Irmãos
e irmãs,
Na
alegria do encontro, para celebrar nossa vida de comunidade, nossa fé no
Ressuscitado, celebramos às duas colunas da Igreja: São Pedro e São Paulo,
assim como o Dia do Papa, renovando o nosso compromisso de fé em Cristo.
A
Leitura dos Atos dos Apóstolos traz reflexão a partir da libertação de Pedro da
prisão, e o fez sob o poder e a proteção divina. Acontece com Pedro mesmo que
acontecera com Jesus. Assim como o Pai libertou Jesus da morte, o anjo do
Senhor liberta Pedro da prisão. É na fé que percebemos a ação de Deus em nossa
vida como Pedro. A verdadeira fé nos leva a esse reconhecimento “agora sei que
Deus enviou-me o seu anjo que me libertou dos meus inimigos”.
Paulo
revela-nos um trecho de despedida e uma espécie de testamento próprio: “já fui
oferecido em libação e chegou o tempo de minha partida”. A morte de Paulo é um
fato transcendental porque é assumida e vivida à luz da fé. O tom de
generosidade, serenidade, confiança absoluta e plena consciência com que o
apóstolo Paulo se coloca diante da morte iminente exprime sua vida como um todo.
Paulo
não anunciou o Evangelho só para pregação, mas a sua pessoa é testemunho vivo,
fidedigno e convincente da Boa Nova da cruz. Esse falar sublime de si mesmo,
quase perdendo de vista sua condição humana, possui plena consciência de que o
que fez não foi ele que realizou, mas o Cristo que nele vive e por quem ele
vive. A vida do Apóstolo Paulo é referência do que o Evangelho pode realizar na
vida do Cristão.
No
Evangelho, Mateus apresenta Jesus pergunta a seus discípulos quem as pessoas
pensam que ele é, e os discípulos lhe respondem: João Batista, outros que é
Elias, Jeremias ou algum dos antigos profetas. Jesus então dirige a pergunta
aos próprios discípulos: “É vós, quem dizeis que eu sou”?
É
de fundamental importância essa pergunta para a vida cristã. Cada batizado,
discípulo de Jesus precisa se perguntar: “Quem é Jesus para mim”? A resposta de
Pedro é: “Tu és o Messias, o Cristo, o Filho de Deus Vivo”. Esta verdadeira
confissão de fé, que Pedro faz em nome de todos, é a pedra fundamental sobre a
qual Cristo edifica a sua igreja, isto é, comunidade daqueles que creem acesso
pleno ao Reino do Céu; revelada pelo próprio Pai do Céu.
A
pergunta feita por Jesus, aos seus discípulos, continua a ecoar, ainda hoje,
nos ouvidos de cada um de nós que o seguimos: “Quem sou eu, para você”? Ser
cristão é responder a esta pergunta e gastar a vida inteira confrontando e
purificando, continuamente, a própria resposta, no seguimento do Filho de Deus
feito homem. Nós, que nos declaramos cristãos, como vivemos o testemunho de
Jesus em meio aos conflitos da nossa sociedade? Acreditamos ser responsáveis
pela continuação do projeto de Deus?
O
apóstolo Pedro, que fala em nome do grupo, consegue fazer a transição, do
Messias Histórico e Ideológico, para o Messias Espiritual, ele não era enviado
por Deus, mas sim o próprio Deus. O que Jesus falava e fazia, todos viam, e a
partir disso embalavam o sonho e a esperança de dias melhores para o povo de
Israel, mas sempre em uma perspectiva terrena.
A
confissão de Pedro manifesta pela primeira vez no meio do grupo, a Fé em uma
Salvação que supera toda e qualquer realização humana, onde o homem atinge a
plenitude do seu ser, divinizando aquilo que é humano. Cesaréia de Filipe é
terra de pagãos, cercado por rochas sobre as quais há edificações habitadas
pela elite do império romano. A igreja de Cristo está no meio do mundo, porém
edificada sobre a fé professada por toda comunidade, que tem como base a fé
professada por Pedro.
