Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, vamos juntos
a Nazaré para um encontro com a singular família de José, Maria e Jesus. Jesus,
tendo nascido numa família humana, traz esperança para todas as famílias da
terra. Celebramos a páscoa de Jesus Cristo presente na vida de todas as
famílias, com suas alegrias, sofrimentos, conquistas e conflitos, mas também
com a certeza de que estão sendo sustentadas e guiadas no amor de Deus.
A primeira leitura apresenta, de forma muito
prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais. É uma forma
de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura. O texto apresenta uma
série de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas relações com
os pais.
Reconhecer que os pais são a fonte, através da qual
Deus nos dá a vida, deve conduzir à gratidão; e essa gratidão tem consequências
a nível prático. Implica ampará-los na sua velhice e não os desprezar nem
abandonar; implica assisti-los materialmente – sem inventar qualquer desculpa –
quando já não podem trabalhar; implica não fazer nada que os desgoste; implica
escutá-los, ter em conta as suas orientações e conselhos e como recompensa
desta atitude de “honrar” os pais, Jesus promete o perdão dos pecados, a
alegria, a vida longa e a atenção de Deus.
A segunda leitura sublinha a dimensão do amor que
deve brotar dos gestos de todos os que vivem “em Cristo” e aceitaram ser novo
homem e novam mulher. Esse amor deve atingir, de forma mais especial, todos os
que conosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas
atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
Em termos mais concretos, viver como “homem novo e
mulher nova” implica cultivar um conjunto de virtudes que resultam da união do
cristão com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, paciência, mansidão.
Lugar especial ocupa o perdão das ofensas do próximo, a exemplo do que Cristo
sempre fez. Estas virtudes são exigências e manifestações da caridade, que é o
mais fundamental dos mandamentos cristãos.
Assim, viver “em Cristo” implica viver, como Ele,
no amor total, no serviço, na disponibilidade e no dom da vida. Em suas
orientações, Paulo aplica o que acabou de dizer à vida familiar. É desta forma
que, no espaço familiar, se manifesta Novo, que vive segundo Cristo.
O Evangelho sublinha, sobretudo, a dimensão do amor
a Deus: o projeto de Deus tem de ser a prioridade de qualquer cristão, a
exigência fundamental, a que todas as outras se devem submeter. A família
cristã constrói-se no respeito absoluto pelo projeto que Deus tem para cada
pessoa. A chave deste episódio está, portanto, nas palavras pronunciadas por
Jesus quando, finalmente, se encontra com Maria e José: “porque me procuráveis?
Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?”
O significado da resposta à pergunta de Maria é que
Deus é o verdadeiro Pai de Jesus. Daqui deduz-se que as exigências de Deus são,
para Jesus, a prioridade fundamental, que ultrapassa qualquer outra exigência.
A sua missão – a missão que o Pai Lhe confia – vai obrigá-l’O a romper os laços
com a própria família.
É possível que haja ainda, aqui, uma referência à
paixão/morte/ressurreição de Jesus: tanto o episódio de hoje, como os fatos
relativos à morte/ressurreição, são situados num contexto pascal; em ambas as
situações Jesus é abandonado – aqui por Maria e José e, mais tarde, pelos discípulos
– por pessoas que não compreendem que a sua prioridade é o projeto do Pai; em
ambas as situações, Jesus é procurado e tem de explicar que a finalidade da sua
vida é cumprir aquilo que o Pai tinha definido. Lucas apresenta aqui a chave
para entender toda a vida de Jesus: Ele veio ao mundo por mandato de Deus Pai e
com um projeto de salvação/libertação. Àqueles que se perguntam porque deve o
Messias percorrer determinado caminho, Lucas responde: porque é a vontade do
Pai. Foi para cumprir a vontade do Pai que Jesus veio ao nosso encontro e
entrou na nossa história.
Atentemos, ainda, em duas questões, mas que podem
servir também para a nossa reflexão e edificação: em primeiro lugar, reparemos
no entusiasmo que Jesus tem pela Palavra de Deus e pelas questões que ela
levanta; em segundo lugar, a “declaração de independência” de Jesus pode
ajudar-nos a compreender que a família não é o lugar fechado, onde cada pessoa
cresce em horizontes limitados e fechados, mas é o lugar onde nos abrimos ao
mundo e aos outros, onde nos armamos para partir à conquista do mundo que nos
rodeia. O Evangelho faz com que façamos uma re-leitura dos sinais de graça e
salvação que a Sagrada Família carrega consigo, menino-Jesus, verbo Divino
presente na história terrena.
O Natal que celebramos faz acontecer a vida da
Sagrada Família na vida de nossas famílias que buscam na Palavra e na ação,
viver a santidade que o menino Jesus, aquele que salva, Deus-conosco, anuncia
com sua chegada para sempre em nossas famílias. Bendizemos ao Filho Amado,
Glorias sejam dadas para todo o sempre! O Salvador vive em nosso meio!
Em meio às dificuldades, Maria, José e Jesus escutam sempre a voz que vem de Deus. Há uma certeza, nessa esperança, que se traduz em firmeza, determinação dessa família, que faz a vontade do Pai, perseveram na fé e caminhada.
A Sagrada Família ensina-nos que com seu amor,
superar obstáculos, fé aliada ao desejo de servir ao Pai, comprometimento pleno
com o mundo novo, que se prenuncia em Cristo Jesus. Contemplamos,
experimentamos Deus em nossa família, a exemplo da Sagrada Família. Assim seja! Amém.
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