Neste
Santo Domingo ecoa, com insistência, a preocupação de Deus no sentido de
apontar a homens e mulheres o caminho da salvação e da vida definitiva. A
Palavra de Deus garante-nos que a salvação passa por uma vida vivida na escuta
atenta dos projetos de Deus e na doação total aos irmãos.
Na
primeira leitura, Javé apresenta a Israel a proposta de uma nova Aliança. Esta
Aliança implica que Deus mude o coração do Povo, pois, só com um coração
transformado, homens e mulheres serão capazes de pensar, de decidir e de agir
de acordo com as propostas de Deus.
Fazer
parte da comunidade da nova Aliança não tem a ver com o cumprimento de ritos ou
de obrigações externas; mas tem a ver com a adesão incondicional do coração às
propostas de Deus. O que nos faz membros efetivos da comunidade da nova Aliança
não é o ter o nome inscrito no livro de registos de batismos da nossa
paróquia, ou o ter celebrado o casamento na igreja, ou o ir à missa ao domingo…
Mas é o estar atento aos projetos de Deus, interiorizar as propostas de Deus,
conduzir a vida de acordo com os valores de Deus, testemunhar a vida de Deus
nos gestos simples do dia a dia, viver em comunhão com Deus. O projeto de uma
nova Aliança entre Deus e o seu Povo concretiza-se em Jesus: Ele veio ao mundo
para renovar o coração das pessoas, oferecendo-lhes a vida de Deus.
A
segunda leitura apresenta-nos Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança,
que Se solidariza com os homens e mulheres e lhes aponta o caminho da salvação.
Este caminho - e que é o mesmo caminho que Jesus seguiu - passa por viver no
diálogo com Deus, na descoberta dos seus desafios e propostas, na obediência
radical aos seus projetos.
Jesus
Cristo é o sumo-sacerdote da nova Aliança, pois, Ele conhece e entende as
fragilidades dos homens e está apto a oferecer-lhes a ajuda necessária para que
possam alcançar a salvação. Cumprindo integralmente o projeto do Pai, Jesus
mostra-nos que o caminho da salvação está na comunhão com Deus, na obediência
radical aos projetos de Deus e no dom da vida aos irmãos. Jesus é, assim, um
sumo-sacerdote que proporciona eficazmente a salvação, levando-os ao encontro
de Deus e da vida plena.
O
Evangelho convida-nos a olhar para Jesus, a aprender com Ele, a segui-l’O no caminho
do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. O
caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de morte;
mas é deste caminho de amor e de doação que brota a vida verdadeira e eterna
que Deus nos quer oferecer.
Os
“gregos” vieram a Jerusalém “adorar” a Deus no Templo; mas quiseram
encontrar-se com Jesus, conhecer Jesus e o seu projeto, tomar contato com a
salvação que Ele veio oferecer. Com isto, o autor do Quarto Evangelho sugere
que o Templo e o culto antigo já não são mais os lugares onde o homem encontra
Deus e a salvação; agora, quem estiver interessado em encontrar a verdadeira
libertação deve dirigir-se ao próprio Jesus. Por outro lado, a
salvação/libertação que Jesus veio trazer tem um alcance universal e destina-se
a todos os homens – mesmo àqueles que vivem fora das fronteiras físicas de
Israel (“gregos”).
Estes
“gregos” não se dirigem diretamente a Jesus, mas aos discípulos. Haverá aqui,
talvez, um aceno à responsabilidade missionária da comunidade de Jesus,
encarregada da missão de levar Jesus a todos os povos da terra.
Quem
vai ao encontro de Jesus, o que é que vai encontrar? No horizonte próximo de Jesus, está apenas a
cruz. Ele está consciente de que vai sofrer uma morte violenta e maldita, e que
todos o vão abandonar como um fracassado. Paradoxalmente, Ele está consciente,
também, que nessa cruz se manifestará a “glória” do Filho do Homem.
