Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo
diz-nos que o caminho da realização plena do homem passa pela obediência aos
projetos de Deus e pelo dom total da vida aos irmãos. Ao contrário do mundo,
esse caminho não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira, à realização plena
do homem.
A
primeira leitura apresenta-nos um profeta, chamado por Deus a testemunhar a
Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a
tortura, a morte. O profeta acolhe esse chamamento sem resistência, sem
discussão, numa entrega total aos desígnios de Deus.
Todavia,
o profeta está consciente de que a sua vida não foi um fracasso: quem confia no
Senhor e procura viver na fidelidade ao seu projeto, triunfará sobre a
perseguição e a morte. O profeta nada teme, pois, confia plenamente no Senhor e
sabe que não ficará desiludido. Há uma total confiança no Deus que não falha e
que não deixa cair aqueles que ama.
Na
segunda leitura, Tiago lembra-nos que o seguimento de Jesus não se concretiza
com belas palavras ou com teorias muito bem elaboradas, mas com gestos
concretos de amor, de partilha, de serviço, de solidariedade para com os
irmãos. A
fé tem de traduzir-se em ações concretas de compromisso com o mundo e com os
homens. Se isso não acontecer, essa fé é apenas uma declaração de boas
intenções, mas que não passa de algo, sem conteúdo. A fé sem obras não serve
para nada.
Desta
forma, a adesão a Jesus e ao seu projeto de fé e amor, significa que o cristão
está disposto a acolher essa vida nova e plena que Deus, gratuitamente e sem
condições, lhe oferece em salvação. Essa vida, interiorizada e assumida, tem de
transparecer em gestos de amor, de solidariedade, de fraternidade, de serviço,
de partilha, de perdão. A vivência da fé, portanto, traduz-se na vida do dia a
dia, especialmente na forma como se vive a relação com esses irmãos com quem
nos cruzamos nos caminhos do mundo. É preciso ir ao encontro do outro e
manifestar-lhe, em gestos concretos, o nosso amor, a nossa solidariedade, a
nossa fraternidade. A nossa religião tem de manifestar-se na vida e tem de
transparecer em nossos gestos..
No
Evangelho, Jesus é apresentado por Marcos como o Messias libertador, enviado ao
mundo pelo Pai para oferecer aos homens o caminho da salvação e da vida plena.
Cumprindo o plano do Pai, Jesus mostra aos discípulos que o caminho da vida
verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas pelo amor e pelo dom
da vida, até à morte, se for necessário. Jesus vai percorrer esse caminho; e
quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.
Desta
forma, o nosso relato apresenta, portanto, duas partes bem distintas. Na
primeira, Pedro dá voz à comunidade dos discípulos e constata que Jesus é o
Messias libertador que Israel esperava; na segunda, Jesus explica aos
discípulos que a sua missão messiânica deve ser entendida à luz da cruz, isto
é, como dom da vida aos homens e mulheres, por amor.
Assim,
a primeira parte do nosso texto começa com Jesus a pôr uma dupla questão aos
discípulos: o que é que as pessoas dizem d’Ele e o que é que os próprios
discípulos pensam d’Ele?
A
opinião dos “homens” vê Jesus uma continuidade com o passado: “João Baptista”,
“Elias”, ou “algum dos profetas”. Não conseguem entender a condição única de
Jesus, a sua novidade, a sua originalidade, a originalidade do seu mistério.
Reconhecem apenas que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo
com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento. Mas não vão, além disso.
Na visão dos “homens”, Jesus é apenas um homem bom, justo, generoso, que
escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como
tantos outros homens antes d’Ele.
Contrapondo,
a esta visão, a opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da
opinião comum. Assim, Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o
sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Messias”. Dizer que Jesus
é o “Messias”, o Cristo, significa dizer que Ele é esse libertador que Israel
esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a
salvação definitiva.
Na
segunda parte do nosso texto, há duas situações. A primeira é a explicação dada
pelo próprio Jesus de que o seu messianismo passa pela cruz; a segunda é uma
instrução sobre o significado e as exigências de ser discípulo de Jesus.
Portanto,
Jesus começa por anunciar que o seu caminho desvela-se pelo sofrimento e pela
morte na cruz. Jesus tem consciência que depois do confronto com os líderes
judeus e depois que estes rejeitaram de forma absoluta a proposta do Reino, há
uma ‘certeza’ de que os líderes judeus meditam a eliminação física de Jesus. Porém,
Jesus não se exime do projeto do Reino e anuncia que pretende continuar a
apresentar, até ao fim, os planos do Pai.
Pedro
aparentemente não está de acordo com este fim e opõe-se, a que Jesus caminhe em
direção ao seu destino de cruz. A oposição de Pedro e dos discípulos, pois,
Pedro continua a ser o porta-voz da comunidade significa que a sua compreensão
do mistério de Jesus ainda é muito imprecisa. Para Pedro, a missão do “messias,
Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é
a lógica do mundo – a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Então,
Jesus dirige-se a Pedro com certa dureza, pois, é preciso que os discípulos compreendam
e mudem a sua perspectiva em relação a Jesus e do plano do Pai que Ele vem
realizar. O plano de Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de
poder e de domínio; mas o plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor, até
às últimas consequências, de que a cruz é a expressão mais radical.
Porquanto,
Pedro ao pedir a Jesus que não continue nos projetos do Pai, está a repetir às
tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério. Por isso, Jesus
responde a Pedro: “Vai-te, Satanás”. As palavras de Pedro pretendem desviar
Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e Jesus não está disposto a transigir
com qualquer proposta que O impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os
projetos de Deus.
Na
sequência do relato de Marcos, depois de anunciar o seu destino, que será
cumprido, em obediência ao plano do Pai, no dom da própria vida em favor dos
homens, Jesus convida os seus discípulos a seguir um percurso semelhante. Quem
quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e
seguir Jesus no caminho do amor, da entrega e do dom da vida; renunciando ao egoísmo
e auto-suficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros.
Desta
forma, o cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado apenas em
concretizar os seus sonhos pessoais, os seus projetos de riqueza, de segurança,
de bem estar, de domínio, de êxito, de triunfo. Para assumir o dom de amor aos
irmãos, a cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte, entregando
a própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de dar a vida – de forma
total e completa – por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.
Neste
sentido, para abraçar a “lógica da cruz”, Jesus explica e convida aos
discípulos a entender que oferecer a vida por amor, não é perdê-la, mas
ganhá-la. Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos, não fracassou; mas
ganhou a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com
as suas propostas. Desta forma, o
cristão deve fazer da sua vida um dom generoso a Deus e aos irmãos, para ser
discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino, assumindo a cruz, vivendo
a Páscoa de Jesus – paixão – morte – ressurreição, renunciando a si mesmo, a
própria existência, pra fazer de sua vida, uma entrega plena, por amor. Assim seja! Amém.
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