domingo, 10 de abril de 2016

O Ressuscitado presente e vivo em nosso gestos de amor


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo do Tempo Pascal recorda-nos que a comunidade cristã tem por missão testemunhar e concretizar o projeto libertador que Jesus iniciou; e que Jesus, vivo e ressuscitado, acompanhará sempre a sua Igreja em missão, vivificando-a com a sua presença e orientando-a com a sua Palavra.

A primeira leitura apresenta-nos o testemunho que a comunidade de Jerusalém dá de Jesus ressuscitado. Embora o mundo se oponha ao projeto libertador de Jesus testemunhado pelos discípulos, o cristão deve antes obedecer a Deus do que aos homens.
A proposta de Jesus é uma proposta libertadora, que não se compadece nem pactua com esquemas egoístas, injustos, opressores. É uma mensagem questionante, transformadora, revolucionária, que põe em causa tudo o que gera injustiça, morte, opressão; por isso, é uma proposta que é rejeitada e combatida por aqueles que dominam o mundo e que oprimem os pobres. Isto explica bem porque é que o testemunho sobre Jesus não é um caminho fácil de glória, de aplausos, de honras, de popularidade, mas um caminho de cruz. Se Jesus encontrou oponentes e morreu na cruz, é natural que os apóstolos, fiéis a Jesus e ao seu projeto, se defrontem com a oposição desses mesmos que mataram Jesus. No entanto, os verdadeiros seguidores do projeto de Jesus – animados pelo Espírito – estão mais preocupados com a fidelidade ao “caminho” de Jesus do que às ordens ou interesses dos que dominam – mesmo que sejam os que mandam no mundo.

A segunda leitura apresenta Jesus, o “cordeiro” imolado que venceu a morte e que trouxe aos homens e mulheres a libertação definitiva; em contexto litúrgico, o autor põe a criação inteira a manifestar diante do “cordeiro” vitorioso a sua alegria e o seu louvor.
A mensagem final do Livro do Apocalipse pode resumir-se na frase: “não tenhais medo, pois, a vossa libertação está a chegar”. É uma mensagem “eterna”, que revigora a nossa fé, que renova a nossa esperança e que fortalece a nossa capacidade de enfrentar a injustiça, o egoísmo, o sofrimento e o pecado. Diante deste “cordeiro” vencedor, que nos trouxe a libertação, os cristãos vêem renovada a sua confiança nesse Deus salvador e libertador em quem acreditam. Celebra Cristo, aquele que venceu a morte, que ressuscitou, que nos apresentou o plano libertador de Deus em nosso favor e que, hoje, continua a dar sentido aos nossos dramas e aos nossos sofrimentos, a iluminar a história humana com a luz de Deus. 

