Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo sugere-nos, hoje, uma reflexão sobre o lugar que o dinheiro e os
outros bens materiais devem assumir na nossa vida. De acordo com a Palavra de
Deus que nos é proposta, os discípulos de Jesus devem evitar que a ganância ou
o desejo imoderado do lucro manipulem as suas vidas e condicionem as suas
opções; em contrapartida, são convidados a procurar os valores do “Reino”.
Na
primeira leitura, o profeta Amós denuncia aos comerciantes sem escrúpulos,
preocupados em ampliar sempre mais as suas riquezas, que apenas pensam em
explorar a miséria e o sofrimento dos pobres. Amós avisa: Deus não está do lado
de quem, por causa da obsessão do lucro, escraviza os irmãos. A exploração e a injustiça
não passam em claro aos olhos de Deus.
O
texto que nos é proposto denuncia comerciantes sem escrúpulos, dominados pelo
espírito do lucro, em cujos olhos só brilham cifrões. Eles compram aos
agricultores os produtos da terra a preços irrisórios e revendem-nos aos pobres
a preços exorbitantes, especulando com as necessidades dos humildes; roubam os
clientes pobres, usando pesos, medidas e balanças falsas; enganam sobre a
qualidade dos produtos, misturando as cascas com o trigo; nos dias de sábado e de
lua nova, dias sagrados, em que as atividades lucrativas eram suspensas, em
lugar de se preocuparem com o louvor de Deus, eles estão ansiosos por
recomeçarem os seus negócios de especulação e de exploração do pobre, a fim de
aumentarem os seus lucros.
Tudo
isto configura uma violação grosseira dos mandamentos da aliança. Javé não está
disposto a ser cúmplice da injustiça e da exploração do pobre. Qualquer crime
cometido contra os pobres é um crime contra Deus… Por isso, Amós anuncia que
Deus não esquece este comportamento; ora, dizer que Deus não esquece significa
que Deus vai intervir e acabar com a exploração e a injustiça.
Na
segunda leitura, Paulo convida-nos a fazer do diálogo com Deus uma oração
universal, onde caibam as preocupações e as angústias de todos os nossos
irmãos, sem exceção. Assim, convida o cristão a não ficar fechado em si próprio
e a preocupar-se com as dores e esperanças de todos os irmãos, situa-nos no
mesmo campo: o discípulo é convidado a sair do seu egoísmo para assumir os valores
duradouros do amor, da partilha, da fraternidade.
A
oração começa com um convite a rezar por todos os homens, particularmente pelos
que estão investidos de autoridade: deles depende o bem-estar social e a paz,
condições necessárias para que os cristãos possam viver com tranquilidade, na
fidelidade à sua fé. Portanto, a oração dos cristãos deve ser universal, pois,
é universal a proposta da salvação que Deus oferece: todos – judeus e gregos,
escravos e livres, homens e mulheres, maus e bons – são convidados por Deus a
fazer parte da comunidade da salvação. Duas razões apoiam este universalismo: a
unicidade de Deus, criador de todos e a mediação universal de Cristo, que
derramou o seu sangue por todos…
E
esta oração universal se faça em todo o lugar onde o Evangelho é anunciado,
“erguendo para o céu as mãos santas, sem cólera nem disputa”– o que pode fazer
referência a uma condição que, na perspectiva de Jesus, era necessária para
rezar: estar em paz com todos, estar verdadeiramente reconciliado com os irmãos.
O
Evangelho apresenta a parábola do administrador astuto. Nela, Jesus oferece aos
discípulos o exemplo de um homem que percebeu como os bens deste mundo eram
caducos e precários e que os usou para assegurar valores mais duradouros e
consistentes… Jesus avisa os seus discípulos para fazerem o mesmo.
A
mensagem essencial aqui apresentada gira, portanto, à volta da sábia utilização
dos bens deste mundo: eles devem servir para garantir outros bens, mais
duradouros.
Na
primeira parte do nosso texto apresenta-se a parábola de um administrador sagaz.
