Irmãos
e irmãs,
Neste
Santo Domingo, a Palavra de Deus propõe e convida-nos à vigilância: o
verdadeiro discípulo não vive de braços cruzados, numa existência de comodismo
e resignação, mas está sempre atento e disponível para acolher o Senhor, para
escutar os seus apelos e para construir o “Reino”.
A
primeira leitura apresenta-nos que só a atenção aos valores de Deus gera vida e
felicidade. A comunidade israelita – confrontada com um mundo pagão e imoral,
que questiona os valores sobre os quais se constrói a comunidade do Povo de
Deus – deve, portanto, ser uma comunidade “vigilante”, que consegue discernir
entre os valores efêmeros e os valores duradouros.
Desta
forma, confrontado com a atuação de Deus em favor do seu Povo, Israel encontrou
forma de responder a Javé e de Lhe manifestar o seu louvor e agradecimento.
Assim, os sacrifícios, a solidariedade, o cântico de hinos a resposta do Povo à
ação de Deus e, os israelitas – fiéis a Javé e à Lei, que sempre louvaram Deus
e Lhe agradeceram seus dons e benefícios – viram Deus a atuar em seu favor e
encontraram a liberdade e a paz.
A
segunda leitura apresenta Abraão e Sara, modelos de fé para os cristãos de
todas as épocas. Atentos aos apelos de Deus, empenhados em responder aos seus
desafios, conseguiram descobrir os bens futuros nas limitações e na caducidade
da vida presente. É essa atitude que o autor da Carta aos Hebreus recomenda-nos,
de maneira geral.
Em
concreto, o nosso texto apresenta-nos as figuras de Abraão e de Sara. Pela fé,
Abraão acolheu o chamamento de Deus, deixou a sua casa e partiu ao encontro do
desconhecido e do incômodo; pela fé, Abraão aceitou estabelecer-se numa terra
estranha e aí habitar; pela fé, Sara pôde conceber e dar à luz Isaac, apesar da
sua avançada idade; pela fé, Abraão não duvidou quando Deus o mandou
sacrificar, no alto de um monte, o filho Isaac, o herdeiro das promessas e o
continuador da descendência… Abraão não viu concretizar-se a promessa da posse
da terra, nem a promessa de um povo numeroso; mas, pela fé, ele contemplou
antecipadamente a realização das promessas de Deus, “saudando-as de longe”.
Assim, Abraão assumiu a sua condição de peregrino e estrangeiro, ansiando
constantemente pela cidade futura, e caminhando ao encontro do céu, a sua
pátria definitiva. É precisamente esse exemplo que o autor da carta quer propor
a esses cristãos perseguidos e desanimados: vivam na fé, esperando a
concretização dos dons futuros que Deus vos reserva e caminhem pela vida como
peregrinos, sem desanimar, de olhos postos na pátria definitiva.
O
Evangelho apresenta uma catequese sobre a vigilância. Propõe aos discípulos de
todas as épocas uma atitude de espera serena e atenta do Senhor, que vem ao
nosso encontro para nos libertar e para nos inserir numa dinâmica de comunhão
com Deus.
O
nosso texto começa com uma referência ao “verdadeiro tesouro” que os discípulos
devem procurar e que não está nos bens deste mundo: trata-se do “Reino” e dos
seus valores. A questão fundamental é: como descobrir e guardar esse “tesouro”?
A resposta é dada em “parábolas”, que apelam à vigilância.
Assim,
somos convidados a ter os rins cingidos e as lâmpadas acesas, como pessoas que
esperam o senhor que volta da sua festa de casamento. Assim, somos convidados a
estarmos preparados para acolher a libertação que Jesus veio trazer e que os
levará da terra da escravidão para a terra da liberdade; e são também convidados
a acolherem “o noivo” – Jesus - que veio propor à “noiva” – a humanidade - a comunhão plena com Deus.
