Irmãos e irmãs,
Este
Santo Domingo coloca no centro da nossa reflexão a Palavra de Deus: ela é,
verdadeiramente, o centro à volta do qual se constrói a experiência cristã.
Essa Palavra não é uma doutrina abstrata, para deleite dos intelectuais; mas é,
primordialmente, um anúncio libertador que Deus dirige a todos os homens e que encarna em Jesus e nos cristãos.
Na
primeira leitura, exemplifica-se como a Palavra deve estar no centro da vida
comunitária e como ela, uma vez proclamada, é geradora de alegria e de festa. A
questão fundamental sugerida pelo texto tem a ver com a importância que a
Palavra de Deus deve assumir na vida de uma comunidade.
Desta
forma, a Palavra de Deus dirige-se a todos sem exceção, a todos interpela e
questiona; o Livro da Lei é aberto de forma solene e todos se levantam, em
atitude de respeito e veneração pela Palavra… a Palavra é aclamada pela assembleia;
depois, os levitas leem clara e distintamente; finalmente, explicam ao povo a
Palavra, de modo acessível, “de maneira que se pudesse compreender a leitura”.
Temos aqui um autêntico manual de como deve processar-se uma verdadeira
“celebração da Palavra”. Posteriormente, temos a resposta do Povo: confrontados
com a Palavra, choram. A atitude do Povo revela, certamente, uma comunidade que
se deixa interpelar pela Palavra, que confronta a sua vida com a Palavra
proclamada e que sente, na sequência, a urgência da conversão. A Palavra é
eficaz e provoca a transformação da vida. Finalmente, tudo termina numa grande
festa: o dia “consagrado ao Senhor” é um dia de alegria e de festa para a
comunidade que se alimentou da Palavra.
A
segunda leitura apresenta a comunidade gerada e alimentada pela Palavra
libertadora de Deus: é uma família de irmãos, onde os dons de Deus são
repartidos e postos ao serviço do bem comum, numa verdadeira comunhão e
solidariedade.
Paulo
compara a comunidade cristã a um corpo. Esse corpo é constituído por uma
pluralidade diversificada de membros, cada um com a sua tarefa, isto é, com o
seu “carisma” peculiar. Não basta que os membros sejam vários: é preciso que
sejam variados, que sejam distintos: é a riqueza da variedade que permite a
sobrevivência de todo o conjunto. Além disso, são membros que necessitam uns
dos outros e que se preocupam uns com os outros. A unidade fundamental deve,
pois, ir de mãos dadas com o pluralismo carismático e com a preocupação pelo
bem comum.
O corpo de Cristo (a
Igreja) é, pois, uma comunidade de irmãos, que de Cristo recebem e partilham a
vida que os une; sendo uma pluralidade de membros, com diversas funções,
respeitam-se, apoiam-se, são solidários uns com os outros e amam-se.
Palavras-chave para definir a teia de relações que liga este corpo de Cristo
são “solidariedade”, “participação”, “co-responsabilidade”. Isso significa que
o corpo de Cristo é, verdadeiramente, a comunidade que nasce da Palavra e que
se alimenta da Palavra: tudo o resto passa para segundo plano, diante da
Palavra criadora e vivificadora que Deus dirige à comunidade. Assim, todos os
membros do corpo desempenham funções importantes para o equilíbrio e harmonia
do conjunto e para a consecução do bem comum.
No
Evangelho, apresenta-se Cristo como a Palavra que se faz pessoa no meio dos
homens, a fim de levar a libertação e a esperança às vítimas da opressão, do
sofrimento e da miséria. Sugere-se, também, que a comunidade de Jesus é a
comunidade que anuncia ao mundo essa Palavra libertadora.
A
finalidade da obra de Lucas é recordar aos crentes das comunidades de língua
grega as suas raízes e a sua referência a Jesus. Neste texto em concreto, Lucas
vai apresentar o programa que Jesus Se propõe realizar no meio dos homens, como
uma proposta de libertação dirigida a todos os oprimidos.
O
ponto de partida é um texto de Isaías que presenta o profeta anônimo que, em
Jerusalém, consola os exilados, como um “ungido de Deus”, que possui o Espírito
de Deus; a sua missão consiste em gritar a “boa notícia” de que a libertação
chegou ao coração e à vida de todos os prisioneiros do sofrimento, da opressão,
da injustiça, do desânimo, do medo. O que é mais significativo, no entanto, é a
“atualização” que Jesus faz desta profecia: Ele apresenta-Se como o “profeta”
que Deus ungiu com o seu Espírito, a fim de concretizar essa missão libertadora.
O
projeto libertador de Deus em favor dos homens prisioneiros do egoísmo, da
injustiça e do pecado começa, portanto, a cumprir-se na ação de Jesus - “cumpriu-se
hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. Na sequência,
Lucas vai descrever a atividade de Jesus na Galileia como o anúncio, em
palavras e em gestos de uma “boa notícia” dirigida preferencialmente aos pobres
e marginalizados - aos leprosos, aos doentes, aos publicanos, às mulheres,
anunciando-lhes que chegou o fim de todas as escravidões e o tempo novo da vida
e da liberdade para todos.
Lucas
anuncia também o caminho futuro da Igreja e as condições da sua fidelidade a
Cristo. Assim, a comunidade toma consciência de que a sua missão é a mesma de
Cristo e consiste em levar a “boa notícia” da libertação aos mais pobres,
débeis e marginalizados do mundo. Ungida pelo Espírito para levar a cabo esta
missão, a Igreja cumpre o seguimento de Jesus, proclamando o Ano da Graça do Senhor.
Assim seja! Amém.
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