A parábola conta-nos a história de um homem que é acusado de administrar de
forma incompetente os bens do patrão. Chamado a contas e despedido, este homem
tem a preocupação de assegurar o futuro. Chama os devedores do patrão e
reduz-lhes consideravelmente as quantias em dívida. Dessa forma – supõe ele –
os devedores beneficiados não esquecerão a sua generosidade e, mais tarde,
manifestar-lhe-ão a sua gratidão e acolhê-lo-ão em sua casa. Como justificar o
proceder deste administrador, que assegura o futuro à custa dos bens do seu
senhor? Porque é que o senhor, prejudicado nos seus interesses, não tem uma
palavra de reprovação ao inteirar-se do prejuízo recebido? Como pode Jesus dar
como exemplo aos discípulos as artimanhas de um tal administrador?
Estas
dificuldades desaparecem se entendemos esta história tendo em conta as leis e
costumes da Palestina nos tempos de Jesus. O administrador de uma propriedade atuava
em nome e em lugar do seu senhor; como não recebia remuneração, podia
ressarcir-se dos seus gastos a expensas dos devedores. Habitualmente, ele
fornecia um determinado número de bens, mas o devedor ficava a dever muito
mais; a diferença era a “comissão” do administrador e o lucro do Senhor. Deve
ser isso que serve de base à nossa história… Das cem talhas de azeite consignados
no recibo, só uns cinquenta haviam sido, na realidade, emprestados; os outros
cinquenta constituíam o reembolso dos gastos do administrador e do Senhor, bem
como, da exorbitante “comissão” que lhe devia ser paga pela operação.
Provavelmente, o que este administrador sagaz fez foi renunciar ao lucro que
lhe era devido ou aquilo que era obtido pela exploração do Senhor, a fim de
assegurar a gratidão dos devedores: renunciou a um lucro imediato, a fim de
assegurar o seu futuro. Este administrador é um exemplo pela sua habilidade e
sagacidade: ele sabe que o dinheiro tem um valor relativo e troca-o por outros
valores mais significativos – a amizade, a gratidão. Jesus conclui a história
convidando os discípulos a serem tão hábeis como este administrador: os
discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas
para conseguir algo mais importante e mais duradouro, o que, na lógica de
Jesus, tem a ver com os valores do “Reino”.
Na
segunda parte do texto, Lucas apresenta-nos uma série de “sentenças” de Jesus sobre
o uso do dinheiro. Estas “sentenças” avisam os discípulos para o bom uso dos
bens materiais: se sabemos utilizá-los tendo em conta as exigências do “Reino”,
seremos dignos de receber o verdadeiro bem, quando nos encontrarmos
definitivamente com o Senhor ressuscitado. Portanto, somos convidados a agir
com honestidade tanto nos grandes como pequenos negócios, porque quem é fiel no
pouco, também é fiel no muito, quem é infiel no pouco, também é infiel no
muito. Quem não é fiel nas riquezas terrenas, no pouco, também não é fiel nas
riquezas eternas, no muito.
O
nosso texto termina com um aviso de Jesus acerca da supervalorização do
dinheiro: "Ninguém pode servir a DOIS SENHORES... a Deus e ao
Dinheiro..." - Deus e o dinheiro representam mundos contraditórios e procurar
conjugá-los é impossível… Os discípulos são, portanto, convidados a fazer a sua
opção entre um mundo de egoísmo, de interesses mesquinhos, de exploração, de
injustiça, dinheiro e um mundo de amor, de doação, de partilha, de fraternidade
- Deus e o “Reino”.
Desta
forma, as riquezas não devem ser obstáculo à Salvação, mas um meio para fazer
amigos "nas moradas eternas." Um instrumento de Comunhão entre as
pessoas, de amizade, de igualdade... Não servir ao dinheiro, mas nos servir do
dinheiro para servir a Deus e aos irmãos, colocando os bens a serviço da vida.
Assim seja! Amém.
Passei para desejar um feliz a abençoada semana.
ResponderExcluirDeus te guarde sempre e que Deus dê perseverança para continuar seu trabalho.
Luciana Dias