Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo recorda-nos que a nossa existência pode ser utilizada para perseguir
valores efémeros e estéreis, ou a apostar em valores eternos que nos conduzem à
vida definitiva, à realização plena. Cada homem e cada mulher têm, dia a dia, é
chamada a fazer sua escolha. E neste dia em que celebramos o Dia do Catequista, que à luz da opção dos "doze", vivamos nossa missão de anunciar a boa nova em Cristo Jesus.
Na
primeira leitura, Josué convida as tribos de Israel reunidas a escolherem entre
“servir o Senhor” e servir outros deuses. O Povo escolhe claramente “servir o
Senhor”, pois, na história recente da libertação do Egito e da caminhada pelo
deserto, como só Javé pode proporcionar ao seu Povo a vida, a liberdade, o bem
estar e a paz. Israel compromete-se a renunciar a outros deuses e a fazer de
Javé o seu Deus.
Assim,
todos manifestam a sua intenção em servir ao Senhor, em resposta à sua ação
libertadora e à sua proteção ao longo da caminhada pelo deserto. As ações
salvadoras e libertadoras de Deus em favor de Israel são uma prova mais do que
suficiente do seu poder e da sua fidelidade. Desta forma, a aceitação de Javé
como Deus de Israel é apresentada, não como uma obrigação imposta, mas como uma
opção livre, feita por pessoas que fizeram uma experiência de encontro com Deus,
onde está a sua realização e a sua felicidade; só em Deus pode-se encontrar a
liberdade e a vida em plenitude.
Na
segunda leitura, Paulo escrevendo aos Éfesos, diz aos cristãos que a opção por
Cristo tem consequências também ao nível da relação familiar. Para o seguidor
de Jesus, o espaço da relação familiar tem de ser o lugar onde se manifestam os
valores de Jesus, os valores do Reino. Com a sua partilha de amor, com a sua
união, com a sua comunhão de vida, o casal cristão é chamado a ser sinal e
reflexo da união de Cristo com a sua Igreja.
Cristo
santificou a Igreja, purificando-a “no batismo da água pela palavra da vida”. O
Batismo é o momento em que Cristo oferece a vida plena à sua Igreja e em que a
Igreja se compromete com Cristo numa comunidade de amor. A partir desse
momento, Cristo e a Igreja formam um só corpo… Como Cristo e a Igreja formam um
só corpo, do mesmo modo marido e esposa, comprometidos numa comunidade de amor,
formam um só corpo, feita de um empenho quotidiano na vivência do amor, da
fidelidade e da partilha de toda a existência. Portanto, a vocação dos esposos
é anunciar e testemunhar, com o seu amor e a sua união, o amor de Cristo pela
sua Igreja, pois, a união dos esposos cristãos deve ser, aos olhos do mundo, um
sinal e um reflexo do “mistério” de amor que une Cristo e a Igreja.
No
Evangelho, João apresenta-nos diante dos nossos olhos dois grupos de
discípulos, com opções diversas diante da proposta de Jesus. Um dos grupos,
prisioneiro da lógica do mundo, tem como prioridade os bens materiais, o poder e
a glória; por isso, recusa a proposta de Jesus. Outro grupo – os “doze” aberto
à ação de Deus e do Espírito, está disponível para seguir Jesus no caminho do
amor e do dom da vida; os membros deste grupo sabem que só Jesus tem palavras
de vida eterna. É este último grupo que é proposto como modelo aos crentes de
todos os tempos.
Para
um grupo dos “discípulos”, a proposta de Jesus é inadmissível, excessiva para a
força humana. Eles não estão dispostos a renunciar aos seus próprios projetos
de ambição e de realização humana, a embarcar com Jesus no caminho do amor e da
entrega, a fazer da própria vida um serviço e uma partilha com os irmãos. Esse
caminho parece-lhes, além de demasiado exigente, um caminho ilógico.
Confrontados com a radicalidade do caminho do Reino, eles não estão dispostos a
arriscar. Porém, Jesus assegura-lhes que o caminho que propõe não é um caminho
de fracasso e de morte, mas é um caminho destinado à glória e à vida eterna.
