Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo dá-nos conta, uma vez mais, da preocupação de Deus em oferecer o
“pão” da vida plena e definitiva. Por outro lado, convida a todos (as) a prescindirem
do orgulho e da autossuficiência e a acolherem, com reconhecimento e gratidão,
os dons de Deus.
A
primeira leitura mostra como Deus Se preocupa em oferecer aos seus filhos o
alimento que dá vida. No “pão cozido sobre pedras quentes” e na “bilha de água”
com que Deus retempera as forças do profeta Elias, manifesta-se o Deus da
bondade e do amor, cheio de solicitude para com os seus filhos, que anima os
seus profetas e lhes dá a força para testemunhar, mesmo nos momentos de
dificuldade e de desânimo.
O
nosso texto garante-nos que Deus não abandona aqueles a quem chama a dar
testemunho profético. No “pão cozido sobre pedras quentes” e na “bilha de água”
com que Deus retempera as forças de Elias, manifesta-se o Deus da bondade e do
amor, cheio de solicitude para com os seus filhos, que anima os seus profetas e
lhes dá a força para testemunhar, mesmo nos momentos de dificuldade e de
desânimo. Quando tudo parece cair à nossa volta e quando a nossa missão parece
condenada ao fracasso, é em Deus que temos de confiar e é n’Ele que temos de
colocar a nossa segurança e a nossa esperança.
O
profeta deve continuar a sua missão, enfrentando os mesmos problemas de sempre;
mas Deus “apenas” alimenta o profeta, dando-lhe a coragem para continuar a sua
missão. Por vezes, pedimos a Deus que nos resolva milagrosamente os problemas,
com um golpe mágico, enquanto nós ficamos, de braços cruzados, a olhar para o
céu… O nosso Deus não Se substitui ao homem e a mulher, não ocupa o nosso lugar,
não estimula com a sua ação a nossa preguiça e a nossa instalação; mas está ao
nosso lado sempre que precisamos d’Ele, dando-nos a força para vencer as
dificuldades e indicando-nos o caminho a seguir.
A
segunda leitura mostra-nos as consequências da adesão a Jesus, o “pão” da vida…
Quando alguém acolhe Jesus como o “pão” que desceu do céu, torna-se um Homem
Novo, que renuncia à vida velha do egoísmo e do pecado e que passa a viver no
caridade, a exemplo de Cristo.
Pelo
Batismo, cada cristão tornou-se morada do Espírito; e ao acolher o Espírito,
recebeu um sinal ou selo que prova a sua pertença a Deus, tornam-se filhos
amados de Deus e passam a integrar a comunidade de Deus. O Batismo não é,
portanto, uma tradição familiar, um rito cultural, ou uma obrigação social; mas
é um momento sério de opção por Deus e de compromisso com os valores de Deus. Tem,
portanto, de viver em consequência e de expressar, nas suas ações concretas, a
vida nova do Espírito, o cristão deve evitar qualquer ação que se oponha ao
amor, pautar toda a vida por atitudes de bondade, de compaixão, de perdão, de
amor, tendo Cristo como o modelo de vida, pois, Jesus foi o paradigma do Homem
Novo, o modelo que Deus propõe a todos os outros seus filhos. Assim, seguir
Cristo e ser um Homem Novo e Mulher Nova implica, na perspectiva de Paulo,
assumir uma nova atitude nas relações com os irmãos. Então, é necessário que
estejamos cientes desta realidade: quando na nossa vida pessoal ou comunitária
nos deixamos levar pelo rancor, pelo ciúme, pelo ódio, pela violência, pela
mesquinhez e magoamos os irmãos que nos rodeiam, estamos a ser incoerentes com
o compromisso que assumimos no dia do nosso Batismo, como família de Deus.
O
Evangelho apresenta Jesus como o “pão” vivo que desceu do céu para dar a vida
ao mundo. Para que esse “pão” sacie definitivamente a fome de vida que reside
no coração de cada homem ou mulher, é preciso “acreditar”, isto é, aderir a
Jesus, acolher as suas propostas, aceitar o seu projeto, segui-l’O no “sim” a
Deus e no amor aos irmãos.
Os
interlocutores de Jesus não aceitam a sua pretensão de Se apresentar como “o
pão que desceu do céu”. Eles conhecem a sua origem humana, sabem que o seu pai
é José, conhecem a sua mãe e a sua família; e, na sua perspectiva, isso exclui
uma origem divina. Em consequência, eles não podem aceitar que Jesus Se arrogue
a pretensão de trazer aos homens a vida de Deus.