A
confiança que Jesus depositou em Pedro decorreu do fato de ter sido objeto da
predileção divina. Sua confissão de fé - "Tu és o Cristo!" - não
resultou de sabedoria humana, nem tampouco do empenho pessoal para
reconhecê-lo. Foi, sim, obra da revelação do Pai. E ele, na certa, continuará a
inspirá-lo e revelar-lhe a identidade do Messias Jesus. Enquanto a multidão
divaga e tem extrema dificuldade em apreender o mistério que se oculta sob a
pessoa do Rabi da Galileia, o velho pescador – sem nenhum apoio em sua própria e
limitada natureza humana – recebe do Espírito Santo as luzes interiores necessárias
para identificar seu Mestre como o Messias esperado por Israel. E vai muito
além: Jesus é o Filho de Deus!
É
suficiente para que Jesus defina o Apóstolo Pedro como a “rocha”, equivalente
ao latim petra, Petrus. Se Jesus é a verdadeira “pedra angular”, ele deixará a
Pedro como a “rocha” da Igreja, seu corpo místico. A profissão de fé de Pedro é
suficiente para que o Senhor o coloque à frente da Igreja. Vale notar que o
Evangelho de São João registra esta “missão” petrina desde o primeiro encontro
com o Mestre.
O
símbolo das “chaves” aponta para uma faculdade ou poder que Jesus Cristo
entrega nas mãos de sua Igreja, centrada na figura de Pedro: ligar e desligar,
fechar e abrir. Após a ressurreição, Jesus Cristo será ainda mais claro,
referindo-se ao poder de perdoar ou não os pecados. Com as “chaves” nas mãos,
os herdeiros do ministério apostólico poderão abrir os tesouros de Cristo
confiados à Igreja e distribuí-los entre os fiéis. Ao cortar os laços que os
prendem ao pecado, com a absolvição, reconciliam os pecadores com a Igreja.
Podem também definir quem está ligado, ou não, ao corpo de Cristo. Obviamente,
não se trata de um poder discricionário, a ser desempenhado com arbítrio e
despotismo. Ao contrário, o “poder das chaves” constitui um permanente serviço
à Igreja e à humanidade, alvos do amor entranhado do próprio Senhor.
Pedro
recebeu de Jesus o encargo de confirmar os irmãos na fé, de ser a pedra sobre a
qual foi construída a Igreja que professa: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. O
apóstolo Paulo é considerado o primeiro grande missionário da Igreja. Ele viaja
pelo mundo pregando o Evangelho e formando comunidades de fé. O Papa, sucessor
de Pedro, tem como missão cuidar da Igreja, povo de Deus, para que ela
permaneça unida e fiel a Jesus Cristo, sendo discípula missionária.
A
Festa de São Pedro e São Paulo, que celebramos nesse domingo, nos faz pensar na
origem de nossas comunidades. Como tudo começou? Quando foi a primeira
celebração, quem fez? Como é que a comunidade cresceu e se desenvolveu para
chegar aos dias de hoje? Uma coisa é muito certa: o fundador ou fundadores
devem ter feito uma experiência muito profunda com Jesus Cristo, pois sem isso,
a comunidade não teria um alicerce, alguém em quem apoiar-se para poder crescer
e cumprir a sua missão.
Paulo
foi tão marcante na vida das comunidades, que esse apóstolo é mencionado como o
segundo fundador da nossa Igreja. Paulo não ficou só na mística, sistematizou
alguns pontos doutrinários importantes, organizou as comunidades que havia
iniciado, e o mais bonito, mesmo pensando um pouco diferente do Chefe dos
Apóstolos, manteve-se firme em comunhão com ele e os irmãos da Igreja de
Jerusalém, com quem aliás, sempre foi solidário, ao organizar coletas que
levava para a Igreja mãe.