Há
uma incerteza da hora em que o Senhor virá. Haverá um dia em que Deus vai pôr
ordem em tudo e entregar a quem merece o prêmio prometido. Este dia, no
entanto, não tem data revelada. Não se sabe nem a data nem a hora. A imagem do
ladrão que chega a qualquer hora, sem ser esperado, é uma imagem estranha para
falar de Deus; mas é uma imagem sugestiva para mostrar que o discípulo fiel é
aquele que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância,
para acolher o Senhor que vem.
Contudo,
isto não impede de esperá-lo com fé em Deus e esperança no cumprimento desta
promessa. Só é necessário permanecer com esta fé e esta esperança acesas. Jesus
dá exemplo desta fé e esperança acesas contando a parábola do homem que foi à
festa de casamento e voltou tarde da noite. Seus empregados deviam esperá-los
acordados. Entretanto, nem todos estariam acordados quando o patrão voltasse.
Jesus
diz, a esta altura: Felizes os empregados que o Senhor encontrar acordados quando
chegar. Passando entre eles, os servirá.
Perguntemos: o que será servido pelo Senhor – representado na parábola
pelo patrão que volta da festa de casamento – no momento em que encontrar quem
estiver acordado? Podemos supor que o Senhor servirá o que os empregados
tivessem preparado para a refeição Dele. Contudo, não é lógico. O Senhor terá
voltado saciado de uma festa. É lógico
pensar que o Senhor servirá seus empregados com o que Ele tiver trazido consigo
da festa de onde voltou. Será bem melhor do que aquilo que seus empregados
prepararam. Será, em primeiro lugar, uma recompensa aos empregados que
permaneceram fiéis à espera do Senhor. Será um alimento que somente Ele pode
trazer, mesmo que não fique claro na parábola. Entretanto, clara é a certeza de
sua volta, claro é o dever dos empregados de esperá-Lo acordados, não dormindo.
O suspense se desfaz quando sabemos que Jesus ensina aos seus discípulos sobre
o Dia de Sua vinda gloriosa no fim dos tempos. Este dia será o da festa do
Salvador com os que Ele salvou. Mais do que tudo, o que vai ser dado aos que se
mantiverem acordados será a Vida Eterna, a participação na Vida do próprio
Jesus Ressuscitado.
A
longa espera do Senhor poderia ter como efeito, no coração do discípulo, a
lassidão. E, com ela, o risco de agir em total desconformidade com o projeto do
Reino. Daí a importância da exortação de Jesus. A maneira conveniente de
esperar o Senhor consiste em desapegar-se dos bens deste mundo, buscando apenas
o tesouro inesgotável no céu, que está a salvo da ação dos ladrões e das
traças. A maneira prática de desfazer-se das coisas desnecessárias, às quais o
coração se apega, resume-se em vendê-las e dá-las aos pobres.
O
Evangelho alerta para o risco da posse avarenta de bens. Agindo assim, o
discípulo desloca o centro de seus interesses do Reino para os bens materiais.
E, com isso, torna-se despreparado para o encontro com o Senhor. Seu coração
não estará no Reino, e sim nos bens acumulados. É atitude insensata de quem
desconhece a hora em que virá o Senhor. O discípulo que permanece de prontidão
predispõe-se para encontrar o Senhor, qualquer que seja a hora em que ele
chegue. Quem age assim, é chamado de "bem-aventurado", pois,
experimentará a alegria de ser acolhido pelo Senhor que vem. Por conseguinte,
nada de se deixar seduzir pelas riquezas, a ponto de se esquecer desse encontro
com ele, estejamos acordados para o momento em que Jesus vier no fim dos
tempos, para nos entregar os tesouros reunidos no céu, mais a Vida Eterna. Assim,
o verdadeiro discípulo é aquele que está sempre preparado para acolher os dons
de Deus, para responder aos seus apelos e para se empenhar na construção do
“Reino”. Assim seja! Amém.
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