Irmãos e irmãs,
Neste
Santo Domingo somos convidados a refletir o tema da hospitalidade e do
acolhimento. Sugerem, sobretudo, que a existência cristã é o acolhimento de
Deus e das suas propostas; e que a ação, ainda que em favor dos irmãos, tem de
partir de um verdadeiro encontro com Jesus e da escuta da Palavra de Jesus. É
isso que permite encontrar o sentido da nossa ação e da nossa missão.
A
primeira leitura propõe-nos a figura patriarcal de Abraão. Nessa figura
apresenta-se o modelo do homem que está atento a quem passa, que partilha tudo
o que tem com o irmão que se atravessa no seu caminho e que encontra no hóspede
que entra na sua tenda a figura do próprio Deus. Sugere-se, em consequência,
que Deus não pode deixar de recompensar quem assim procede. Abraão é, assim, apresentado,
como o modelo do homem íntegro, humano, bondoso, misericordioso, atento a quem
passa e disposto a repartir com ele, de forma gratuita, aquilo que tem de
melhor.
Assim,
a figura inspirativa de Abraão apresenta-nos o modelo do crente: ele é aquele a
quem Deus vem visitar, que o acolhe na sua casa e na sua vida de forma
exemplar, que coloca tudo o que possui nas mãos de Deus e que manifesta, com o
seu comportamento, a sua bondade, a sua humanidade, a sua confiança e a sua fé;
ele é aquele que partilha o que tem com quem passa e cumpre em grau extremo o
sagrado dever da hospitalidade. A realização dos anseios mais profundos é a
recompensa de Deus para quem age como Abraão. Aparentemente, o dom do filho é a
resposta de Deus à ação de Abraão - Deus
não deixa passar em claro, mas recompensa uma tal atitude de bondade, de
gratuidade, de amor.
A
segunda leitura apresenta-nos a figura do apóstolo Paulo, para quem Cristo, as
suas palavras e as suas propostas são a referência fundamental, o universo à
volta do qual se constrói toda a vida. Para Paulo, o que é necessário é
“acolher Cristo” e construir toda a vida à volta dos seus valores. É isso que é
preponderante na experiência cristã.
Ao
longo do seu caminho de missionário, Paulo sofreu muito para levar a proposta
de salvação a todos os homens, sem exceção. Inclusive, no momento em que
escreve, Paulo está prisioneiro por causa do anúncio do Evangelho. No entanto,
o apóstolo sente-se feliz pois sabe que esses sofrimentos não foram em vão, mas
deram frutos e levaram muita gente a descobrir Jesus Cristo e a sua proposta de
libertação. Cristo - sofreu, os membros devem sofrer também para partilhar a
sorte que a cabeça suportou. Esta explicação põe em relevo a união dos cristãos
com Cristo e dos cristãos entre si.
Portanto,
o esforço de Paulo e dos cristãos em geral deve ir no sentido de continuar a
apresentação desse projeto de salvação/libertação que traz a vida em plenitude
aos homens de toda a terra. Cristo é a referência fundamental e se preocupou
apenas em pôr a sua vida ao serviço de Cristo.
Paulo
convida, pois, os Colossenses a construir a sua vida à volta de Jesus e do seu
projeto, mesmo que isso implique sofrimento e perseguição; com o seu exemplo,
Paulo estimula-os a uma comunhão cada vez mais perfeita com Cristo, pois é em
Cristo e não nos anjos, ou nas prática legalistas, ou nas práticas ascéticas que
os crentes encontrarão a salvação e a vida em plenitude.
No
Evangelho, apresenta-se outro quadro de hospitalidade e de acolhimento de Deus.
Mas sugere-se que, para o cristão, acolher Deus na sua casa não é tanto
embarcar num ativismo desenfreado, mas sentar-se aos pés de Jesus, escutar as
propostas que, n’Ele, o Pai nos faz e acolher a sua Palavra.
Estamos
no contexto de um recepção a Jesus e seus discípulos. Não se diz se havia
muitos ou poucos mais convidados; o que se diz é que uma das irmãs, Marta,
andava atarefada “com muito serviço”, enquanto a outra, Maria, “sentada aos pés
de Jesus, ouvia a sua Palavra”. Marta, naturalmente, não se conformou com a
situação e queixou-se a Jesus pela indiferença da irmã. A resposta de Jesus
constitui o centro do relato e dá-nos o sentido deste episódio, Lucas nos quer
apresentar: a Palavra de Jesus deve estar acima de qualquer outro interesse.
Há,
neste texto, um pormenor que é preciso pôr em relevo. Diz respeito à “posição”
de Maria: “sentada aos pés de Jesus”. É a posição típica de um discípulo diante
do seu mestre. É uma situação surpreendente, num contexto em que as mulheres
tinham um estatuto de subalternidade e viam limitados alguns dos seus direitos
religiosos e sociais; por isso, nenhum “rabbi” da época se dignava aceitar uma
mulher no grupo dos discípulos que se sentavam aos seus pés para escutar as
suas lições. Lucas que, na sua obra, procura dizer que Jesus veio libertar e
salvar os que eram oprimidos e escravizados, nomeadamente as mulheres, mostra,
neste episódio, que Jesus não faz qualquer discriminação: o fato decisivo para
ser seu discípulo é estar disposto a escutar a sua Palavra.
Muitas
vezes, este episódio foi lido à luz da oposição entre ação e contemplação; no
entanto, não é bem isso que aqui está em causa… Lucas não está a explicar que a
vida contemplativa é superior à vida ativa; está é a dizer que a escuta da
Palavra de Jesus é o mais importante para a vida do crente, pois, é o ponto de
partida da caminhada da fé. Isto não significa que o “fazer coisas”, que o
“servir os irmãos” não seja importante; mas significa que tudo deve partir da
escuta da Palavra, pois, é a escuta da Palavra que nos projeta para os outros e
nos faz perceber o que Deus espera de nós.
Ao
visitar a casa de Marta e Maria, Jesus se manifesta em Maria que o acolhe, escutando
a sua Palavra. Marta, ao contrário, em suas preocupações, não consegue perceber
o essencial, a presença santificadora de Cristo Jesus que nos leva ao seu
encontro, concedendo-nos a graça de viver o seu amor. Maria com sua atitude de
contemplação e oração, deixa Jesus revelar-se em sua caminhada. Com sua
acolhida nos ensina o que todo discípulo autêntico, acolhe e vive a Palavra.
Pois, quem acolhe as pessoas, está acolhendo Deus que dá a vida e Cristo que se
faz presente na caminhada junto ao seu povo. Nosso serviço deve estar a favor
de Jesus na pessoa de nossos irmãos e irmãs. Que a exemplo de Maria, iluminados
pelo forte sentido pastoral da Palavra, o cristão deve assumir a missão e
anunciar a Palavra de Deus que nos revela Jesus Cristo e faz com que acolhamos
os mais necessitados em nossas comunidades, como Maria que escolheu a melhor
parte.
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