São
Paulo é o modelo fiel do cristão autêntico, que faz a experiência com Jesus, se
encanta com o seu ensinamento, desfaz o seu projeto de vida por causa dele e
torna-se um fiel seguidor do evangelho, dando por ele a própria vida como
aconteceu em seu martírio. São Paulo sempre acreditou nas comunidades, mesmo
quando havia indícios de desunião, problemas internos, acreditava nas pessoas.
Outra coisa importante na pessoa de Paulo, é que ele promoveu uma ação
evangelizadora em ambiente hostil á Cristo e ao seu evangelho, era corajoso e
nunca teve medo de anunciar a Verdade.
Isso
nos leva a pensar que muitas vezes somos acomodados, quando ficamos esperando
que as pessoas venham procurar nossa pastoral ou movimento, parece que a gente
não se sente seguro para falar do evangelho no meio do mundo, lá onde as
pessoas precisam escutar esse anúncio, porque achamos que não vão gostar e que
algumas vão ser contra. Se São Paulo pensasse assim, milhares de pessoas, ontem
e hoje, não teriam conhecido a Jesus.
São
Pedro é chamado o príncipe dos apóstolos, isso é, aquele que iniciou o apostolado,
e vemos no evangelho de hoje, porque o próprio Cristo o constituiu chefe da sua
igreja. Ele conseguiu enxergar em Jesus algo muito mais do que se falava, o
povo via nele um Messias Profeta, comparável a João Batista ou a Elias, outro
grande profeta na História de Israel, mas esse pensamento era fruto de uma
ideologia, e a era messiânica que todos aguardavam com ansiedade, representava
uma nova política, uma inversão do quadro, o Messias era um libertador
Político, enviado por Deus sim, porém, com uma missão terrena.
A
troca do nome de Simão para Pedro é, por isso, carregado de simbolismo. Nele se
concentravam as expectativas do Mestre, a respeito da futura comunidade de
discípulos. E, também, era uma clara demonstração da confiança que nele
depositava. Mesmo conhecendo o caráter impetuoso de Pedro, e sua tendência a
vacilar nos momentos de dificuldade, Jesus o escolheu para guia da comunidade.
Sobre ele podia ser edificada, com firmeza, a Igreja!
Os
apóstolos de Jesus marcaram a espiritualidade e o estilo de vida de nossa
Igreja. Suas vidas são lugares privilegiados de encontro com Jesus Cristo. Seu
testemunho se mantém atual e seus ensinamentos inspiram o ser e a ação das
comunidades cristãs. Entre eles, Pedro o apóstolo, a quem Jesus confiou a
missão de confirmar a fé de seus irmãos, nos ajuda a estreitar o vínculo de
comunhão com o Papa, seu sucessor, e a buscar em Jesus as palavras de vida
eterna. As contínuas prisões de Pedro fazem-no prolongar a paixão de Jesus.
Convertido, Paulo, o evangelizador incansável, persegue os cristãos sem saber
que, perseguidos, eles revivem a paixão do Mestre; Paulo se torna o maior
propagador do Evangelho de Cristo, nos indica o caminho da audácia missionária
e a vontade de se aproximar de cada realidade cultural com a Boa Nova do Senhor
Jesus.
Reconhecer
Jesus é ser um bem-aventurado, através dele o cristão mergulha no projeto de
Deus realizado em Jesus. . Ninguém chega a entender “quem é Jesus” a não ser
mediante o compromisso com a justiça do Reino; torna-se importante lembrar o
ensinamento de Jesus sobre o discipulado: Ele “não veio para ser servido, mas
para servir”. Portanto: “ai de mim se eu não evangelizar!” Assim, herdeiros da
experiência de discípulos, missionários, testemunhas e mártires, chamados a
assumir e encarnar Jesus em nossas vidas. Com o Espírito de fé no testemunho
apostólico, como Pedro e Paulo, fazei-nos sensíveis para acolher a revelação do
Pai e reconhecer Jesus como "o Filho de Deus Vivo". Assim seja! Amém.
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