Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo ensina-nos que Deus tem um “fraco” pelos humildes e pelos pobres,
pelos marginalizados; e que são estes, no seu despojamento, na sua humildade,
na sua finitude, e até no seu pecado, que estão mais perto da salvação, pois,
são os mais disponíveis para acolher o dom de Deus.
A
primeira leitura define Deus como um “juiz justo”, que não se deixa subornar
pelas ofertas desses poderosos que praticam injustiças na comunidade; em
contrapartida, esse Deus justo ama os humildes e escuta as suas súplicas.
Deus
é, então, um juiz justo, que não faz acepção de pessoas, que não aceita ser
cúmplice dos opressores, que não Se deixa subornar pelos presentes dos ricos e
não desiste de fazer justiça aos pobres. Assim, Deus escuta sempre as preces
dos débeis e que está atento aos gritos de revolta daqueles que são vítimas da
injustiça. Assim, os humildes que sofrem a opressão e a prepotência dos
poderosos são convidados a apresentar a Deus as suas queixas, até que Ele
restabeleça o direito e a justiça.
Na
segunda leitura, temos um convite a viver o caminho cristão com entusiasmo, com
entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo. A leitura foge, um pouco, ao tema
geral deste domingo; contudo, podemos dizer que Paulo foi um bom exemplo dessa
atitude que o Evangelho propõe: ele confiou, não nos seus méritos, mas na
misericórdia de Deus, que justifica e salva todos os homens que a acolhem.
Para
definir a sua vida como dom total a Deus e aos irmãos, Paulo utiliza aqui uma
imagem bem sugestiva: a imagem da vítima imolada em sacrifício. Paulo fez da
sua vida um dom total, ao serviço do Evangelho; a sua entrega foi um sacrifício
cultual a Deus. Portanto, apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, é
fundamental descobrir a presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se
fiéis ao Evangelho: assim recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que
Deus reserva a quem combateu o bom combate da fé.
O
Evangelho define a atitude correta que o cristão deve assumir diante de Deus.
Recusa a atitude dos orgulhosos e autossuficientes, convencidos de que a
salvação é o resultado natural dos seus méritos; e propõe a atitude humilde de
um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a
acolher o dom de Deus. É essa atitude de “pobre” que Lucas propõe aos cristãos
do seu tempo e de todos os tempos. Assim, no fariseu e no publicano da
parábola, Lucas põe em confronto dois tipos de atitude face a Deus.
O
fariseu é o modelo de um homem irrepreensível face à Lei, que cumpre todas as
regras e leva uma vida íntegra. Ele está consciente de que ninguém o pode
acusar de cometer ações injustas, nem contra Deus, nem contra os irmãos e,
aparentemente, é verdade, pois, a parábola não nos diz que ele estivesse a
mentir. Evidentemente, está contente e, tinha razões para isso, por não ser
como esse publicano que também está no Templo: os fariseus tinham consciência
da sua superioridade moral e religiosa, sobretudo em relação aos pecadores
notórios - como é o caso deste publicano.
O
publicano é o modelo do pecador. Explora os pobres, pratica injustiças, trafica
com a miséria e não cumpre as obras da Lei. Ele tem, aliás, consciência da sua
indignidade, pois, a sua oração consiste apenas em pedir: “meu Deus, tende
compaixão de mim que sou pecador”.
O
comentário final de Jesus sugere que o publicano se reconciliou com Deus - a expressão utilizada é “desceu justificado
para sua casa” – o que nos leva à doutrina paulina da justificação: apesar de o
homem viver mergulhado no pecado, Deus, na sua misericórdia infinita e sem que
o homem tenha méritos, salva-o. Porquê?
O
problema do fariseu é que pensa ganhar a salvação com o seu próprio esforço.
Para ele, a salvação não é um dom de Deus, mas uma conquista do homem; se o
homem levar uma vida irrepreensível, Deus não terá outro remédio senão salvá-lo.
Ele está convencido de que Deus lhe deve a salvação pelo seu bom comportamento,
como se Deus fosse apenas um contabilista que toma nota das ações do homem e,
no fim, lhe paga em consequência. Ele está cheio de autossuficiência: não
espera nada de Deus, pois – pensa ele – os seus créditos são suficientes para
se salvar. Por outro lado, essa autossuficiência leva-o, também, ao desprezo
por aqueles que não são como ele; considera-se “à parte”, “separado”, como se
entre ele e o pecador existisse uma barreira… É meio caminho andado para, em
nome de Deus, criar segregação e exclusão: que leva a religião dos “méritos”.
O
publicano, ao contrário, apoia-se apenas em Deus e não nos seus méritos que,
aliás, não existem. Ele apresenta-se diante de Deus de mãos vazias e sem
quaisquer pretensões; entrega-se apenas nas mãos de Deus e pede-Lhe compaixão…
E Deus “justifica-o” – isto é, derrama sobre ele a sua graça e salva-o –
precisamente porque ele não tem o coração cheio de autossuficiência e está
disposto a aceitar a salvação que Deus quer oferecer a todos.
Esta
parábola, destinada a “alguns que se consideravam justos e desprezavam os
outros”, sugere que esses que se presumem de justos estão, às vezes, muito
longe de Deus e da salvação. Desta forma, “quem sem eleva será humilhado e quem
se humilha será elevado”. E nossa oração deverá romper a distância para com
Deus, sendo fundante que seja feita num diálogo de amor e humildade,
revelando-nos ao Pai, em comunhão plena, iluminado por Sua presença plena, acolhendo Deus.
Assim seja! Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!