A
morte de Jesus não é um momento isolado, mas o culminar de um processo de
doação total de Si mesmo, que se iniciou quando “o Verbo Se fez carne e montou
a sua tenda no meio dos homens”; é o último ato de uma vida de entrega total
aos projetos de Deus, feita amor até ao extremo. Durante toda a sua existência
terrena, Jesus procurou, em cada palavra e em cada gesto, tornar o homem livre
de todas as opressões, dotá-lo de dignidade, dar-lhe vida em plenitude. Sem se
assustar com a perspectiva da morte, cumprindo até ao fim o projeto libertador
de Deus em nosso favor, Jesus levou avante a sua luta pela libertação da
humanidade. A sua morte é a consequência do seu confronto com as forças da
morte que dominavam o mundo.
Por
outro lado, ao dar a vida por amor, Jesus deixa aos seus discípulos a última e
a suprema lição, a lição final que eles devem aprender. Com a morte de Jesus na
cruz, os discípulos aprendem o amor até ao extremo, o dom total da vida, a entrega
radical aos projetos de Deus e à libertação dos irmãos.
O
que é que nasce deste “dom” de Jesus? Nasce uma nova humanidade. É uma
humanidade que Jesus libertou da opressão, da injustiça, dos mecanismos que
geram sofrimento e medo… E é uma humanidade que venceu o egoísmo e que aprendeu
que a vida é para ser dada, sem limites, por amor. Não há dúvida que o dom da
vida dá abundantes frutos de vida. Na cruz de Jesus manifesta-se, portanto, o
projeto libertador de Deus.
Quem
quiser “conhecer” Jesus deve olhar para este Homem que põe totalmente a sua
vida ao serviço dos projetos de Deus e que morre na cruz para ensinar o amor
sem limites. Deve aprender esta verdade que, para Jesus, é evidente: não se
pode gerar vida, para si próprio e para os outros, sem entregar a própria vida.
A vida nasce do amor, do amor total, do amor que se dá até às últimas
consequências. Só o amor como dom total é fecundo e gerador de vida: “em
verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo caído na terra não morrer,
permanece só; se morrer, produz muito fruto”. Quem se ama a si mesmo e se fecha
num egoísmo estéril, quem se preocupa apenas com defender os seus interesses e
perspectivas, perde a oportunidade de chegar à vida verdadeira, à salvação. Ao
contrário, quem é totalmente livre do medo, quem se esquece dos seus próprios
interesses e seguranças e se compromete com a luta pela justiça, pelos
direitos, pela dignidade e liberdade, quem ama tanto os outros que entrega a
sua vida por eles, este dará frutos de vida e viverá uma vida plena, que nem a
morte calará. É esta vida que tem sentido e que leva o homem à realização
plena.
Jesus
viveu esta dinâmica da vida dada por amor, sem medo de enfrentar o “mundo” –
isto é, sem medo de enfrentar esse sistema de opressão e de injustiça que
pensava poder manter os homens escravos através do medo da morte. Jesus está
livre deste medo e, portanto, está livre para amar totalmente. Àqueles que
querem “ver Jesus” e conhecer o seu projeto, Ele propõe o mesmo caminho – o
caminho do amor e da entrega total. Ser discípulo é colaborar com Jesus na
libertação de homens e mulheres que ainda são escravos, mesmo que isso
signifique enfrentar as forças de opressão do “mundo” e enfrentar a própria
morte: “se alguém Me quer servir, siga-Me”. Quem aceitar esta proposta
permanece unido a Jesus, entra na comunidade de Deus. Poderá ser desprezado
pelo “mundo”; mas será honrado por Deus e acolhido como seu filho.
O
nosso texto termina com a “voz do céu” que glorifica Jesus. É uma forma de
mostrar que o caminho de Jesus tem o selo de garantia de Deus. A “voz do céu”
assegura que a forma de viver proposta por Jesus é verdadeira e que Deus
garante a sua autenticidade. Confirma-se, desta forma, aos discípulos que
oferecer a vida por amor não é um caminho de fracasso e de morte, mas um
caminho de glorificação e de vida. É através da comunidade dos discípulos que “vemos
Jesus”, descobrimos o seu projeto, encontramos este caminho de amor e de doação
que conduz à vida nova, à salvação. Isto recorda-nos a nossa responsabilidade
de testemunhas de Jesus e da sua salvação no meio do povo e afirmarmos categoricamente:
“Queremos ver Jesus”… Assim seja! Amém.
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