Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo, apresenta-nos o projeto de salvação e de vida plena que Deus tem
para oferecer ao mundo e aos homens e mulheres, o projeto do “Reino”.
Na
primeira leitura, o profeta Isaías anuncia uma luz que Deus irá fazer brilhar
por cima das montanhas da Galileia e que porá fim às trevas que submergem todos
aqueles que estão prisioneiros da morte, da injustiça, do sofrimento, do
desespero.
O
profeta fala de “uma luz” que irá começar a brilhar por cima dos montes da
Galileia e que irá iluminar toda a terra. Essa luz eliminará “as trevas” que
mantinham o Povo oprimido e sem esperança e inaugurará o dia novo da alegria e
da paz sem fim. O jugo da opressão que pesava sobre o Povo será, então,
quebrado e a paz deixará de ser uma miragem para se tornar uma realidade. É Jesus, a luz que ilumina o mundo com uma
aurora de esperança, que dá sentido pleno a esta profecia messiânica de Isaías.
Ele é “Aquele que veio de Deus” para vencer as trevas e as sombras da morte que
ocultavam a esperança e instaurar o mundo novo da justiça, da paz, da
felicidade. Assim, acolher Jesus é
aceitar esse projeto de justiça e de paz que Ele veio propor a homens e
mulheres.
A
segunda leitura apresenta as vicissitudes de uma comunidade de discípulos, que
esqueceram Jesus e a sua proposta. Paulo, o apóstolo, exorta-os veementemente a
redescobrirem os fundamentos da sua fé e dos compromissos assumidos no batismo.
Para
Paulo, o cristianismo era a adesão a Jesus Cristo, o único e verdadeiro mestre.
Paulo não mede as palavras: a Cristo e unicamente a Cristo os cristãos, todos,
foram consagrados pelo batismo. É Cristo e só Cristo a única fonte de salvação.
Ser batizado é entrar a fazer parte do corpo de Cristo e participar no
acontecimento salvador do qual Cristo é o único mediador. Dessa forma, a
comunidade será uma verdadeira família de irmãos, que recebe vida de Cristo,
que vive em unidade e comunhão.
O
Evangelho descreve a realização da promessa profética: Jesus é a luz que começa
a brilhar na Galileia e propõe aos homens de toda a terra a Boa Nova da chegada
do “Reino”. Ao apelo de Jesus, respondem os discípulos: eles serão os primeiros
destinatários da proposta e as testemunhas encarregadas de levar o “Reino” a
toda a terra.
Na
primeira parte, Mateus refere como Jesus abandona Nazaré, o seu lugar de
residência habitual, e se transfere para Cafarnaum. Mateus descobre nesse fato
um significado profundo, à luz de Isaías: a “luz” que havia de eliminar as trevas
e as sombras da morte de que fala Isaías é, para Mateus, o próprio Jesus. Na
terra humilhada de Zabulão e Neftali, vai começar a brilhar a luz da
libertação; e essa libertação vai atingir, também, os pagãos que acolherem o
anúncio do Reino - para Mateus, é bem significativo que o primeiro anúncio ecoe
na Galileia, terra onde os gentios se misturam com os judeus e, concretamente,
em Cafarnaum, a cidade que, pela sua situação geográfica, é uma ponte para as
terras dos pagãos. O anúncio libertador de Jesus apresenta, desde logo, uma
dimensão universal.
Na
segunda parte, Mateus apresenta o lançamento da missão de Jesus: define-se o
conteúdo básico da pregação que se inicia, mostra-se o “Reino” como realidade
viva atuante, apresentam-se os primeiros discípulos que acolhem o apelo do
“Reino” e que vão acompanhar Jesus na missão.
Qual
é, em primeiro lugar, o conteúdo do anúncio? Jesus veio trazer “o Reino”. A
expressão “Reino de Deus” - ou “Reino dos céus”, como prefere dizer Mateus, refere-se,
no Antigo Testamento e na época de Jesus, ao exercício do poder soberano de
Deus sobre os homens e sobre o mundo. O Povo de Deus começa a sonhar com um
tempo novo, em que o próprio Deus vai reinar sobre o seu Povo; esse reinado
será marcado – na perspectiva dos teólogos de Israel – pela justiça, pela
misericórdia, pela preocupação de Deus em relação aos pobres e marginalizados,
pela abundância e fecundidade, pela paz sem fim.
