Este
Santo Domingo leva-nos à manifestação de Jesus como "a luz" que atrai
a Si todos os povos da terra. Essa "luz" incarnou na nossa história,
a fim de iluminar os caminhos dos homens com uma proposta de
salvação/libertação.
A
primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Javé, que alegrará
Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo. Inspirado, sem
dúvida, pelo sol nascente que ilumina as belas pedras brancas das construções
de Jerusalém e faz a cidade transfigurar-se pela manhã, o profeta anuncia a
chegada da luz salvadora de Deus, que dará à cidade um novo rosto. Essa luz
nova, que a presença salvadora de Deus trará à sua cidade, vai concentrar nela
os olhares de todos os que esperam a salvação. Como consequência, Jerusalém
será abundantemente repovoada, com o regresso de muitos "filhos" e
"filhas" e os povos convergirão para Jerusalém, inundando-a de riquezas
e cantando os louvores de Deus.
A
segunda leitura apresenta o projeto salvador de Deus como uma realidade que vai
atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de
irmãos - a comunidade de Jesus. A Paulo, apóstolo como os Doze, também foi
revelado "o mistério". É esse "mistério" que aqui Paulo
desvela aos crentes da Ásia Menor.
Em
que consiste o mistério desvelado por Paulo? Consiste na constatação de que, em
Jesus Cristo, chegou a salvação definitiva para os homens; e essa salvação não
é exclusivamente para os judeus, mas destina-se a todos os povos da terra, sem
exceção. Percebemos, assim, porque é que Paulo se fez o arauto da boa nova de
Jesus entre os pagãos ... Agora, judeus e gentios são membros de um mesmo e
único "corpo", o "corpo de Cristo" ou "Igreja",
partilham o mesmo projeto salvador que os faz, em igualdade de circunstâncias,
"filhos de Deus" e todos participam da promessa feita por Deus a
Abraão - promessa cuja realização Cristo trouxe para todos nós.
No
Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os
"Magos", atentos aos sinais da chegada do Messias, que O aceitam como
"salvação de Deus" e O adoram. A salvação, rejeitada pelos habitantes
de Jerusalém, torna-se agora uma oferta universal.
Notemos,
em primeiro lugar, a insistência de Mateus no fato de Jesus ter nascido em Belém
de Judá. Para entender esta insistência temos de recordar que Belém era a terra
natal do rei David. Afirmar que Jesus nasceu em Belém é ligá-l'O a esses
anúncios proféticos que falavam do Messias como o descendente de David que
havia de nascer em Belém e restaurar o reino ideal de seu pai. Com esta nota,
Mateus quer aquietar aqueles que pensavam que Jesus tinha nascido em Nazaré e
que viam nisso um obstáculo para O reconhecerem como Messias.
Em
segundo lugar, a referência a uma estrela "especial" que apareceu no
céu por esta altura e que conduziu os "Magos" para Belém. A
interpretação desta referência como indicação histórica levou alguém a cálculos
astronômicos complicados para concluir que, no ano 6 a.C., uma conjunção de
planetas explicaria o fenômeno luminoso da estrela refulgente mencionada por
Mateus; outros andaram à procura do cometa que, por esta época, devia ter
sulcado os céus do Médio Oriente ... Na realidade, não podemos entender esta
referência como histórica, mas antes como catequese sobre Jesus. Segundo a
crença popular, o nascimento de uma personagem importante era acompanhado da
aparição de uma nova estrela. Também a tradição judaica anunciava o Messias
como a estrela que surge de Jacob. É com estes elementos que a imaginação de
Mateus, posta ao serviço da catequese. Mateus está, sobretudo, interessado em
fornecer aos cristãos da sua comunidade argumentos seguros para rebater aqueles
que negavam que Jesus era o Messias esperado.
Temos,
ainda, as figuras dos "Magos". A palavra grega "mágos",
usada por Mateus, abarca um vasto leque de significados e é aplicada a
personagens muito diversas: mágicos, feiticeiros, charlatães, sacerdotes
persas, propagandistas religiosos ... Aqui, poderia designar astrólogos mesopotâmios,
entrados em contato com o messianismo judaico. Seja como for, esses
"Magos" representam, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros
de que falava a primeira leitura, que se põem a caminho de Jerusalém com as
suas riquezas, ouro e incenso, para encontrar a luz salvadora de Deus que
brilha sobre a cidade. Jesus é na opinião de Mateus e da catequese da Igreja
primitiva, essa luz.
Além
de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma precisa, duas
atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o povo de Israel
rejeita Jesus, enquanto que os "Magos" do oriente, que são pagãos, O
adoram; Herodes e Jerusalém "ficam perturbados" diante da notícia do
nascimento de Jesus e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma
grande alegria e reconhecem-n'O como o seu Senhor.
Mateus
anuncia, aqui, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu povo; mas vai ser acolhido
pelos pagãos, que entrarão a formar parte do novo Povo de Deus. O itinerário
seguido pelos "Magos" reflete o processo que os pagãos seguiram para
encontrar Jesus: estão atentos aos sinais - estrela, percebem que Jesus traz a
salvação, põem-se decididamente a caminho para O encontrar, perguntam aos
judeus - que conhecem as Escrituras - o que fazer, encontram Jesus e
adoram-n'O.
A
festa da Epifania, revela a bondade do Deus que deseja salvar a todos. Na
pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus se revelou a todas as nações que, no
futuro, seriam iluminadas pela luz da Fé. É o reconhecimento público da
divindade do Menino Jesus.
Desta
forma, celebrando a manifestação de Jesus a todos os homens e mulheres… A
alegria invade cada coração, brotando da consciência de terem seguido a voz da
estrela, Jesus, “luz” que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os
povos da terra. Cumprindo o projeto libertador que o Pai nos queria oferecer,
essa “luz” encarnou na nossa história, ilumina os nossos caminhos, conduze-nos
ao encontro da salvação, da vida definitiva.
Epifania
é um convite para sermos gratos ao Senhor, o que movia os Reis Magos era o
desejo de prestar culto de adoração Àquele que acabara de nascer. A ação do
Espírito Santo, levando-os a Belém, ampara-se no chamado universal de todas as
nações à salvação e à participação nos bens da Redenção. Se no Natal Deus se
manifesta como Homem, na Epifania esse mesmo Homem se revela como Deus, em
sintonia com a salvação que é oferecida a todos, por Jesus, nossa estrela-guia.
Neste sentido, neste início de Ano, a festa da Epifania convida a cada um de
nós, interpretar os sinais de Deus e comunicá-los aos outros a fim de
construirmos uma sociedade justa e fraterna. Seguindo a Estrela, Jesus, luz que
brilha em nós e para nós. Assim seja! Amém.
Obs.: Queridos amigos (as) com os quais nosso blog tem uma relação dialógica. Informo que, por dificuldades de acesso a rede não conseguimos publicar ontem o comentário da liturgia. Assim, segue hoje, desejando uma ótima semana a todos na Graça do Pai...e de nossa estrela-guia.
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