Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo fala-nos de opções. Recorda-nos que a nossa existência pode ser vivida
a perseguir valores efêmeros e estéreis, ou a apostar nesses valores eternos
que nos conduzem à vida definitiva, à realização plena. Cada homem e cada
mulher têm, dia a dia, de fazer a sua escolha.
Na
primeira leitura, Josué convida as tribos de Israel reunidas em Siquém a
escolherem entre “servir o Senhor” e servir outros deuses. O Povo escolhe
claramente “servir o Senhor”, pois viu, na história recente da libertação do
Egito e da caminhada pelo deserto, como só Javé pode proporcionar ao seu Povo a
vida, a liberdade, o bem estar e a paz.
A
resposta do Povo é a esperada. Todos manifestam a sua intenção de servir o
Senhor, em resposta à sua ação libertadora e à sua proteção ao longo da caminhada
pelo deserto. Israel compromete-se a renunciar a outros deuses e a fazer de
Javé o seu Deus, pois, só em Deus pode encontrar a liberdade e a vida em
plenitude.
Na
segunda leitura, Paulo diz aos cristãos de Éfeso que a opção por Cristo tem
consequências também ao nível da relação familiar. Para o seguidor de Jesus, o
espaço da relação familiar tem de ser o lugar onde se manifestam os valores de
Jesus, os valores do Reino. Com a sua partilha de amor, com a sua união, com a
sua comunhão de vida, o casal cristão é chamado a ser sinal e reflexo da união
de Cristo com a sua Igreja.
O
Evangelho coloca diante dos nossos olhos dois grupos de discípulos, com opções
diversas diante da proposta de Jesus. Um dos grupos, prisioneiro da lógica do
mundo, tem como prioridade os bens materiais, o poder, a ambição e a glória;
por isso, recusa a proposta de Jesus. Outro grupo, aberto à ação de Deus e do
Espírito, está disponível para seguir Jesus no caminho do amor e do dom da
vida; os membros deste grupo sabem que só Jesus tem palavras de vida eterna. É
este último grupo que é proposto como modelo aos crentes de todos os tempos.
O
Evangelho divide-se em duas partes. A primeira descreve o protesto de um grupo
de discípulos face às exigências de Jesus; a segunda apresenta a resposta dos
Doze à proposta que Jesus faz. Estes dois grupos - os “muitos discípulos” da
primeira parte e os “Doze” da segunda parte representam duas atitudes distintas
face a Jesus e às suas propostas.
Para
os “discípulos” de que se fala na primeira parte do nosso texto, a proposta de
Jesus é inadmissível, excessiva para a força humana. Eles não estão dispostos a
renunciar aos seus próprios projetos de ambição e de realização humana, a
embarcar com Jesus no caminho do amor e da entrega, a fazer da própria vida um
serviço e uma partilha com os irmãos. Esse caminho parece-lhes, além de
demasiado exigente, um caminho ilógico. Confrontados com a radicalidade do
caminho do Reino, eles não estão dispostos a arriscar.
Na
resposta à objecção desses “discípulos”, Jesus assegura-lhes que o caminho que
propõe não é um caminho de fracasso e de morte, mas é um caminho destinado à
glória e à vida eterna. A “subida” do Filho do Homem, após a morte na cruz,
para reentrar no mundo de Deus, será a “prova provada” de que a vida oferecida
por amor conduz à vida em plenitude. Esses “discípulos” não estão dispostos a
acolher a proposta de Jesus porque raciocinam de acordo com uma lógica humana,
a lógica da “carne”; só o dom do Espírito possibilitará aos crentes perceber a
lógica de Jesus, aderir à sua proposta e seguir Jesus nesse caminho do amor e
da doação que conduz à vida. A sua adesão a Jesus é apenas exterior e
superficial. Jesus tem consciência clara dessa realidade. Ele sabe até que um
dos “discípulos” O vai trair e entregar nas mãos dos líderes judaicos. De
qualquer forma, Jesus encara a decisão dos discípulos com tranquilidade e
serenidade. Ele não força ninguém; apenas apresenta a sua proposta – proposta
radical e exigente – e espera que o “discípulo” faça a sua opção, com toda a
liberdade.