O Evangelho apresenta os discípulos em missão, continuando o projeto libertador de Jesus; mas avisa que a ação dos discípulos só será coroada de êxito se eles souberem reconhecer o Ressuscitado junto deles e se deixarem guiar pela sua Palavra.
O texto está claramente dividido em duas partes. A primeira parte é uma parábola sobre a missão da comunidade. Utiliza a linguagem simbólica e tem caráter de “signo”. Começa por apresentar os discípulos: são sete. Representam a totalidade, “sete” da Igreja, empenhada na missão e aberta a todas as nações e a todos os povos. Esta comunidade é apresentada a pescar: sob a imagem da pesca, os evangelhos representam a missão que Jesus confia aos discípulos; libertar todos os homens e mulheres que vivem mergulhados no mar do sofrimento e da escravidão. Pedro preside à missão: é ele que toma a iniciativa; os outros seguem-no incondicionalmente. Aqui faz-se referência ao lugar proeminente que Pedro ocupava na animação da Igreja primitiva. A pesca é feita durante a noite. A noite é o tempo das trevas, da escuridão: significa a ausência de Jesus, “enquanto é de dia, temos de trabalhar, realizando as obras daquele que Me enviou: aproxima-se a noite, quando ninguém pode trabalhar; enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo”. O resultado da ação dos discípulos, de noite, sem Jesus, é um fracasso total: “sem Mim, nada podeis fazer”.
A chegada da manhã, da luz, coincide com a presença de Jesus, Ele é a luz do mundo. Jesus não está com eles no barco, mas sim em terra: Ele não acompanha os discípulos na pesca; a sua ação no mundo exerce-se por meio dos discípulos. Concentrados no seu esforço inútil, os discípulos nem reconhecem Jesus quando Ele Se apresenta. O grupo está decepcionado pelo fracasso, posto em evidência pela pergunta de Jesus: “tendes alguma coisa de comer?”. Mas Jesus dá-lhes indicações e as redes enchem-se de peixes: o fruto deve-se à docilidade com que os discípulos seguem as indicações de Jesus. Acentua-se que o êxito da missão não se deve ao esforço humano, mas sim à presença viva e à Palavra do Senhor ressuscitado. O surpreendente resultado da pesca faz com que um discípulo o reconheça. Este discípulo – o discípulo amado – é aquele que está sempre próximo de Jesus, em sintonia com Jesus e que faz, de forma intensa, a experiência do amor de Jesus: só quem faz essa experiência é capaz de ler os sinais que identificam Jesus e perceber a sua presença por detrás da vida que brota da ação da comunidade em missão. Os pães com que Jesus acolhe os discípulos em terra são um sinal do amor, do serviço, da solicitude de Jesus pela sua comunidade em missão no mundo: deve haver aqui uma alusão à Eucaristia, ao pão que Jesus oferece à vida com que Ele continua a alimentar a comunidade em missão. O número dos peixes apanhados na rede (153), para os naturalistas antigos distinguiam 153 espécies de peixes: assim, o número faria alusão à totalidade da humanidade, reunida na mesma Igreja. Em qualquer caso, significa totalidade e universalidade.
Na segunda parte do texto, Pedro confessa por três vezes o seu amor a Jesus, durante a paixão, o mesmo discípulo negou Jesus por três vezes, recusando dessa forma “embarcar” com o “mestre” na aventura do amor que se faz dom. Pedro – recordemo-lo – foi o discípulo que, na última ceia, recusou que Jesus lhe lavasse os pés porque, para ele, o Messias devia ser um rei poderoso, dominador, e não um rei de serviço e de dom da vida. Nessa altura, ao raciocinar em termos de superioridade e de autoridade, Pedro mostrou que ainda não percebera que a lei suprema da comunidade de Jesus é o amor total, o amor que se faz serviço e que vai até à entrega da vida. Jesus disse claramente a Pedro que quem tem uma mentalidade de domínio e de autoridade não tem lugar na comunidade cristã. A tríplice confissão de amor pedida a Pedro por Jesus corresponde, portanto, a um convite a que ele mude definitivamente a mentalidade. Pedro é convidado a perceber que, na comunidade de Jesus, o valor fundamental é o amor; não existe verdadeira adesão a Jesus, se não se estiver disposto a seguir esse caminho de amor e de entrega da vida que Jesus percorreu. Só assim Pedro poderá “seguir” Jesus. Ao mesmo tempo, Jesus confia a Pedro a missão de presidir à comunidade e de animá-la; de ser o pastor das suas ovelhas; convida-o também a perceber onde é que reside, na comunidade cristã, a verdadeira fonte da autoridade: só quem ama muito e aceita a lógica do serviço e da doação da vida poderá presidir à comunidade de Jesus.
Assim, é preciso ter a consciência nítida de que o êxito da missão cristã não depende do esforço humano, mas da presença viva do Senhor Jesus; consciência também da solicitude e do amor do Senhor que, continuamente, acompanha os nossos esforços, os anima, os orienta e que conosco reparte o pão da vida. Quando o cansaço, o sofrimento, o desânimo tomarem posse de nós, Ele lá estará dando-nos o alimento que nos fortalece. É necessário ter consciência da sua constante presença, amorosa e vivificadora ao nosso lado e celebrá-la na Eucaristia.
Desta forma, a figura do “discípulo amado”, que reconhece o Senhor nos sinais de vitalidade que brotam da missão comunitária, convida-nos a ser sensíveis aos sinais de esperança e de vida nova que acontecem à nossa volta e a ler neles a presença salvadora e vivificadora do Ressuscitado. Ele está presente, vivo e ressuscitado, em qualquer lado onde houver amor, partilha, doação que geram vida nova. Jesus Cristo não tem mais necessidade de dizer quem Ele é… Eles sabem que Ele é o Senhor. Assim seja! Amém.

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