O cristianismo compareceu
primeiramente na história como caminho (odós tou Christou) e como movimento.
Ele é anterior a sua sedimentação nos evangelhos, nas doutrinas, nos ritos e
nas igrejas. O caráter de caminho espiritual e de movimento é algo perene,
sempre se manteve ao longo da história; é um tipo de cristianismo que possui
seu próprio curso. Geralmente vive à margem e, às vezes, em distância crítica
da instituição oficial, mas nasce e se alimenta do permanente fascínio pela
figura e pela mensagem libertária e espiritual de Jesus de Nazaré. Inicialmente
tido como "heresia dos nazarenos" (At 24,5) ou simplesmente
"heresia" (At 28,22) no sentido de grupelho, foi lentamente ganhando
autonomia até que seus seguidores fossem chamados de "cristãos", como
o atesta os Atos dos Apóstolos (11, 36). O movimento de Jesus certamente é a
força mais forte do cristianismo por não estar enquadrado nas instituições ou
aprisionado em doutrinas e dogmas. É composto por todo tipo de gente, das mais
variadas culturas e tradições espirituais, até por agnósticos e ateus que se
deixam tocar profundamente por sua figura corajosa, por seu espírito
libertário, por sua mensagem de um profundo humanismo, por sua ética do amor
incondicional, especialmente aos pobres e aos oprimidos e pela forma como
assumiu o drama do destino humano, no meio de humilhações, torturas e da
execução na cruz. Apresentou uma imagem de Deus tão íntima e amiga da vida, que
é difícil furtar-se a ela até por quem não crê em Deus. Muitos desses dizem: se
existe um Deus, este deve ser aquele que tem os traços do Deus de Jesus. Todos
sentem-se atraídos e próximos a seus ideais e estilo de vida. O movimento de
Jesus comparece como uma forma elevada de humanismo e revela uma crença
religiosa, mas também não religiosa no valor da pessoa humana, incluindo sua
dimensão transcendente.
Trecho extraído do Livro "Cristianismo:
O Mínimo do Mínimo" (Editora Vozes, 2011) – Autor: Leonardo Boff
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