Pois, todas as nações são chamadas a integrar o Povo de
Deus, no mundo novo que vai chegar, todos são convocados por Deus para integrar
o seu Povo.
A
segunda leitura ajuda-nos a compreender a questão da “porta estreita”: o
verdadeiro cristão enfrenta com coragem os sofrimentos e provações, vê neles
sinais do amor de Deus que, dessa forma, educa, corrige, mostra o sem sentido
de certas opções e nos prepara para a vida nova do “Reino”.
A
questão fundamental gira à volta do sentido do sofrimento e das provas que os
cristão têm que suportar, nomeadamente, as perseguições e incompreensões que os
cristãos sofrem. Deus serve-Se desses meios para nos mostrar o sem sentido de
certos comportamentos; dessa forma, Ele demonstra a sua solicitude paternal.
Como sinais do amor que Deus nos tem, os sofrimentos são uma prova da nossa
condição de “filhos de Deus”.
Além
de nos mostrarem o amor de Deus, as provas aperfeiçoam-nos, transformam-nos,
levam-nos a mudar a nossa vida. Por essa transformação, vamo-nos fazendo
interiormente capazes da santidade de Deus, aptos para recebê-la. Por isso,
quando chegam, devem ser consideradas como parte do projeto salvador de Deus
para nós, portadoras de paz e de salvação.
No
Evangelho, Jesus – confrontado com uma pergunta acerca do número dos que se
salvam – sugere que o banquete do “Reino” é para todos; no entanto, não há
entradas garantidas, nem bilhetes reservados: é preciso fazer uma opção pela
“porta estreita” e aceitar seguir Jesus no dom da vida e no amor total aos
irmãos.
Na
perspectiva da catequese que, hoje, Lucas nos apresenta, as palavras de Jesus
são uma reflexão sobre a questão da salvação. A questão é posta na boca de
alguém não identificado: “Senhor, são poucos os que se salvam?”
A
questão da salvação era uma questão muito debatida. Para os fariseus da época
de Jesus, a “salvação” era uma realidade reservada ao Povo eleito e só a ele;
mas, nos círculos apocalípticos, dominava uma visão mais pessimista e
sustentava-se que muito poucos estavam destinados à felicidade eterna. Jesus,
no entanto, falava de Deus como um Pai cheio de misericórdia, cuja bondade
acolhia a todos, especialmente os pobres e os débeis. Fazia, portanto, sentido
saber o que pensava Jesus acerca da questão…
Jesus
não responde diretamente à pergunta. Para Ele, mais do que falar em números
concretos a propósito da “salvação”, é importante definir as condições para
pertencer ao “Reino” e estimular nos discípulos a decisão pelo “Reino”. Ora, na
óptica de Jesus, entrar no “Reino” é, em primeiro lugar, esforçar-se por
“entrar pela porta estreita”. A imagem da “porta estreita” é sugestiva para
significar a renúncia a uma série de fardos que “engordam” o homem e que o
impedem de viver na lógica do “Reino”. Que fardos são esses? A título de
exemplo, poderíamos citar o egoísmo, o orgulho, a riqueza, a ambição, o desejo
de poder e de domínio… Tudo aquilo que impede o homem de embarcar numa lógica
de serviço, de entrega, de amor, de partilha, de dom da vida, impede a adesão
ao “Reino”.
Para
explicitar melhor o ensinamento acerca da entrada do “Reino”, Jesus conta-nos uma
parábola. Nela, o “Reino” é descrito como um banquete em que os eleitos estarão
lado a lado com os patriarcas e os profetas. Quem se sentará à mesa do “Reino”?
Todos aqueles que acolheram o convite de Jesus à salvação aderiram ao seu projeto
e aceitaram viver, no seguimento de Jesus, uma vida de doação, de amor e de
serviço… Não haverá qualquer critério baseado na raça, na geografia, nos laços
étnicos, que barre a alguém a entrada no banquete do “Reino”: a única coisa
verdadeiramente decisiva é a adesão a Jesus. Quanto àqueles que não acolheram a
proposta de Jesus: esses ficarão, logicamente, fora do banquete do “Reino”,
ainda que se considerem muito santos e tenham pertencido, institucionalmente,
ao Povo eleito. É evidente que Jesus está a falar para os judeus e a sugerir
que não é pelo fato de pertencerem a Israel que têm assegurada a entrada no
“Reino”; mas a parábola aplica-se igualmente aos “discípulos” que, na vida
real, não quiserem despir-se do orgulho, do egoísmo, da ambição, para
percorrer, com Jesus, o caminho do amor e do dom da vida, aquele sugerido e que
encontramos pelo esforço de entrar pela “porta estreita”. Assim seja! Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!