Jesus
tem consciência de que a chegada do “Reino” está ligada à sua pessoa. O seu
primeiro anúncio resume-se, para Mateus, no seguinte slogan: “arrependei-vos porque
o Reino dos céus está a chegar”. O convite à conversão é um convite a uma
mudança radical na mentalidade, nos valores, na postura vital. Corresponde,
fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus, a um reequacionar a vida,
de modo a que Deus e os seus valores passem a estar no centro da existência; só
quando aceitar que Deus ocupe o lugar que Lhe compete, é que homens e mulheres
estarão preparados para aceitar a realeza de Deus… Então, o “Reino” pode nascer
e tornar-se realidade no mundo e nos corações.
Na
sequência, Mateus apresenta Jesus a construir ativamente o “Reino”: as suas
palavras anunciam essa nova realidade e os seus gestos - os milagres, as curas,
as vitórias sobre tudo o que rouba a vida e a felicidade do homem - são sinais evidentes de que Deus começou já a
reinar e a transformar a escravidão em vida e liberdade.
Finalmente,
Mateus descreve o chamamento dos primeiros discípulos. Trata-se de uma
catequese sobre o chamamento e a adesão ao projeto do “Reino”. Através da
resposta pronta de Pedro e André, Tiago e João, propõe-se um exemplo da
conversão radical ao “Reino” e de adesão às suas exigências.
O
relato sublinha uma diferença fundamental entre os chamados por Jesus e os
discípulos que se juntavam à volta dos mestres do judaísmo: não são os
discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no seu grupo, como
acontecia com os discípulos dos “rabbis”; mas a iniciativa é de Jesus, que
chama os discípulos que Ele próprio escolheu, que os convida a segui-l’O e lhes
propõe uma missão.
A
resposta dos quatro discípulos ao chamamento é paradigmática: renunciam à
família, ao seu trabalho, às seguranças instituídas e seguem Jesus sem
condições. Esta ruptura que significa não só uma ruptura afetiva com pessoas,
mas também a ruptura com um quadro de referências sociais e de segurança
econômica, indicia uma opção radical pelo “Reino” e pelas suas exigências.
Uma
palavra para a missão que é proposta aos discípulos que aceitam o desafio do
“Reino”: eles serão pescadores de homens. O mar é, na cultura judaica, o lugar
dos demônios, das forças da morte que se opõem à vida e à felicidade; a tarefa
dos discípulos que aceitam integrar o “Reino” será, portanto, libertar os
homens dessa realidade de morte e de escravidão em que eles estão mergulhados,
conduzindo-os à liberdade e à realização plenas.
Estes
quatro discípulos representam todo o grupo dos discípulos, de todos os tempos e
lugares… Eles devem responder positivamente ao chamamento, optar pelo “Reino” e
pelas suas exigências e tornarem-se testemunhas da vida e da salvação de Deus
no meio dos homens e do mundo. Jesus é o Deus que vem ao nosso encontro para
realizar os nossos sonhos de felicidade sem limites e de paz sem fim. N’Ele e
através d’Ele, das suas palavras, dos seus gestos, o “Reino” aproximou-se de
homens e mulheres e deixou de ser uma quimera, para se tornar numa realidade em
construção no mundo. Contemplar o anúncio de Jesus é abismar-se na contemplação
de uma incrível história de amor, protagonizada por um Deus que não cessa de
nos oferecer oportunidades de realização e de vida plena. Sobretudo, o anúncio
de Jesus toca e enche de júbilo o coração dos pobres e humilhados...
A história do compromisso de Pedro e André, Tiago e João com Jesus e com o “Reino” é uma história que define os traços essenciais da caminhada de qualquer discípulo… Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que é Jesus que chama e que propõe o Reino; em segundo lugar, é preciso ter a coragem de aceitar o chamamento e fazer do “Reino” a prioridade; em terceiro lugar, é preciso acolher a missão que Jesus confia e comprometer-se corajosamente na construção do “Reino” no mundo. Assim seja! Amém.
A história do compromisso de Pedro e André, Tiago e João com Jesus e com o “Reino” é uma história que define os traços essenciais da caminhada de qualquer discípulo… Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que é Jesus que chama e que propõe o Reino; em segundo lugar, é preciso ter a coragem de aceitar o chamamento e fazer do “Reino” a prioridade; em terceiro lugar, é preciso acolher a missão que Jesus confia e comprometer-se corajosamente na construção do “Reino” no mundo. Assim seja! Amém.
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