domingo, 26 de janeiro de 2014

Discípulos do Reino



Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo, apresenta-nos o projeto de salvação e de vida plena que Deus tem para oferecer ao mundo e aos homens e mulheres, o projeto do “Reino”.

Na primeira leitura, o profeta Isaías anuncia uma luz que Deus irá fazer brilhar por cima das montanhas da Galileia e que porá fim às trevas que submergem todos aqueles que estão prisioneiros da morte, da injustiça, do sofrimento, do desespero.
O profeta fala de “uma luz” que irá começar a brilhar por cima dos montes da Galileia e que irá iluminar toda a terra. Essa luz eliminará “as trevas” que mantinham o Povo oprimido e sem esperança e inaugurará o dia novo da alegria e da paz sem fim. O jugo da opressão que pesava sobre o Povo será, então, quebrado e a paz deixará de ser uma miragem para se tornar uma realidade.  É Jesus, a luz que ilumina o mundo com uma aurora de esperança, que dá sentido pleno a esta profecia messiânica de Isaías. Ele é “Aquele que veio de Deus” para vencer as trevas e as sombras da morte que ocultavam a esperança e instaurar o mundo novo da justiça, da paz, da felicidade.  Assim, acolher Jesus é aceitar esse projeto de justiça e de paz que Ele veio propor a homens e mulheres.

A segunda leitura apresenta as vicissitudes de uma comunidade de discípulos, que esqueceram Jesus e a sua proposta. Paulo, o apóstolo, exorta-os veementemente a redescobrirem os fundamentos da sua fé e dos compromissos assumidos no batismo.
Para Paulo, o cristianismo era a adesão a Jesus Cristo, o único e verdadeiro mestre. Paulo não mede as palavras: a Cristo e unicamente a Cristo os cristãos, todos, foram consagrados pelo batismo. É Cristo e só Cristo a única fonte de salvação. Ser batizado é entrar a fazer parte do corpo de Cristo e participar no acontecimento salvador do qual Cristo é o único mediador. Dessa forma, a comunidade será uma verdadeira família de irmãos, que recebe vida de Cristo, que vive em unidade e comunhão.