Em
última análise, a vida nova que Jesus propõe é um dom de Deus, oferecido a
todos os homens e mulheres. O termo deste movimento que o Pai convida o
“discípulo” a fazer é o encontro com Jesus e a adesão ao seu projeto.
A
primeira parte da cena termina com a retirada de “muitos discípulos”. O
programa exposto por Jesus, que exige a renúncia às lógicas humanas de ambição
e de realização pessoal, é recusado… Esses “discípulos” mostram-se
absolutamente indisponíveis para percorrer o caminho de Jesus.
Confirmada
a deserção desses “discípulos”, Jesus pede ao grupo mais restrito dos “Doze”
que façam a sua escolha: “também vós quereis ir embora?” Repare-se que Jesus
não suaviza as suas exigências, nem atenua a dureza das suas palavras… Ele está
disposto a correr o risco de ficar sem discípulos, mas não está disposto a
prescindir da radicalidade do seu projeto. Não é uma questão de teimosia ou de
não querer dar o braço a torcer; mas Jesus está seguro que o caminho que Ele
propõe – o caminho do amor, do serviço, da partilha, da entrega – é o único
caminho por onde é possível chegar à vida plena… Por isso, Ele não pode mudar
uma vírgula ao seu discurso e à sua proposta. O caminho para a vida em
plenitude já foi claramente exposto por Jesus; resta agora aos “discípulos”
aceitá-lo ou rejeitá-lo.
Confrontados
com esta opção fundamental, os “Doze” definem claramente o caminho que querem
percorrer: eles aceitam a proposta de Jesus, aceitam segui-l’O no caminho do
amor e da entrega. Quem responde em nome do grupo é Simão Pedro: “Para quem
iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. A comunidade reconhece,
pela voz de Pedro, que só no caminho proposto por Jesus encontra vida
definitiva. Os outros caminhos só geram vida efémera e parcial e, com
frequência, conduzem à escravidão e à morte; só no caminho que Jesus acabou de
propor e que “muitos” recusaram se encontra a felicidade duradoura e a
realização plena do ser humano.
É
porque reconhece em Jesus o único caminho válido para chegar à vida eterna que
a comunidade dos “Doze” adere ao que Ele propõe: “cremos”. A “fé”, adesão a
Jesus, traduz-se no seguimento de Jesus, na identificação com Ele, no compromisso
com a proposta que Ele faz: “comer a carne e beber o sangue” que Jesus oferece
e que dão a vida eterna.
A
resposta posta na boca de Pedro é precisamente a resposta da comunidade, que
vive a sua fé e o seu compromisso cristão em condições difíceis e que, por
vezes, tem dificuldade em renunciar à lógica do mundo e apostar na radicalidade
do Evangelho de Jesus, é convidada a dar: “Senhor, as tuas propostas nem sempre
fazem sentido à luz dos valores que governam o nosso mundo; mas nós estamos
seguros de que o caminho que Tu nos indicas é um caminho que leva à vida
eterna. Queremos escutar as tuas palavras, identificar-nos contigo, viver de
acordo com os valores que nos propões, percorrer contigo esse caminho do amor e
da doação que conduz à vida eterna… Estamos prontos a fazer o ato de fé de
Pedro: “Senhor, para quem iremos nós?” Tudo
à luz do acontecimento central da Morte e Ressurreição, celebrado na
Eucaristia! Aí está o centro da nossa fé, onde tudo se decide! Quando
comungamos o corpo e o sangue de Cristo, dizemos: “Amém! Uma fé celebrada na
Eucaristia a marcar toda a nossa existência… Não há meios-termos, pois, “Só Tu tens Palavras de Vida Eterna”! Assim seja! Amém.
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