Esses “discípulos” não estão dispostos a acolher a proposta de Jesus porque
raciocinam de acordo com uma lógica humana, a lógica da “carne”; só o dom do
Espírito possibilitará aos crentes perceber a lógica de Jesus, aderir à sua
proposta e seguir Jesus nesse caminho do amor e da doação que conduz à vida.
De
toda forma, Jesus encara a decisão dos discípulos com tranquilidade e
serenidade. Ele não força ninguém; apenas apresenta a sua proposta – proposta
radical e exigente – e espera que o “discípulo” faça a sua opção, com toda a
liberdade. Pois, a vida nova que Jesus propõe é um dom de Deus, oferecido a
todos os homens e mulheres. E se o “discípulo” não está aberto à ação do Pai e
recusa os dons de Deus, não pode integrar a comunidade dos discípulos e seguir
Jesus. Então, ocorre a retirada de “muitos discípulos”, a proposta de Jesus,
que exige a renúncia às lógicas humanas de ambição e de realização pessoal, é
recusado… Esses “discípulos” mostram-se absolutamente indisponíveis para
percorrer o caminho de Jesus.
Confirmada
a desistência desses “discípulos”, Jesus pede ao grupo mais restrito dos “Doze”
que façam a sua escolha: “também vós quereis ir embora?”. Note que Jesus não
suaviza as suas exigências, nem atenua a dureza das suas palavras… Ele está
disposto a correr o risco de ficar sem discípulos, mas não está disposto a
prescindir da radicalidade do seu projeto. Jesus está seguro que o caminho que
Ele propõe – o caminho do amor, do serviço, da partilha, da entrega – é o único
caminho por onde é possível chegar à vida plena. O caminho para a vida em
plenitude já foi claramente exposto por Jesus; aos “discípulos” tem a opção de aceitá-lo
ou rejeitá-lo.
Com
este confronto, os “Doze” definem o caminho que querem percorrer:
eles aceitam a proposta de Jesus, aceitam segui-l’O no caminho do amor e da
entrega. Então, Simão Pedro responde em nome do grupo: “Para quem iremos nós,
Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Portanto, a comunidade reconhece,
pela voz de Pedro, que só no caminho proposto por Jesus encontra vida
definitiva. Os outros caminhos só geram vida efémera e parcial e, com
frequência, conduzem à escravidão e à morte; só no caminho que Jesus acabou de
propor, e que “muitos” recusaram, se encontra a felicidade duradoura e a realização
plena do homem. É porque reconhece em Jesus o único caminho para chegar à vida
eterna que a comunidade dos “Doze” adere ao que Ele propõe. A “fé”, a adesão a
Jesus traduz-se no seguimento de Jesus, na identificação com Ele, no compromisso
com a proposta que Ele faz: “comer a carne e beber o sangue” que Jesus oferece
e que dão a vida eterna.
Neste
sentido, a comunidade que vive a sua fé e o seu compromisso cristão em
condições difíceis e que, por vezes, tem dificuldade em renunciar à lógica do
mundo e apostar na radicalidade do Evangelho de Jesus é convidada a afirmar: “Senhor, estamos seguros de que o caminho que Tu nos indicas é um
caminho que leva à vida eterna. Queremos escutar as tuas palavras,
identificar-nos contigo, viver de acordo com os valores que nos propõe
percorrer contigo esse caminho do amor e da doação que conduz à vida eterna”.
Desta
forma, possamos também continuar a ouvir e a reconhecer o valor de cada palavra
dita por Jesus como Palavra Viva, que faz com que possamos continuar nossa
caminhada rumo ao Céu; afirmando como outrora Pedro
disse em nome do grupo e viver como anunciadores da mensagem inclusiva de
Jesus, transformando, uma realidade que exclui todo aquele que não se enquadra
nos padrões ditos normais, em uma realidade de comunhão e partilha. Vivendo o
Evangelho, a Palavra de Jesus, Palavras de Vida Eterna. Assim seja! Amém.
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