Em
lugar de discutir a questão da sua origem divina, Jesus prefere denunciar
aquilo que está por detrás da atitude negativa dos judeus face à proposta que
lhes é feita: eles não têm o coração aberto aos dons de Deus e recusam-se a
aceitar os desafios de Deus… O Pai apresenta-lhes Jesus e pede-lhes que vejam
em Jesus o “pão” de Deus para dar vida ao mundo; mas os judeus, instalados nas
suas certezas, amarrados às suas seguranças, acomodados a um sistema religioso
ritualista, estéril e vazio, já decidiram que não têm fome de vida e que não
precisam para nada do “pão” de Deus. Não estão, portanto, dispostos, a acolher
Jesus, “o pão que desceu do céu”. Eles não escutam Jesus, porque estão
instalados num esquema de orgulho e de autossuficiência e, por isso, não
precisam de Deus.
Para
aqueles que, efetivamente, O querem aceitar como “o pão de Deus que desceu do
céu”, Jesus traz a vida eterna. Ele “é”, de facto, o “pão” que permite ao homem
saciar a sua fome de vida: “Eu sou o pão da vida”. A expressão “Eu sou” é uma
fórmula de revelação, que manifesta a origem divina de Jesus e a validade da
proposta de vida que Ele traz. Quem adere a Jesus e à proposta que Ele veio
apresentar: “quem acredita”, encontra a vida definitiva. O que é decisivo,
neste processo, é o “acreditar” – isto é, o aderir efetivamente a Jesus e aos
valores que Ele veio propor.
Esta
vida que Jesus está disposto a oferecer não é uma vida parcial, limitada e finita;
mas é uma vida verdadeira e eterna. Para sublinhar esta realidade, Jesus
estabelece um paralelo entre o “pão” que Ele veio oferecer e o maná que os
israelitas comeram ao longo da sua caminhada pelo deserto… No deserto, os
israelitas receberam um pão - o maná - que não lhes garantia a vida eterna e
definitiva e que nem sequer lhes assegurava o encontro com a terra prometida e
com a liberdade plena (alimentada pelo antigo maná, a geração saída da
escravidão do Egito nunca conseguiu apropriar-se da vida em plenitude e nem
sequer chegou a alcançar essa terra da liberdade que buscavam); mas o “pão” que
Jesus quer oferecer ao homem levará o homem a alcançar a meta da vida plena.
“Vida plena” não indica aqui, apenas, um “tempo” sem fim; mas indica,
sobretudo, uma vida com uma qualidade única, com uma qualidade ilimitada – uma
vida total, a vida do homem plenamente realizado.
Jesus
vai dar a sua “carne”: “o pão que Eu hei-de dar é a minha carne” - para que os
homens tenham acesso a essa vida plena, total, definitiva. Jesus estará aqui a
referir-se à sua “carne” física? Não. A “carne” de Jesus é a sua pessoa – essa
pessoa que os discípulos conhecem e que se lhes manifesta, todos os dias, em
gestos concretos de amor, de bondade, de solicitude, de misericórdia. Essa
“pessoa” revela-lhes o caminho para a vida verdadeira: nas atitudes, nas
palavras de Jesus, manifesta-se historicamente ao mundo o Deus que ama os
homens e que os convida, através de gestos concretos, a fazer da vida um dom e
um serviço de amor.
Todos
nós temos alguma tendência para a acomodação, a instalação, o aburguesamento; e
quando nos deixamos dominar por este esquema, tornamo-nos prisioneiros dos
ritos, dos preconceitos, das ideias política ou religiosamente corretas, de
catecismos muito bem elaborados mas parados no tempo, das elaborações
teológicas muito coerentes e muito bem arrumadas mas que deixam pouco espaço
para o mistério de Deus e para os desafios sempre novos que Deus nos faz. É
preciso aprendermos a questionar as nossas certezas, as nossas ideias
pré-fabricadas, os esquemas mentais em que nos instalamos comodamente; é
preciso termos sempre o coração aberto e disponível para esse Deus sempre novo
e sempre dinâmico, que vem ao nosso encontro de mil formas para nos apresentar
os seus desafios e para nos oferecer a vida em abundância.
Antes
de nos pormos a caminho para receber o Pão da Vida, Jesus recorda-nos que,
antes de mais, somos convidados, que é Deus que dá o primeiro passo: “Felizes
os convidados para a ceia do Senhor!” O que Cristo quer é que vivamos
plenamente, enquanto vamos ao seu encontro: a sua palavra é alimento, a sua
carne (a sua pessoa) é alimento, com Ele ficamos saciados. Ele vem até nós para
que vivamos d’Ele e, por Ele, a nossa vida ganhe sentido, os nossos gestos
possam dar a vida, as nossas palavras possam exprimir a ternura, a nossa oração
se torne relação filial com o Pai. Somos reenviados a uma escolha que,
certamente, não suprime as exigências da nossa razão, mas ultrapassa-as, porque
aceitamos entrar numa relação de amor e de amizade com Jesus, “o filho de
José”, que reconhecemos também como “o Filho de Deus”. Desta forma, acolhamos e
sejamos sempre, como Jesus – “o pão vivo descido do céu”, na pessoa do irmão, clamando
e lutando para que não falte pão ...que a justiça social acontece plenamente na
vida de todos (as). Assim seja! Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!