Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo,
celebramos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo. A Palavra de
Deus que nos é proposta neste último domingo do ano litúrgico convida-nos a
tomar consciência da realeza de Jesus; deixa claro, no entanto, que essa
realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza
que se concretiza de acordo com uma lógica própria, a lógica de Deus.
A
primeira leitura anuncia que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a
ambição, a violência, a opressão que marcam a história dos reinos humanos.
Através de um “filho de homem” que vai aparecer “sobre as nuvens”, Deus vai
devolver à história a sua dimensão de “humanidade”, possibilitando que os
homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade. Os cristãos verão nesse
“filho de homem” vitorioso um anúncio da realeza de Jesus.
Esse
“filho de homem” que há de chegar para instaurar o “reino de Deus” sobre a
terra será o Messias, o “ungido” de Deus. A sua intervenção irá pôr fim à
perseguição dos justos e possibilitar a vitória dos santos sobre as forças da
opressão e da morte. Para os cristãos, Cristo é, efetivamente, esse “filho de
homem” anunciado, que irá libertar os santos das garras do poder opressor e
instaurar o reino definitivo da felicidade e da paz.
Na
segunda leitura, o autor do Livro do Apocalipse apresenta Jesus como o Senhor do
Tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas, o “príncipe dos
reis da terra”, Aquele que há de vir “por entre as nuvens” cheio de poder, de
glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida
e de paz.
Assim,
Jesus é a “testemunha fiel” porque, com a sua vida, com as suas palavras, com
os seus gestos de serviço, de amor e de doação, com a sua entrega até à morte,
testemunhou, de forma perfeita, o que Deus queria revelar aos homens e mostrou
aos homens o rosto do Deus-amor. Jesus é o “príncipe dos reis da terra”, porque
inaugurou uma nova forma de ser e um reino novo, de vida e de felicidade sem
fim.
Porque
ama, Jesus libertou os homens do egoísmo e do pecado; convidou-nos os a
integrar um reino novo, de amor e de paz; associou homens e mulheres à sua
missão, tornando-os sacerdotes que oferecem a Deus o culto das suas próprias
vidas. Jesus inseriu os homens numa dinâmica de vida nova, aproximou-os de
Deus, convidou-os a integrar a família de Deus. A comunidade cristã, consciente
desta realidade, manifesta no culto o seu reconhecimento; e percebem, também,
que são convidados a fazer de Jesus o centro das suas vidas.
No
Evangelho, João apresenta-nos num quadro dramático, Jesus a assumir a sua
condição de rei diante de Pilatos. A cena revela, contudo, que a realeza
reivindicada por Jesus não assenta em esquemas de ambição, de poder, de
autoridade, de violência, como acontece com os reis da terra. A missão “real”
de Jesus é dar “testemunho da verdade”; e concretiza-se no amor, no serviço, no
perdão, na partilha, no dom da vida.
O
interrogatório de Jesus começa com uma pergunta direta, feita por Pilatos: Tu
és o Rei dos judeus? Este início revela qual era a acusação apresentada pelas
autoridades judaicas contra Jesus: Ele tinha pretensões messiânicas; pretendia
restaurar o reino ideal de David e libertar Israel dos opressores. Esta linha
de acusação vê em Jesus um agitador político empenhado em mudar o mundo pela
força, que fundamenta as suas pretensões e a sua ação no poder das armas e na
autoridade dos exércitos. Esta acusação tem fundamento? Jesus aceita-a?
A
resposta de Jesus situa as coisas na perspectiva correta. Ele assume-se como o
messias que Israel esperava e confirma, claramente, a sua qualidade de rei; no
entanto, descarta qualquer semelhança com esses reis que Pilatos conhece. Os
reis deste mundo apoiam-se na força das armas e impõem aos outros homens o seu
domínio e a sua autoridade; a sua realeza baseia-se na prepotência e na ambição
e gera opressão, injustiça e sofrimento… Jesus, em contrapartida, é um
prisioneiro indefeso, traído pelos amigos, ridicularizado pelos líderes
judaicos, abandonado pelo povo; não se impõe pela força, mas veio ao encontro
dos homens para os servir; não cultiva os próprios interesses, mas obedece em
tudo à vontade de Deus, seu Pai; não está interessado em afirmar o seu poder,
mas em amar os homens até ao dom da própria vida… A sua realeza é de uma outra
ordem, da ordem de Deus. É uma realeza que toca os corações e que, em vez de
produzir opressão e morte, produz vida e liberdade. Jesus é rei e messias, mas
não vai impor a ninguém o seu reinado; vai apenas propor aos homens um mundo
novo, assente numa lógica de amor, de doação, de entrega, de serviço.
A
declaração de Jesus causa estranheza a Pilatos. Ele não consegue entender que
um rei renuncie ao poder e à força e fundamente a sua realeza no amor e na
doação da própria vida. A expressão posta na boca de Pilatos: “então, Tu és
Rei?”, parece uma “deixa” de alguém para quem as declarações do seu
interlocutor não são claras e que conserva a porta aberta a ulteriores
explicações… Na sequência, Jesus confirma a sua realeza e define o sentido e o
conteúdo do seu reinado.
A
realeza de que Jesus Se considera investido por Deus consiste em: “dar testemunho
da verdade”. A “verdade” é a realidade de Deus. Essa “verdade” manifesta-se nos
gestos de Jesus, nas suas palavras, nas suas atitudes e, de forma especial, no
seu amor vivido até ao extremo do dom da vida. A “verdade”, isto é, a realidade
de Deus é o amor incondicional e sem medida que Deus derrama sobre o homem, a
fim de o fazer chegar à vida verdadeira e definitiva. Essa “verdade” opõe-se à
“mentira”, que é o egoísmo, o pecado, a opressão, a injustiça, tudo aquilo que nos
impede de alcançar a vida plena. A “realeza” de Jesus concretiza-se, por um
lado, na luta contra o egoísmo e o pecado que escravizam homens e mulheres, que
os impede de serem livres e felizes; por outro lado, a realeza de Jesus
consuma-se na proposição de uma vida feita amor e entrega a Deus e aos irmãos.
Esta meta não se alcança através de uma lógica de poder e de força; mas
alcança-se através do amor, da partilha, do serviço simples e humilde em favor
dos irmãos. É esse “reino” que Jesus veio propor; é a esse “reino” que Ele preside.
A
proposta de Jesus provoca uma resposta livre da humanidade. Quem escuta a voz
de Jesus adere ao seu projeto e se compromete a segui-l’O, renuncia ao egoísmo
e ao pecado e faz da sua vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. Passa, então,
a integrar a comunidade do “Reino de Deus”.
Caríssimos
em Cristo Rei, Cristo Jesus, plenitude do divino no humano. A humanidade de
Jesus se tornou visível o rosto do Deus invisível. Celebramos com grande
alegria o triunfo de Jesus que de seu rosto fez-se rei, Rei Jesus, rei de
nossas vidas. Celebrando a grande festa do Cristo Rei, ele que veio para
governar nossas vidas pautado no amor, na caridade, na verdade e na justiça,
revela-se no rosto do Cristo vivo o seu poder de grande rei para cada um de
nós.... Que possamos cada vez mais assemelharmo-nos ao nosso rei. Assim seja!
Amém.
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