O Evangelho descreve a realização da promessa profética: Jesus é a luz que começa a brilhar na Galileia e propõe aos homens de toda a terra a Boa Nova da chegada do “Reino”. Ao apelo de Jesus, respondem os discípulos: eles serão os primeiros destinatários da proposta e as testemunhas encarregadas de levar o “Reino” a toda a terra.
Na primeira parte, Mateus refere como Jesus abandona Nazaré, o seu lugar de residência habitual, e se transfere para Cafarnaum. Mateus descobre nesse fato um significado profundo, à luz de Isaías: a “luz” que havia de eliminar as trevas e as sombras da morte de que fala Isaías é, para Mateus, o próprio Jesus. Na terra humilhada de Zabulão e Neftali, vai começar a brilhar a luz da libertação; e essa libertação vai atingir, também, os pagãos que acolherem o anúncio do Reino - para Mateus, é bem significativo que o primeiro anúncio ecoe na Galileia, terra onde os gentios se misturam com os judeus e, concretamente, em Cafarnaum, a cidade que, pela sua situação geográfica, é uma ponte para as terras dos pagãos. O anúncio libertador de Jesus apresenta, desde logo, uma dimensão universal.
Na segunda parte, Mateus apresenta o lançamento da missão de Jesus: define-se o conteúdo básico da pregação que se inicia, mostra-se o “Reino” como realidade viva atuante, apresentam-se os primeiros discípulos que acolhem o apelo do “Reino” e que vão acompanhar Jesus na missão.
Qual é, em primeiro lugar, o conteúdo do anúncio? Jesus veio trazer “o Reino”. A expressão “Reino de Deus” - ou “Reino dos céus”, como prefere dizer Mateus, refere-se, no Antigo Testamento e na época de Jesus, ao exercício do poder soberano de Deus sobre os homens e sobre o mundo. O Povo de Deus começa a sonhar com um tempo novo, em que o próprio Deus vai reinar sobre o seu Povo; esse reinado será marcado – na perspectiva dos teólogos de Israel – pela justiça, pela misericórdia, pela preocupação de Deus em relação aos pobres e marginalizados, pela abundância e fecundidade, pela paz sem fim.
Jesus tem consciência de que a chegada do “Reino” está ligada à sua pessoa. O seu primeiro anúncio resume-se, para Mateus, no seguinte slogan: “arrependei-vos porque o Reino dos céus está a chegar”. O convite à conversão é um convite a uma mudança radical na mentalidade, nos valores, na postura vital. Corresponde, fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus, a um reequacionar a vida, de modo a que Deus e os seus valores passem a estar no centro da existência; só quando aceitar que Deus ocupe o lugar que Lhe compete, é que homens e mulheres estarão preparados para aceitar a realeza de Deus… Então, o “Reino” pode nascer e tornar-se realidade no mundo e nos corações.
Na sequência, Mateus apresenta Jesus a construir ativamente o “Reino”: as suas palavras anunciam essa nova realidade e os seus gestos - os milagres, as curas, as vitórias sobre tudo o que rouba a vida e a felicidade do homem -  são sinais evidentes de que Deus começou já a reinar e a transformar a escravidão em vida e liberdade.
Finalmente, Mateus descreve o chamamento dos primeiros discípulos. Trata-se de uma catequese sobre o chamamento e a adesão ao projeto do “Reino”. Através da resposta pronta de Pedro e André, Tiago e João, propõe-se um exemplo da conversão radical ao “Reino” e de adesão às suas exigências.
O relato sublinha uma diferença fundamental entre os chamados por Jesus e os discípulos que se juntavam à volta dos mestres do judaísmo: não são os discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no seu grupo, como acontecia com os discípulos dos “rabbis”; mas a iniciativa é de Jesus, que chama os discípulos que Ele próprio escolheu, que os convida a segui-l’O e lhes propõe uma missão.
A resposta dos quatro discípulos ao chamamento é paradigmática: renunciam à família, ao seu trabalho, às seguranças instituídas e seguem Jesus sem condições. Esta ruptura que significa não só uma ruptura afetiva com pessoas, mas também a ruptura com um quadro de referências sociais e de segurança econômica, indicia uma opção radical pelo “Reino” e pelas suas exigências.
Uma palavra para a missão que é proposta aos discípulos que aceitam o desafio do “Reino”: eles serão pescadores de homens. O mar é, na cultura judaica, o lugar dos demônios, das forças da morte que se opõem à vida e à felicidade; a tarefa dos discípulos que aceitam integrar o “Reino” será, portanto, libertar os homens dessa realidade de morte e de escravidão em que eles estão mergulhados, conduzindo-os à liberdade e à realização plenas.
Estes quatro discípulos representam todo o grupo dos discípulos, de todos os tempos e lugares… Eles devem responder positivamente ao chamamento, optar pelo “Reino” e pelas suas exigências e tornarem-se testemunhas da vida e da salvação de Deus no meio dos homens e do mundo. Jesus é o Deus que vem ao nosso encontro para realizar os nossos sonhos de felicidade sem limites e de paz sem fim. N’Ele e através d’Ele, das suas palavras, dos seus gestos, o “Reino” aproximou-se de homens e mulheres e deixou de ser uma quimera, para se tornar numa realidade em construção no mundo. Contemplar o anúncio de Jesus é abismar-se na contemplação de uma incrível história de amor, protagonizada por um Deus que não cessa de nos oferecer oportunidades de realização e de vida plena. Sobretudo, o anúncio de Jesus toca e enche de júbilo o coração dos pobres e humilhados... 
A história do compromisso de Pedro e André, Tiago e João com Jesus e com o “Reino” é uma história que define os traços essenciais da caminhada de qualquer discípulo… Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que é Jesus que chama e que propõe o Reino; em segundo lugar, é preciso ter a coragem de aceitar o chamamento e fazer do “Reino” a prioridade; em terceiro lugar, é preciso acolher a missão que Jesus confia e comprometer-se corajosamente na construção do “Reino” no mundo. Assim seja! Amém.

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