Irmãos
e irmãs,
Neste
Santo Domingo, ao colocar diante dos nossos olhos os exemplos de Abraão e de
Jesus, a Palavra de Deus mostra-nos a importância da oração e ensina-nos a
atitude que os crentes devem assumir no seu diálogo com Deus.
A
primeira leitura sugere que a verdadeira oração é um diálogo “face a face”, no
qual o homem – com humildade, reverência, respeito, mas também com ousadia e
confiança – apresenta a Deus as suas inquietações, as suas dúvidas, os seus anseios
e tenta perceber os projetos de Deus para o mundo e para os homens.
Deus
prepara-se para iniciar a “investigação”, a fim de constatar da culpabilidade
ou da não culpabilidade de Sodoma. As perguntas fundamentais são: o que
acontecerá se essa “investigação” revelar a existência na cidade de um pequeno
grupo de justos? Deus vai castigar toda a comunidade? Será que um punhado de
justos vale tanto que, por amor deles, Deus esteja disposto a perdoar o castigo
a uma multidão de culpados?
Vimos
no diálogo que Abraão se confronta com a benevolência de Deus e vai surgindo a
confiança. Abraão chega a ser importuno na sua insistência e ousado no seu
regateio. Recordando a Deus os seus compromissos, ele aparece como o
“intercessor”, que consegue da misericórdia de Deus que um número
insignificante de justos tenha mais peso do que um número muito elevado de
culpados.
É
possível dialogar com Deus desta forma familiar, confiante, insistente, ousada?
Certamente, pois, o Deus de Abraão é esse Deus que veio ao encontro do homem,
que entrou na sua tenda, que Se sentou à sua mesa, que estabeleceu com ele
comunhão, que realizou os sonhos desse homem que O acolheu, que aceitou partilhar
com Ele os seus projetos. Um Deus que Se revela dessa forma é um Deus com quem
o homem pode dialogar, com amor e sem temor.
A
segunda leitura, sem aludir diretamente ao tema da oração, convida a fazer de Cristo
a referência fundamental, neste contexto de reflexão sobre a oração, podemos
dizer que Cristo tem de ser a referência e o modelo do crente que reza: quer na
frequência com que se dirige ao Pai, quer na forma como dialoga com o Pai.
A
questão fundamental é a afirmação da supremacia de Cristo e da sua suficiência
na salvação do crente. Pelo Batismo, o cristão aderiu a Cristo e identificou-se
com Cristo; a vida de Cristo passou a circular nele: por isso, o cristão –
revivificado por Cristo – morreu para o pecado e nasceu para a vida nova do
Homem Novo. Em Cristo encontramos, portanto, a vida em plenitude, sem que seja
necessário recorrer a mais nada, ritos e práticas para ter acesso à salvação; e,
através de Cristo, começou para nós uma vida nova, liberta de tudo o que nos
oprime, nos escraviza, nos rouba a felicidade, nos impede o acesso à vida
plena.
O
Evangelho senta-nos no banco da “escola de oração” de Jesus. Ensina que a
oração do cristão deve ser um diálogo confiante de uma criança com o seu
“papá”. Com Jesus, somos convidados a descobrir em Deus “o Pai” e a dialogar
frequentemente com Ele acerca desse mundo novo que o Pai/Deus quer oferecer aos
homens.
Como
é que os discípulos devem, então, rezar? Lucas refere-se a dois aspectos que
devem ser considerados no diálogo com Deus. O primeiro diz respeito à “forma”:
deve ser um diálogo de um filho com o Pai; o segundo diz respeito ao “assunto”:
o diálogo incidirá na realização do plano do Pai, no advento do mundo novo.
Tratar
Deus como “Pai” não é novidade nenhuma. No Antigo Testamento, Deus é “como um
pai” que manifesta amor e solicitude pelo seu Povo. No entanto, na boca de
Jesus, a palavra “Pai” referida a Deus não é usada em sentido simbólico, mas em
sentido real: para Jesus, Deus não é “como um pai”, mas é “o Pai”. A
própria linguagem com que Jesus Se dirige a Deus mostra isto: a expressão “Pai”
usada por Jesus traduz o original aramaico “abba”, tomada da maneira comum e
familiar como as crianças chamavam o seu “papá”. Ao referir-se a Deus desta
forma, Jesus manifesta a intimidade, o amor, a comunhão de vida, que o ligam a
Deus.
