Este Santo Domingo
revela-nos o Batismo de Jesus às margens do Jordão, apresenta-nos o Filho amado
de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar
os homens. Cumprindo o projeto do Pai, Jesus fez-Se um de nós, partilhou a
nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado,
empenhou-Se em promover-nos para que pudéssemos chegar à vida plena.
A
primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado
aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Animado pelo
Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade,
sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são
os de Deus. O “Servo” atuará com simplicidade, sem nada impor e sem desanimar
perante as dificuldades da missão.
Explicitando
melhor a missão do “Servo”, Deus convida-o a ser “a luz das nações” e, em
concreto, a abrir os olhos aos cegos, a tirar do cárcere os prisioneiros e da
prisão os que habitam nas trevas. É, portanto, uma missão de libertação e de
salvação. O “Servo” contará com a ajuda do Espírito de Deus, que lhe dará a
força de assumir a missão e de a concretizar.
A
segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo
para concretizar um projeto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo
fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho
que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a
todos os povos da terra.
Cristo
veio trazer a “boa nova da paz” – salvação - a todos os homens; e agora, por
intermédio das testemunhas de Jesus, essa proposta de salvação que o Pai faz
chega “a qualquer nação que o teme e põe em prática a justiça” – ou seja, a
todo o homem e mulher, sem distinção de raça, de cor, de estatuto social, que
aceita a proposta e adere a Jesus.
No
Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética veiculada pela
primeira leitura: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa
o Espírito, e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao
Pai, Ele tornou-se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens,
caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com
Deus, à vida em plenitude.
A
figura e a atividade de João fazem que surjam conjecturas sobre o seu possível
messianismo. Será João esse “ungido de Deus” - “messias”, cuja missão é
libertar Israel da dominação estrangeira e assegurar ao Povo de Deus vida em
abundância e paz sem fim?
João
rejeita, de forma categórica, essa possibilidade. Ele não é o “messias”; a sua
missão é, apenas, preparar o Povo para esse tempo novo que vai começar com a
chegada do verdadeiro “messias”. O “messias” que “vai chegar” é definido por
João como “aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno desatar as
correias das sandálias. A imagem utilizada define, pois, João como um “escravo”
cuja missão é estar ao serviço desse “messias” que está para chegar. O
“messias”, além de ser “mais forte” do que João, irá “batizar com o Espírito e
com o fogo”. Tanto a fortaleza, como o batismo no Espírito, são prerrogativas
que caracterizam o Messias que Israel esperava. O testemunho de João não
oferece dúvidas: chegou o tempo do “messias”, o tempo da libertação que os
profetas anunciaram, o tempo em que o Povo de Deus irá receber o Espírito. Na
perspectiva de Lucas, esta “profecia” de João concretizar-se-á no dia de
Pentecostes: o “fogo” do “messias”, derramado sobre os discípulos reunidos no
cenáculo, fará nascer um Povo novo e livre, a comunidade da nova Aliança.
A
cena do “batismo” irá identificar claramente esse “messias” anunciado por João
com o próprio Jesus. O Espírito Santo, que desce sobre Jesus “como uma pomba”,
leva-nos a essa figura de “Servo de Javé” apresentada na primeira leitura, que
recebe o Espírito de Deus para levar “a justiça às nações”. Por outro lado, a
“voz vinda do céu” apresenta Jesus como “o Filho muito amado” de Deus. A missão
de Jesus será, como a do “Servo”, “abrir os olhos aos cegos, tirar do cárcere
os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas”; para concretizar esse projeto,
Ele irá “batizar no Espírito” e inserir as pessoas numa dinâmica de vida nova –
a vida no Espírito.
Na
cena do “batismo” de Jesus, o testemunho de Deus acerca de Jesus é acompanhado
por três factos estranhos que, no entanto, devem ser entendidos em referência a
fatos e símbolos do Antigo Testamento…
Assim,
a abertura do céu significa a união da terra e do céu. Desta forma, Lucas
anuncia que a atividade de Jesus vai reconciliar o céu e a terra, vai refazer a
comunhão entre Deus e os homens. O símbolo da pomba que em certas tradições
judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobre as águas,
evoque a nova criação que terá lugar a partir da atividade que Jesus vai
iniciar. A missão de Jesus é, portanto, fazer aparecer um Homem Novo, animado
pelo Espírito de Deus.
Temos,
finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada para expressar a
opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara
que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse cântico do
“Servo de Javé” que vimos na primeira leitura de hoje… A referência ao Servo de
Javé sugere que a missão de Jesus, o Filho de Deus, não se desenrolará no
triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e
prepotência, mas na suavidade, na simplicidade e no respeito por homens e
mulheres.
Porque
é que Jesus quis ser batizado por João? Jesus necessitava de um batismo cujo
significado primordial estava ligado à penitência, ao perdão dos pecados e à
mudança de vida? Ao receber este batismo de penitência e de perdão dos pecados,
do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado, Jesus solidarizou-Se
com o homem limitado e pecador, assumiu a sua condição, colocou-Se ao lado dos
homens para os ajudar a sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho
da libertação, o caminho da vida plena. Esse era o projeto do Pai, que Jesus
cumpriu integralmente.
A
cena do Batismo de Jesus revela, portanto, essencialmente, que Jesus é o Filho
de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em
favor dos homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano
salvador do Pai; por isso, vem ao nosso encontro, solidariza-Se com eles,
assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e a
humanidade que o pecado havia interrompido e conduz-nos ao encontro da vida em
plenitude.
Com
a festa do Batismo de Jesus terminamos o tempo do Natal, tempo de alegria e
esperança. Deus se faz presente em nosso meio assumindo nossa natureza humana e
nos elevando a uma condição da qual não somos dignos tudo isso por amor, como é
difícil entender o amor de Deus que em sua onipotência nos cria a sua imagem e
semelhança nos dá o mundo material como presente e envia seu único filho para
nos tirar do corredor da morte eterna assumindo nossa humanidade e sendo um,
como nós, nos resgatar para a vida verdadeira em Deus.
Assim,
da atividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará
uma nova criação, uma nova humanidade, batizada e vivificada na fé em Cristo. Desta
forma, olhando para o Batismo de Jesus compreendemos o quanto devemos lutar
para manter a luz de nosso batismo acesa. Assim seja! Amém.
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