No
entanto, o aspecto mais surpreendente reside no fato de Jesus ter aconselhado
os seus discípulos a tratarem a Deus da mesma forma, admitindo-os à comunhão
que existe entre Ele e Deus. Porque é que os discípulos podem chamar “Pai” a
Deus? Porque, ao identificarem-se com Jesus e ao acolherem as propostas de
Jesus, eles estabelecem uma relação íntima com Deus, a mesma relação de
comunhão, de intimidade, de familiaridade que unem Jesus e o Pai. Tornam-se,
portanto, “filhos de Deus”.
Sentir-se
“filho” desse Deus que é “Pai” significa outra coisa: implica reconhecer a
fraternidade que nos liga a uma imensa família de irmãos. Dizer a Deus “Pai”
implica sair do individualismo que aliena, superar as divisões e destruir as
barreiras que impedem de amar e de ser solidários com os irmãos, filhos do
mesmo “Pai”.
Desta
forma, Cristo convida os discípulos a assumirem, na sua relação e no seu
diálogo com Deus, a mesma atitude de Jesus: a atitude de uma criança que, com
simplicidade, se entrega confiadamente nas mãos do pai, acolhe naturalmente a
sua ternura e o seu amor e aceita a proposta de intimidade e de comunhão que
essa relação pai/filho implica; convida, também, os discípulos a assumirem-se
como irmãos e a formarem uma verdadeira família, unida à volta do amor e do
cuidado do “Pai”.
Definida
a “atitude”, falta definir o “assunto” ou o “tema” da oração. Na perspectiva de
Jesus, o diálogo do cristão com Deus deve, sobretudo, abordar o tema do advento
do Reino, do nascimento desse mundo novo que Deus nos quer oferecer. A
referência à “santificação do nome” expressa o desejo de que Deus se manifeste
como salvador aos olhos de todos os povos e o reconhecimento por parte dos
homens, da justiça e da bondade do projeto de Deus para o mundo; a referência à
“vinda do Reino” expressa o desejo de que esse mundo novo que Jesus veio propor
se torne uma realidade definitivamente presente na vida dos homens; a
referência ao “pão de cada dia” expressa o desejo de que Deus não cesse de nos
alimentar com a sua vida, na forma do pão material e na forma do pão espiritual;
a referência ao “perdão dos pecados” pede que a misericórdia de Deus não cesse
de derramar-se sobre as nossas infidelidades e que, a partir de nós, ela atinja
também os outros irmãos que falharam; a referência à “tentação” pede que Deus
não nos deixe seduzir pelo apelo das felicidades ilusórias, mas que nos ajude a
caminhar ao encontro da felicidade duradoura, da vida plena…
Duas
parábolas finais completam o quadro. O acento da primeira não deve ser posto
tanto na insistência do “amigo importuno”, mas mais na ação do amigo que
satisfaz o pedido; o que Jesus pretende dizer é: se os homens são capazes de
escutar o apelo de um amigo importuno, ainda mais Deus atenderá gratuitamente
aqueles que se Lhe dirigem. A segunda parábola convida à confiança em Deus: Ele
conhece-nos bem e sabe do que necessitamos; em todas as circunstâncias Ele
derramará sobre nós o Espírito, que nos permitirá enfrentar todas as situações
da vida com a força de Deus.
Jesus
nos ensina o caminho da oração. A oração que alcança do coração de Deus aquilo
que necessitamos. Jesus nos mostra o modelo da oração a partir do Pai Nosso. E
nos mostra o quanto a oração insistente, perseverante e, sobretudo, a oração
com fé alcança tudo do coração de Deus. Assim, nós precisamos ser muito
insistentes na nossa oração.
A
nossa oração não pode ser aquela oração que “eu fiz uma vez mas não consegui…”
Não! Nós devemos ser ‘chatos’ com Deus. E “chatos” quer dizer insistentes.
Devemos realmente estar aos pés do Senhor buscando aquilo que nosso coração
precisa através da oração transformadora, unindo fé e vida. Assim seja! Amém.
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